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Tóquio 2020

Em um ano, Brasil viverá um dia pesado com chances de medalha

Daqui a exato um ano, Rafael Silva e Maria Suelen, ou David Moura e Bia Ferreira, devem brigar por pódio no Japão

Maria Suelen ALtheman e Rafael Silva: esperanças da categoria pesado no judô (Instagram/susu

A categoria de peso pesado do judô é uma das mais perigosas do Brasil, tanto no masculino quanto no feminino. Quatro grandes judocas podem representar muito bem o país nos Jogos Olímpicos de Tóquio e conquistar uma medalha. Por enquanto, Rafael Silva, mais conhecido como Baby, e Maria Suelen Altheman, seriam os representantes do país daqui exatamente um ano.

No entanto, David Moura e Beatriz Souza têm totais condições de ultrapassá-los, já que na Olimpíada, apenas um judoca por país pode representar a categoria em cada gênero.

Para saber como foi o ciclo olímpico de Rafael Silva e Maria Suelen Altheman, como ambos chegarão ao Japão, quais são as suas principais chances e quem são suas rivais, o Olimpíada Todo Dia preparou um mini guia sobre o judô em Tóquio-2020. Confira!

Currículos pesados

Tanto Rafael Silva quanto Maria Suelen possuem currículos expressivos na categoria dos pesos pesados.

Rafael Silva é um dos maiores judocas da história do país. Competindo em na categoria acima dos 100 kg, Baby tem duas medalhas olímpicas na carreira. Conquistou o bronze em Londres-2012, e repetiu o feito na Rio-2016.

Em Mundiais, possui mais cinco, sendo duas medalhas de prata e três de bronze. Em competições menores mas muito importantes no cenário mundial, como os Grand Slams, Masters e Grand Prix, Baby tem impressionantes 22 pódios.

Embora não tenha as medalhas olímpicas que Baby possui, Maria Suelen Altheman também figura entre as melhores do mundo há um bom tempo.

Duas vezes medalhista mundial – em 2013 e 2014 -, a judoca da categoria acima dos 78 kg, ostenta 24 medalhas em Grand Slams/Masters/Grand Prix. 13 dessas conquistas vieram após a Olimpíada do Rio de Janeiro, quando acabou surpreendida na segunda rodada.

Maria Suelen Altheman judô pódio
Maria Suelen no lugar mais alto do pódio do Grand Slam da Rússia, em 2018 (Marina Mayorova/IJF)

Regularidade e derrota para os/as melhores

Rafael Silva e Maria Suelen são judocas extremamente regulares. Em três campeonatos Mundiais disputados após a Olimpíada do Rio, ambos figuraram entre os cinco melhores em dois deles.

Até quando perde, Baby mantem a regularidade. Apenas três judocas o derrotaram durante os mundiais do ciclo: a lenda Teddy Riner, o japonês Hisayoshi Harasawa e o sul-coreano Kim-Min Jong.

Em 2017, Baby ficou com a medalha de bronze, perdendo apenas para Teddy Riner nas quartas de final. Em 2018, única vez no ciclo que ficou de fora dos cinco primeiros lugares, Baby perdeu para Harasawa na segunda rodada. Um ano depois, acabou caindo novamente para Harasawa, nas quartas de final; mesmo assim, chegou a disputa do bronze, sendo derrotado por Min-Jong no golden score e terminando em quinto lugar.

Maria Suellen, por sua vez, não foi tão bem em 2017, mas cresceu muito nos dois anos seguintes. Em ambos, chegou às semifinais, mas acabou derrotada para a lenda cubana Idalys Ortiz, perdendo a disputa do bronze em seguida e terminando em quinto lugar em ambas as vezes.

Ortiz é uma verdadeira pedra no sapato de Maria Suelen. As duas já se enfrentaram 17 vezes e a brasileira nunca venceu.

Daqui a um ano, os judocas da categoria pesado estreiam nos Jogos Olímpicos de Tóquio, OTD avalia chances de medalha de Rafael Silva e Maria Suelen Altheman
Cubana Idalys Ortiz é um dos maiores nomes da história do judô (divulgação/IJF)

Números expressivos de 2017 para cá

Das 22 medalhas em Grand Slams/Masters/Grand Prix que Rafael Silva tem, sete foram conquistadas de 2017 para cá. Em fevereiro desse ano, inclusive, Baby levou o bronze no Grand Slam de Dusseldorf, antes do coronavírus paralisar o mundo esportivo. Pouco antes, ficou em quinto no também importante Grand Slam de Paris.

Isso mostra que o quanto o judoca estava focado em conseguir seu grande objetivo em Tóquio.

“Espero trocar a cor da medalha lá. E trocar da melhor maneira possível. Pensando em melhorar meu judô. Servir de inspiração para os outros”.

Rafael Silva, em live com o Olimpíada Todo Dia.

Concorrência acirrada

Diferentemente do que ocorre em algumas categorias do judô brasileiro, onde um nome reina absoluto, Rafael Silva e Maria Suelen estão sempre brigando por posições no ranking nacional e mundial com outros conterrâneos: David Moura e Beatriz Souza.

+ David Moura quer surpreender o mundo e bater Teddy Riner

O rival brasileiro, medalhista de prata no Mundial de 2017, ainda briga com Rafael Silva pela vaga aos Jogos Olímpicos de Tóquio. No ranking mundial, Baby é o sexto, três posições acima de David.

“Fica difícil de se acomodar com essa rivalidade com o David Moura. Melhor para o judô brasileiro é, mas não é confortável para quem está na disputa,” avaliou Baby.

