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Jogos Paralímpicos de Inverno buscam maior profissionalização

Comitê Paralímpico Internacional quer passar o comando de três modalidades paralímpicas de inverno à Federação Internacional de Esqui

Aline Rocha Paraesqui Cross-Country Jogos Paralímpicos de Inverno Pequim 2022
Aline Rocha durante disputa do paraesqui cross-country em Pequim 2022: esporte deve integrar a FIS no futuro (Ale Cabral/CPB)

Assim como a edição de verão, os Jogos Paralímpicos de Inverno estão cada vez mais consolidados no cenário esportivo global. O nível técnico cresce na mesma proporção de países e competidores participantes. Mas essa evolução tem um custo. Hoje, o desporto paralímpico está na encruzilhada e sabe que precisa se profissionalizar para manter esse ritmo no futuro.

No caso das modalidades de neve, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) deu um passo importante nessa semana. A entidade iniciou reuniões para passar a organização e governança de três esportes para a Federação Internacional de Esqui (FIS): o paraesqui alpino, paraesqui cross-country e o parasnowboard.

“As discussões realizadas em Pequim mostram que o IPC e a FIS compartilham uma visão comum sobre o futuro dos esportes paralímpicos de neve”, comentou o brasileiro Andrew Parsons em release divulgado em conjunto pelas duas entidades. A ideia é fazer o mesmo com o parabiatlo e a IBU (União Internacional de Biatlo).

Os três esportes somaram 58 das 78 disputas de medalhas nos Jogos Paralímpicos de Inverno de Pequim 2022. Ou seja, praticamente três quartos do total (74,3%). O evento, aliás, serviu para o compartilhamento de conhecimento em torno da organização e governança. Além disso, oficiais da FIS já participavam da realização das principais competições do calendário internacional.

Evidentemente, esse foi o primeiro passo e muita coisa vai acontecer até a transferência completa dos três esportes paralímpicos de neve à estrutura da FIS. Nos próximos meses, as duas organizações pretendem se reunir com todos os atores envolvidos, como atletas, dirigentes e treinadores, para definir os trabalhos a serem feitos.

Organização paralímpica é diferente dos Jogos Olímpicos

Ainda que sejam organizados de forma similar e conjunta pela mesma cidade, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos possuem diferenças fundamentais na sua estrutura esportiva. Enquanto o primeiro atua como um guardião de seus valores e movimento, o segundo precisa colocar a mão na massa – literalmente.

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É o Comitê Paralímpico Internacional que cuida da organização da maioria das modalidades presentes em seu organograma. Entre eles, atletismo e natação. No caso dos Jogos Paralímpicos de Inverno, apenas o curling de cadeira de rodas possui uma entidade própria (a Federação Mundial de Curling, responsável pela modalidade olímpica também).

Isso implica que a elaboração de regras, organização de competições internacionais oficiais, como Copa do Mundo e Campeonato Mundial, entre outras coisas, passa pelo IPC. Tarefas demais para uma entidade que deseja se posicionar como um movimento tal qual o Olimpismo.

Por que é preciso profissionalizar mais os Jogos Paralímpicos de Inverno?

No atual cenário esportivo, é inviável concentrar as organizações de diferentes modalidades em uma única organização. Além de cada uma ter suas peculiaridades, o próprio esporte é dinâmico e precisa se atualizar. O que só é possível quando há uma entidade com autonomia e independência para refletir isso.

Os Jogos Paralímpicos de Inverno realizados em Pequim 2022 reforçaram a necessidade de profissionalização de desporto paralímpico. O fato da China simplesmente não competir em nenhuma prova durante todo o ciclo e angariar, sozinha, um quarto do total de medalhas distribuídas incomodou bastante  

Além disso, as classificações funcionais novamente renderam polêmicas. Não se discute a importância delas e a seriedade de quem avalia, mas quando há claramente atletas em categorias que não correspondem ao grau de deficiência, é sinal de que mudanças precisam acontecer – e elas passam por toda essa estrutura.

André Barbieri Final Parasnowboard Cross Jogos Paralímpicos de Inverno Pequim 2022
André disputa prova de parasnowboard em Pequim 2022 (Ale Cabral/CPB)

FIS vai ter grande parte do programa paralímpico de inverno

A FIS, por sua vez, está de braços abertos para receber as três modalidades em seu guarda-chuva. Foi-se o tempo em que o desporto paralímpico era visto com desconfiança pelas entidades esportivas. Felizmente, essa visão mudou e as modalidades destinadas aos deficientes são encaradas com a importância que merecem ter.  

Dessa forma, como já citado, a Federação Internacional de Esqui vai ter grande parte do programa dos Jogos Paralímpicos de Inverno em sua estrutura. Não é muito diferente do que ocorre com os Jogos Olímpicos de Inverno: a entidade administrou 55 das 109 disputas e medalhas (50,5%) dos jogos Olímpicos de 2022.

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“Muitas de nossas associações nacionais já têm o esporte paralímpico de neve sob seu guarda-chuva e é o próximo passo claro trazer a governança desses esportes para a FIS”, reforçou Johan Eliasch, presidente da entidade.

Como isso pode afetar o desenvolvimento do Brasil?

Dos três esportes que devem passar à Federação Internacional de Esqui, dois deles interessam ao Brasil: o parasnowboard e o paraesqui cross-country. São modalidades que o país teve representantes nas últimas três edições paralímpicas e, aliás, conquistam bons resultados em eventos internacionais.  

Ainda é cedo para imaginar possíveis mudanças para as modalidades nos Jogos Paralímpicos de Inverno. É preciso aguardar as próximas reuniões e a formação de grupos de trabalho para compreender quais transformações serão pensadas e, claro, incluídas para as próximas edições.

Uma das alterações possíveis diz respeito às vagas destinadas aos atletas nas Paralimpíadas. Ainda hoje, muitas das cotas são destinadas via convite às delegações. Com a FIS organizando os eventos, os pontos FIS devem ganhar espaço e seguir a mesma dinâmica que já ocorre com o desporto olímpico.  

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