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Tóquio 2020

Linhagem de Jacky Godmann na canoagem começou com avô marisqueiro

Em meio à busca pelo sustento nos rios de Itacaré, veia competitiva despertou em Valmir Conceição, ganhou força nos tios Valdenice e Vilson, levou o jovem atleta de 22 anos para os Jogos Olímpicos e deve seguir com o pequeno Benjamin

Jacky Godmann canoagem velocidade Jogos Olímpicos Tóquio C1 1000
Mais um da família em grandes competições da canoagem (Breno Barros/rededoesporte.gov.br)

Tóquio – Talvez nem tenha passado pela cabeça de Valmir Conceição que os ‘rachas’ de canoa de madeira que ele tirava com amigos lá na primeira metade do século 20 tivessem como desfecho a participação de um neto na canoagem velocidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Pois foi a partir deles que o avô de Jacky Godmann começou a construir uma linhagem de remadores no Brasil que, antes de chegar no Japão, passaria por duas edições dos Jogos Pan-Americanos, com direito a pódio, pela Rio-2016, e segue sem indícios de que vá terminar.

“Minha avó conta que antes tinha competição de canoa de madeira. Ele (avô) já competia algumas, mas (a canoagem) veio mesmo com meu tio Vilson e minha tia Valdenice”, explica Jacky, baiano de Itacaré que aos 22 anos competiu nas modalidades C1 1000 e C2 1000, essa ao lado de Isaquias Queiroz, na sempre ensolarada Sea Forest Waterway, raia nas proximidades da Baía de Tóquio onde foram realizadas as provas de canoagem velocidade dos Jogos Olímpicos da capital japonesa. “A gente é de família de marisqueiro, minha avó pesca no rio, então meus tios sempre iam com ela pescar caranguejo, siri. Então vem de canoa e pegou essa paixão”, detalha o atleta do Flamengo que treina com a seleção há três anos de Lagoa Santa, Minas Gerais.

Jacky Godmann Isaquias Queiroz canoagem velocidade Jogos Olímpicos Tóquio C1 1000
(Wander Roberto/COB)

Medalhas em Pans

O tio Vilson é Vilson Conceição do Nascimento, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos da Rio-2007 justamente na categoria C2 1000, a mesma que levou Jacky Godmann para Tóquio-2020. A tia Valdenice é Valdenice Conceição, medalhista de bronze na C1 200 dos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015, atleta na Rio-2016 e que chegou perto de competir ao lado do sobrinho nos Jogos Olímpicos deste ano.

E não para por aí. “Vem da família mesmo. Meus tios foram meu espelho. Meus primos também estão vindo. Tem um em Capitólio, o Diego, na seleção de base. Todo mundo gosta de remar, quer remar. Meu filho fica: ‘vou remar com o papai, remar com o papai’. Toda hora ele fala isso. Eu chego lá e ele quer remar.” O filho é Benjamin, um dos dois que tem com Miriam, esposa que, como não poderia deixar de ser, conheceu no meio da canoagem. “Conheci ela com a seleção em Curitiba. Ela foi para os Jogos da Juventude, na China. Rodou o mundo também.”

Este ano, porém, foi a vez de Jacky Godmann. E a vaga veio meio de surpresa. O parceiro de Isaquias Queiroz na C2 1000 é Erlon de Souza. Estão juntos há anos já e, inclusive conquistaram a medalha de prata na Rio-2016. Porém, Erlon sofreu uma lesão ligada à falta de vascularização no fêmur que comprometeu o quadril e não conseguiu se recuperar a tempo. Assim, Jacky foi anunciado como substituto no dia 2 de julho, duas semanas antes do embarque para o Japão. “Eu sabia que eu poderia vir, estar no C2 com o Isaquias, mas, claro é sempre uma surpresa. Primeira Olimpíada, quem não fica surpreso? Fiquei muito feliz quando o treinador falou no Brasil”, contou.

Em Tóquio

Na raia olímpica da canoagem velocidade, o filho de Itacaré que tem pai alemão, competiu seis vezes. Ao lado de Isaquias, fez duas baterias classificatórias uma semifinal e a final do C2 1000. Ficaram bem perto do pódio, terminaram em quarto lugar. “Depois da semifinal eu chorei de felicidade por ter conseguido passar com o Jacky. Tem pouco tempo de trabalho com a gente, muito a evoluir ainda. Eu queria que o Jacky subisse no pódio pela primeira vez. O barco estava bem. A gente estava remando bem”, disse Isaquias, sobre a participação da dupla. “Um quarto lugar nos Jogos Olímpicos é um bom resultado”, resumiu.

Jacky Godmann Isaquias Queiroz canoagem velocidade Jogos Olímpicos Tóquio C1 1000
Jacky na final olímpica do C2 1000 ao lado de Isaquias Queiroz (Breno Barros/rededoesporte.gov.br)

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Dias depois, agora sozinho na C1 1000, Jacky Godmann teve seu momento particular como atleta olímpico da canoagem velocidade. Fez uma primeira bateria classificatória bem difícil, remou contra o alemão Sebastian Brendel, atual bicampeão olímpico e quatro vezes campeão mundial, e o tcheco Martin Fuksa, vice-campeão mundial nas quatro vezes em que Brendel levou o título. A seguir, foi para o tudo ou nada nas quartas de final a acabou eliminado. “Acordei bem, vim aqui com objetivo de sempre buscar o melhor, de entrar na semifinal, infelizmente não consegui”, disse.”Tiro muito aprendizado, para evoluir mais. Muito importante isso, todos evoluem. Agora é voltar para o Brasil, descansar um pouco, curtir meu filho, minha família, minha mulher, porque já tem oito meses longe de casa”, encerrou. Certamente terá muito o que contar para a família que tem a canoagem no DNA.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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