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Tóquio 2020

Fernando Possenti e Naná Almeida exaltam evolução da natação feminina

Em live com o OTD, treinador e atleta analisaram a seletiva olímpica e viram com bons olhos o desempenho das mulheres

Naná Almeida - Fernando Possenti - Natação Feminina - Tóquio 2020
(instagram/nanalmeida1)

Na última semana, a natação brasileira viveu um momento decisivo no ciclo de Tóquio-2020. Os atletas caíram na água em busca do índice olímpico, e 18 conseguiram atingir a marca individualmente, dos quais apenas duas são mulheres: Beatriz Dizotti e Betina Lorscheitter. Outras nove atletas conseguiram atingir a marca necessária nos revezamentos, mas ainda aguardam o fim da repescagem da FINA (Federação Internacional de Natação) para garantir a vaga. Assim, para analisar a seletiva e o cenário da natação feminina, o OTD vai realizar três lives com especialistas no assunto, e a primeira contou com a presença do treinador, Fernando Possenti, e da 14 vezes campeã brasileira, Naná Almeida.

Para os convidados, o saldo da seletiva para Tóquio-2020 foi positivo. O resultado mostra que, apesar de ainda estar atrás do masculino, a natação feminina segue em evolução, com boas perspectivas a longo prazo.

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“Eu gostei do que vi. As meninas nadaram muito bem, porque muitas chegaram lá e fizeram o melhor tempo da vida e sob uma pressão muito grande. Isso mostra a força, o amadurecimento delas… Elas estão a um passo de onde querem chegar e a gente precisa acreditar que é possível”, destacou Fernando Possenti.

“No geral, as meninas nadaram muito bem. A quantidade de mulheres que fez o melhor tempo da vida foi muito grande. Então achei um saldo muito positivo. Eu fiquei feliz e frustada, porque queria mais, senti a pressão. Mas baixei meu tempo e não fazia isso desde 2018”, completou Naná Almeida.

Respeitando a individualidade

Fernando Possenti é treinador de maratona aquática e também de piscina. É ele que comanda, por exemplo, ninguém mais que Ana Marcela Cunha, eleita seis vezes melhor do mundo. E para ele, a natação feminina precisa parar de ser comparada à masculina, focando na solução ao invés do problema.

“Eu gosto mesmo [de trabalhar com mulheres], acho incrível a complexidade feminina. Eu fui criado em uma família que, se não fosse meu pai, eu seria o único homem. E isso me ensinou muito coisa. Acho que é um mundo diferente sim, mas não adianta ficar aqui comparando. Comparar, para mim, é focar no problema e não na solução. A gente tem que parar para ouvir e respeitar cada individualidade”.

Naná Almeida começou a treinar com Possenti há apenas três meses e já notou evolução. E um dos pontos principais do crescimento foi poder ter uma outra mulher treinando com ela. “A Gabi [Roncatto] nada as mesmas provas que as minhas e eu nunca treinei com outra menina que nadasse as mesmas provas que eu. Então é muito interessante no treino, porque a gente está meio que sempre competindo todo dia”.

E nesse contexto, uma parte importante do trabalho está relacionado à equipe multidisciplinar, especialmente, no acompanhamento ginecológico. “Eu gosto muito de anotar como o ciclo menstrual impacta na performance, no treino… Cada atleta se sente de uma maneira e esse tipo de estretágia [de adiantar ou atrasar a menstruação ]ajuda muito. Então um ponto imporante é utilizar a equipe multidisciplinar. Ela não está ali para atuar em algo pontual, apagar incêndio, mas para construir um trabalho junto”, explicou Possenti.

Comitê Feminino e busca por espaço

Em agosto do ano passado, 185 mulheres,entre nadadoras, ex-atletas e treinadoras, se uniram para criar o Comitê Feminino da Natação Brasileira: movimento em prol do desenvolvimento da natação feminina, da base ao alto rendimento. Um dos motivos foi a convocação de apenas uma mulher para a Missão Europa, enquanto 14 homens foram chamados.

Desde então, o Comitê cresceu muito e tem sido uma voz importante na divulgação da natação feminina, ponto destacado por Naná Almeida, que integra o grupo.

“Eu fiz publicidade e meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] foi justamente sobre a diferença em como a mídia trata as mulheres e os homens na natação brasileira. Às vezes tem mulheres com resultado incriveis e ninguém fala… A gente precisa mudar isso, conhecer mais mulheres. Então o Comitê é sobre representatividade, falar para as meninas não desistirem. É muito importante, está abrindo portas e as pessoas estão começando a ver a gente se uma forma diferente”.

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Por fim, Fernando Possenti ressaltou a necessidade de respeito e apoio às mulheres, destacando o potencial da natação feminina.

“Acho o Comitê importantissimo, principalmente pelas pessoas que estão lá. Hoje, elas são inspiração, ídolos, mas ainda são poucas. E no Brasil, ganhar não basta. Então as meninas precisam aprender a nadar para extrair o melhor delas. Se ela pode mais, por que não colocá-la nesse nível? E antes de tudo é respeito. Respeitar a mulher e a natação feminina, porque eu ainda ouço coisas, que estou aprendendo a ficar incomodado, sem só aceitar. E pensar a longo prazo, criar novas gerações… Porque o feminino por si só, sem ajuda, chegou onde chegou. Imagina com ajuda”, concluiu o treinador.

Veja a live completa:

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