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Tóquio 2020

Ao proibir protestos, COI estica a corda e pode se dar mal

Comissão de Atletas recomenda manutenção da regra que proíbe manifestações. Mas americanos já avisaram que não irão punir seus atletas

esgrima protesto Pan de Lima
O esgrimista americano Race Imboden se ajoelha no pódio no Pan-Americano de Lima-2019 (Reprodução/Twitter)

Nesta última quarta-feira (21) o COI (Comitê Olímpico Internacional) perdeu uma oportunidade de ouro para se adequar aos novos tempos. A comissão de atletas da entidade anunciou o resultado de uma pesquisa com mais de 3.500 atletas de 185 países. Nela, constatou-se que 70% da categoria mostra apoio à manutenção da Regra 50. Este item da Carta Olímpica proíbe protestos políticos ou qualquer outro tipo de manifestação nas arenas olímpicas.

Na Olimpíada de Tóquio, por exemplo, protestos serão tolerados apenas em entrevistas ou zonas mistas, através de camisetas ou mensagens em redes sociais. Ou seja, tudo bem controlado. Entretanto, ao vetar que os atletas possam se manifestar livremente, sob ameaça de punições ainda não definidas, o COI corre o risco de se dar mal.

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Antes de mais nada, é curioso pensar como o COI irá lidar com o comitê olímpico dos Estados Unidos, principal potência olímpica do mundo, que em 2020 anunciou ser contra restrições a atletas que se manifestarem contra o racismo e direitos humanos. Diante de tudo o que ocorreu no ano passado, não parece provável uma mudança de posição dos americanos.

Ainda está muito viva na memória a adesão praticamente total de atletas americanos das mais variadas modalidades nas manifestações antirracistas ocorridas após o assassinato do negro americano George Floyd por um policial branco em Minneapolis (EUA).

A onda de indignação contra o racismo e a favor da livre manifestação chegou a parar rodadas completas da NBA, NFL, tênis e beisebol. Ao mesmo tempo, ganhou apoios importantes, como do heptacampeão mundial de Fórmula 1, o inglês Lewis Hamilton. Dirigentes importantes como Gianni Infantino, presidente da Fifa, e Sebastian Coe, mandatário da World Athletics (Federação Internacional de Atletismo), também se mostraram a favor em permitir a livre expressão dos atletas.

Protestos
Pan de Lima-2019
Gwen Berry
A americana Gwen Berry, atleta do lançamento do martelo, foi punida por erguer o punho no pódio em Lima (Divulgação/Lima 2019)

Punições como as que ocorreram após o Pan de Lima-2019, quando os americanos Race Imboden, da esgrima, e Gwen Berry, do atletismo, fizeram protestos pelos direitos humanos no pódio, não irão acontecer. Ao menos que depender do comitê olímpico e paralímpico americano.

Ainda não foi definido que tipo de sanções serão aplicadas caso os atletas não cumpram a Regra 50 nos Jogos de Tóquio. Porém, a reação de várias entidades que protegem os esportistas foi bastante negativa. Enfim, deu para sentir que se resolver esticar a corda sem perceber que os tempos mudaram, o COI poderá ter uma surpresa desagradável num futuro próximo.

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