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No gelo, Maria Joaquina estreia pelo Brasil no Junior Grand Prix

Bicampeã brasileira júnior, Maria Joaquina supera desafios e vai estrear no Junior Grand Prix de patinação artística no gelo entre 7 e 10 de setembro

Maria Joaquina Patinação artística no gelo
Maria Joaquina em ação durante o Brasileiro de Patinação Artística no Gelo em 2021: estreia internacional (Ricardo Bufolin/Panamerica Press)

Praticamente um ano depois da aposentadoria de Isadora Williams, o Brasil volta a ter uma representante na patinação artística no gelo. A jovem Maria Joaquina, 14 anos, vai competir na terceira etapa do Junior Grand Prix da modalidade. A disputa vai acontecer em Riga, na Letônia, entre 7 e 10 de setembro.

A atleta, que mora e treina na Academia Footwork, em Curitiba (PR), é considerada uma das maiores promessas da patinação – seja no gelo ou em rodas – do país. Na primeira modalidade, é a atual bicampeã brasileira júnior em 2021 e 2022. Na segunda, alcançou a medalha de prata no Mundial Júnior inline, também em 2021.

“Eu tenho talento para patinar. Se eu me esforçar, sei que posso ter um futuro no esporte, até mesmo ir para os Jogos Olímpicos”, comentou a atleta com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia e Brasil Zero Grau (confira o vídeo abaixo).

O objetivo da Maria Joaquina é brigar pela vaga olímpica já na próxima edição dos Jogos de Inverno, que serão realizados nas cidades italianas de Milão e Cortina D’Ampezzo em 2026. Recentemente, a ISU alterou as regras de idade para participação de atletas na categoria senior, mas isso não impacta sua preparação.

Essa vai ser a primeira experiência internacional de Maria Joaquina em uma competição internacional de patinação artística no gelo. A CBDG tem o direito de inscrever um atleta por categoria em duas etapas do Junior Grand Prix na temporada. Além de Riga, ela também deve competir em Egna, na Itália, entre 12 e 15 de outubro.

Atleta trans, Maria Joaquina desafia também o preconceito

Maria Joaquina foi adotada com seus dois irmãos aos 8 anos pelo casal Cleber Reikdal e Gustavo Cavalcanti. Foi nessa época que ela revelou à família que não se identificava com o gênero e que começou a ter as primeiras aulas de patinação com o pai na Footwork.

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“Quando ela se sentiu confortável socialmente, ela mudou completamente. Ela era só uma criança que não se identificava com o gênero, tinha disforia de gênero”, explica Gustavo Cavalcanti, técnico e pai de Maria Joaquina.

A aceitação no ambiente familiar, porém, ainda encontra resistência no ambiente do esporte. Teve evento em que ela poderia competir, mas não poderia usar o banheiro feminino. Em 2019, só pôde competir no Sul-americano de Patinação em rodas após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“É legal para mim dar entrevistas e falar sobre o assunto. Começaram a me entender melhor e aceitar melhor. Eu me sinto livre patinando”, comenta a jovem atleta.

ISU regulamentou participação de atletas trans em 2021

A ISU, órgão máximo da patinação artística no gelo, regulamentou a participação de competidores transgêneros em 2021 por meio da Comunicação 2422. No documento, a entidade prevê que a atleta que se declara do gênero feminino precisa ter um nível de testosterona abaixo de 5 nmol/L (nanomol por litro) continuamente por 12 meses antes da primeira competição.

Isso não é problema para Maria Joaquina. Desde que ela revelou seu desconforto com o gênero antigo, a família buscou apoio especializado. Ela faz acompanhamento mensal em São Paulo e utiliza bloqueio puberal. Ou seja, remédios que suprimem a liberação de testosterona durante a puberdade. Esse tratamento prossegue até aos 16 anos.

“Ela nunca teve produção de testosterona. O índice da Maria é menor do que minha outra filha. Mesmo que aos 16 anos ela opte por outro tipo de tratamento, não vai ter vantagem em níveis hormonais ou massa muscular. E ainda acham que isso é vantagem. No masculino, pelo nível técnico dela, seria até mais fácil”, continua Cavalcanti.

Maria Joaquina tem ciclo para realizar sonho olímpico

O fato é que, apesar de tantos obstáculos, a atleta prova a cada treino e competição que o sonho olímpico é viável. Mesmo em pistas de gelo que são apenas um quarto das medidas oficiais da patinação artística, ela já consegue realizar saltos triplos – essenciais para atingir a elite da modalidade entre as mulheres.

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Em maio, Maria Joaquina participou de um training camp na Itália para desenvolver suas habilidades de saltos e giros. Em suas redes sociais, foi possível acompanhar a evolução, com direito a saltos triplos como o Salchow. Agora, ela tem praticamente três temporadas e meia para brigar por uma das vagas em 2026.

“Eu só fui treinando no inline, com as rodas alinhadas, e quando fui para o gelo, foi fácil porque aprendi a fazer as mesmas coisas. Mas com o tempo fui evoluindo e agora estou treinando os triplos e os giros que é o que preciso para ir às Olimpíadas”, conclui a atleta.

O documentário foi produzido durante o Campeonato Brasileiro de Patinação Artística no Gelo realizado entre 17 e 19 de dezembro de 2019. A edição é de Caio Poltronieri e a entrevista realizada por Giovana Pinheiro

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