Siga o OTD

Vôlei

Saiba porque o vôlei masculino foi mais afetado que o feminino

Vôlei brasileiro enfrentará temporada diferente devido às crises financeira e do coronavírus. E isso afetou o mercado

O vôlei brasileiro enfrentará um novo mundo na temporada 2020/2021. Com o país vivendo duas crises, financeira e de saúde, o esporte vive um período de incertezas, sem saber quando voltará ao normal ou ao novo normal. A pandemia do coronavírus forçou o fim da Superliga sem um campeão. Com isso, as equipes se viram em um mercado de contratações diferente do usual. Diferença vista também entre feminino e masculino
Com a crise financeira e a pandemia, equipes enfrentam mercado diferente do usual (FIVB/Divulgação)

O vôlei brasileiro enfrentará um novo mundo na temporada 2020/2021. Com o país em duas crises, financeira e de saúde, o esporte vive um período de incertezas, sem saber quando voltará ao normal ou ao novo normal. A pandemia do coronavírus forçou o fim da Superliga sem um campeão. As equipes se viram em um mercado de contratações diferente do usual, diferença vista também entre feminino e masculino.

+ Taubaté e América quitam pendências para jogar Superliga

Com os homens as opções diminuíram. Seja pelo fim do projeto do Sesc, mudança de pensamento para o esporte do Sesi, ou incertezas que alguns times, como Maringá e Ribeirão Preto, têm para a próxima temporada. As opções para jogar caíram no Brasil em relação à última Superliga.

+ Dani Lins renova contrato e segue no Sesi Bauru

Já entre as mulheres o cenário também se alterou, mas de forma menos profunda. Levando em consideração as equipes que estiveram na última Superliga, Flamengo e Sesc se uniram, São Caetano, uma das mais tradicionais, aceitou o convite para jogar a competição nacional em 2020/2021 e, mesmo com diminuição do investimento, seguirão.

Fatores que explicam as diferenças no mercado

Vôlei Brasileiro Mercado Feminino
Lucarelli deixou o país, mais uma amostra das dificuldades do mercado masculino (Ana Patrícia/Inovafoto/CBV)

Em levantamento feito pela reportagem do Olimpíada Todo Dia até esta terça-feira (21), no masculino 40 atletas deixaram o Brasil. Já no feminino, a debandada foi menor, com 13 jogadoras saindo do país. Os números mostram uma diferença significativa na forma que o mercado encara os dois naipes. Quais são os fatores que explicam essa visão distinta no vôlei brasileiro praticado por mulheres em relação aos homens?

+ Clarisse Peixoto é o novo reforço do Porto para a temporada

Na busca por respostas, o OTD entrou em contato com profissionais que vivem o dia a dia da modalidade. “O masculino tem mais atletas e menos times. Além disso, o vôlei é visto como um esporte feminino”, afirmou um dos empresários. “No momento da pandemia, os patrocinadores do feminino foram mais firmes e os grandes clubes continuaram. Já no masculino houve diminuição de times e investimento. O Sesc saiu e o Sesi-SP reduziu investimento”, acrescentou outro agente.

+ Renan Dal Zotto faz 60 anos e recorda trajetória no esporte

Para Eduardo Carreiro, gerente de esportes do Sesi, a diferença na forma de encarar esse momento entre o masculino e o feminino no vôlei pode estar acontecendo por conta de uma fidelidade. “Para mim, as mulheres podem sofrer menos porque eu vejo que os patrocinadores do vôlei feminino são mais fieis do que os do masculino. Com isso, ao invés deles saírem do esporte estão diminuindo o investimento e se mantendo na modalidade”.

Solidez no feminino e rotatividade no masculino

Vôlei Brasileiro Mercado Feminino
O mercado feminino foi menos afetado (Gaspar Nóbrega/Inovafoto/CBV)

Segundo Keyla Monadjemi, diretora de vôlei feminino do Minas, o vôlei masculino está enfrentando um problema maior por dois motivos que o feminino também já passou. “Quando existe hegemonia de um time só, isso acaba inibindo o orçamento de outras equipes. Em um primeiro momento até vimos algumas equipes tentando quebrar a hegemonia do Cruzeiro e não conseguiram. Isso acaba retraindo os investimentos mais fortes”, disse.

+ Prima de Ágatha, Yasmin segue a tradição do vôlei na família

“O segundo ponto é que no vôlei feminino você tem clubes com mais tradição na base e estrutura muito mais sólida de mais de 20 anos de investimentos ininterruptos, como Praia Clube, o Minas, Osasco, Pinheiros, São Caetano e Rio. E teve a chegada do Fluminense também, um time que tem investimento e disputa os campeonatos de base. Acho que isso ajuda a estruturar o vôlei feminino”, completou Keyla.

+ Maior campeão da Superliga, Serginho anuncia aposentadoria

Se por um lado o vôlei feminino tem projetos mais consistentes, o masculino peca pela falta de continuidade. “O masculino tem muito clube-empresa e times ligados às prefeituras e acho que isso dificulta a consolidação, pois ocorre um entra e saí de equipes e essa rotatividade tem gerado problemas de gestão. Essa falta de lastro atrapalha, assim como, a presença de gestores com pouca experiência”, destacou a diretora.