Daqui a um ano, os judocas da categoria pesado estreiam nos Jogos Olímpicos de Tóquio, OTD avalia chances de medalha de Rafael Silva e Maria Suelen Altheman
Rafael Silva e David Moura fazem grande rivalidade na categoria acima de 100kg (IJF/arquivo)

Nova rival

Dez anos mais nova que Maria Suelen, Beatriz Souza começou a aparecer mais recentemente no judô, mas já figura entre as melhores da categoria acima dos 78kg. As duas só se enfrentaram quatro vezes em competições internacionais, com Maria Suelen vencendo as três primeiras. Em outubro do ano passado, porém, Beatriz conseguiu a primeira vitória.

Beatriz teve um grande ano em 2019, conquistando quatro pódios em Grand Slams e Grand Prix e um quinto lugar no Mundial disputado em Tóquio. Com um bronze e um quinto lugar nos dois Grand Slams disputados em 2020, a jovem judoca se aproxima cada vez mais de Maria Suelen no ranking mundial. Até a pausa para a pandemia, Bia é a 5ª, apenas 100 pontos atrás de Maria Suellen, 4ª colocada.

Daqui a um ano, os judocas da categoria pesado estreiam nos Jogos Olímpicos de Tóquio, OTD avalia chances de medalha de Rafael Silva e Maria Suelen Altheman
Beatriz Souza, principal rival de Maria Suelen Altheman na busca pela vaga aos Jogos Olímpicos de Tóquio (IJF/arquivo)

Os adversários em Tóquio

Favorito, mas não imbatível

O dia 9 de fevereiro desse ano ficou marcado na história do judô. Após uma década invicto, ou exatas 154 lutas, Teddy Rinner foi derrotado no Grand Slam de Paris, diante do japonês Kokoro Kageura.

Por outro lado, a derrota deve motivar ainda mais o atual bicampeão olímpico e nove vezes campeão mundial. Riner chegará aos Jogos Olímpicos de Tóquio novamente como o homem a ser batido na categoria.

Assim que as competições voltarem, Rafael Silva, além de continuar a fazer as boas participações para subir no ranking da categoria (atualmente é o 5º colocado), deverá torcer para que o francês também vá bem, para que Riner também melhore no ranking (Riner tirou um ano sabático em 2018 e competiu muito pouco em 2019. Em virtude disso, ocupa atualmente apenas a 24ª colocação).

Desse modo, evitaria-se um possível confronto nas primeiras rodadas nos Jogos Olímpicos de Tóquio entre o brasileiro e o multi-campeão. Vale lembrar que em casa, na Rio-2016, Baby foi eliminado por Riner nas quartas-de-final.

Daqui a um ano, os judocas da categoria pesado estreiam nos Jogos Olímpicos de Tóquio, OTD avalia chances de medalha de Rafael Silva e Maria Suelen Altheman
Mesmo perdendo esse ano, Teddy Riner deve ser grande aposta de medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio (divulgação/IJF)

Outros na disputa

Em uma Olimpíada disputada em qualquer lugar do mundo, o Japão entra como favorito no judô. Em casa, no berço da modalidade, diante de um torcedor fanático pelo esporte, o favoritismo triplica. O fato de que o homem que entrou para a história do Judô ao derrubar Riner não estará nas Olimpíadas diz muito sobre o nível do país na modalidade.

Quem estará em Tóquio na categoria acima dos 100kg será o duas vezes algoz de Rafael Silva, Hisayoshi Harasawa. Mesmo não tendo derrubado o francês assim como o seu compatriota fez esse ano, o atual vice-campeão olímpico, duas vezes medalhista nos três mundiais e atualmente na 2ª colocação do ranking tem tudo para estar na briga por medalhas.

Hisayoshi Harasawa e Teddy Riner na final da Rio-2016 (Emanuelle Di Feliciantonio/FIJ)

O tcheco Lukáš Krpálek chegará com a moral de ser o líder do ranking mundial e de ter desbancado Harasawa diante da torcida japonesa no Mundial 2019. Porém, o famoso ditado já diria que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Krpálek deve brigar pelo pódio, e incomodar ou Rafael Silva ou David Moura. Vale dizer que ele é o atual campeão olímpico na categoria até 100 quilos, uma abaixo da que disputa agora.

Judocas como o georgiano Guram Tushishivili (campeão mundial em 2018 e 3º no ranking) e o holandês Roy Meyer (bronze no mundial 2019), também deverão ser pedreiras no caminho de Baby.

Favorita, mas não imbatível

Ydalys Ortiz chegará ao Japão como a grande favorita a levar uma medalha, seja ela de ouro, prata, ou bronze. Líder do ranking na categoria, a atual vice-campeã olímpica foi finalista nos dois últimos campeonatos mundiais, ficando com duas medalhas de prata.

A experiência no tatame aliado ao fato de ter três medalhas nas últimas três Olimpíadas – uma de ouro, uma de prata e uma de bronze – e mais seis mundiais a credenciam para um pódio, mesmo no Japão, diante da torcida local.

A dominância de Ortiz não é tão grande no feminino como a de Riner é no masculino. Diferentemente do francês, a cubana já foi derrotada antes, incluindo nas duas últimas finais de mundiais, como dito.

Ambas as quedas vieram para as sempre fortes japonesas. Para a sorte de Ortiz, apenas uma delas irá defender o país em Tóquio: Akira Sone, atual campeã do mundo e vice-líder do ranking mundial.

A turca Kayra Sayit (sexta colocada no ranking e algoz de Beatriz Souza na disputa do bronze do mundial passado e de Maria Suelen em 2018) e Larisa Ceric, da Bósnia Herezegovina, também devem brigar por medalhas nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

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