Zé Roberto e Bernardinho

Vôlei Brasileiro Mercado Masculino
Zé Roberto e Bernardinho contribuem para a solidez do mercado feminino (Felipe Christ/Vôlei Amil)

Além de compartilhar com alguns fatores já apresentados, um dirigente que trabalha no vôlei brasileiro há décadas acrescentou outros. “Há muito tempo o vôlei feminino está mais sólido que o masculino. Se você prestar atenção, verá que poucas atletas saíram do Brasil. A Tandara saiu e voltou rápido. A Sheilla também. Isso ocorreu porque o nosso nível salarial era bom, com os patrocínios do feminino sendo mais consistentes”, comentou.

+ O que esperar do Flamengo com Bernardinho no comando?

“O Bernardinho está no vôlei feminino há mais de 20 anos. Osasco é um projeto consolidado. Barueri é um time jovem, mas conta com a experiência do Zé Roberto. O Pinheiros também é um clube sólido. Então, tem clube por trás e tradição. Já o masculino tem time mais jovens e as saídas também podem ser explicadas porque a seleção se destacou os últimos torneios, inclusive, foram campeões olímpico e muita gente fica de olho”, completou.

Faixa etária e renovação

Vôlei Brasileiro Mercado Masculino
Principais jogadoras do feminino estão com mais de 30 anos (João Pires/Fotojump)

E o que justificaria o fato dos atletas do masculino estarem sendo mais procurados do que as jogadoras do feminino? O dirigente expõe seu ponto de vista sobre o assunto. “As nossas principais atletas já não são tão jovens. É mais difícil a Thaisa sair com 33 anos, a Dani Lins, com 35, a Sheilla, com 37, e a Fabiola, com 37. A Fabiana, que está com 35, ainda não se sabe, mas parece que retornou também”, apontou.

+ Tabela de jogos da Olimpíada de Tóquio 2020 é confirmada

“São atletas que já estão em fase final de carreira e a procura é menor. Os clubes de fora não vão contratar porque os riscos são maiores no que se refere a lesões. Da seleção brasileira, as duas ponteiras titulares (Gabi e Natália) são as únicas que estão fora do Brasil. Esse é um aspecto que deve preocupar o Zé Roberto. O time está bem envelhecido. O masculino tem mais renovação. Revela muito mais atletas do que o feminino”, concluiu.

O que esperar

Vôlei Brasileiro Feminino masculino.
A retomada passa pelo fortalecimento do mercado brasileiro (Daniel Nunes/CBV)

O cenário atrapalha o esporte como um todo, no entanto, a situação do vôlei aparece com mais destaque, pois anteriormente era a modalidade em que circulava mais recursos, abaixo apenas do futebol.

Existe também uma insegurança em relação ao retorno, que deve acontecer em breve. Mas como serão os trabalhos em quadra, nas academias de musculação e nas salas de fisioterapia sem que ocorram aglomerações? A volta acontecerá e é necessária, mas até que ponto os atletas e profissionais estarão seguros?

+ Flamengo e Sesc RJ anunciam parceria no vôlei feminino

“Logicamente será um ano de baixa e ajustes. Mas tem outro olhar para isso: será que o mercado não estava um pouco inflacionado? Será que era para ter tanto time pagando tanto dinheiro com a economia desse jeito? Os projetos são sustentáveis a longo prazo pagando tanto? Podemos olhar por outro prisma: será que não era hora desse ajuste para as coisas ficarem parametrizadas?”, disse Fernando Maroni, gestor do Vôlei Renata, time masculino de Campinas.

Com recursos reduzidos, os clubes precisam se organizar para cumprirem com as obrigações com funcionários, coisa que não aconteceu em alguns casos nas temporadas anteriores.

+ Zelão renova com o Benfica e vai para 12ª temporada no clube

“Espero que na próxima temporada aconteça o que deveria acontecer em todas as anteriores, com os times gastando exatamente o que podem e o que tem. Eles não podem mais se comprometer com algo que depois se torne inviável de se honrar”, comentou Maroni, que está à frente do projeto de Campinas, que existe há 11 anos.

Desafios

Vôlei Brasileiro Feminino masculino.
Um dos desafios dos clubes é fortalecer a Superliga (Wander Roberto/Inovafoto/CBV)

Keyla Monadjemi, dirigente da equipe feminina do Minas, apontou os principais desafios para a próxima temporada. “Nessa temporada, o nosso maior desafio foi manter os nossos patrocinadores e entender como seria o impacto do coronavírus. Nunca tivemos uma temporada sem um campeão. Obviamente houve uma redução aqui e ali, mas é muito importante consolidar o produto Superliga”, relatou.

A diretora acredita que a situação pode melhorar no futuro com a consolidação da Superliga. “Ter uma Superliga forte e competitiva e com ações de marketing para divulgarmos cada vez mais os nossos atletas e jogos é fundamental. Precisamos de um calendário com acesso aos jogos e que as pessoas possam assistir pela televisão”, disse Keyla Monadjemi.

+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK

“Estamos correndo atrás para conseguirmos uma televisão aberta e o streaming, que já existiu na última temporada, vai permanecer e veio pra ficar. Temos como desafio manter uma competição forte e atrativa para atrair cada vez mais investidores”, concluiu a diretora.

Mais em Vôlei