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Petrúcio revela convite para competir com convencionais

Homem mais rápido do atletismo paralímpico mundial, Petrúcio Ferreira falou sobre inspirações, adiamento dos Jogos de Tóquio e o convite para participar de uma etapa da Liga Diamante

Aos 23 anos, Petrúcio Ferreira já contabiliza 12 medalhas em grandes competições – Paralimpíadas, Mundiais e Jogos Parapan-Americanos – e é o homem paralímpico mais rápido do mundo. Em entrevista feita durante uma live no Instagram do Olimpíada Todo Dia nesta quarta (22), o paraibano revelou que recebeu um convite para competir com os atletas convencionais, falou sobre o adiamento dos Jogos de Tóquio e listou inspirações tanto no esporte quanto na vida.

Convite para competir com convencionais

Após fazer 10s42 no Mundial de Doha, em novembro do ano passado, e quebrar o próprio recorde nos 100m da classe T47 – para amputados de braço abaixo do cotovelo -, Petrúcio Ferreira recebeu um convite para competir com atletas convencionais durante uma etapa da Liga Diamante, uma das principais competições internacionais do atletismo convencional.

“Eu recebi um convite que fiquei muito feliz. Era para participar da Liga Diamante e competir com atletas convencionais. A gente recebeu esse email do Comitê Internacional. Não estava no planejamento e agora acabou entrando. Quero treinar bem e conseguir bons resultados para quem sabe entrar em uma competição grande com atletas convencionais”, afirmou.

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Petrúcio Ferreira não escondeu sua empolgação com o convite. Logo que recebeu a notícia correu para avisar o técnico Pedro Almeida e seus pais. O desejo de competir com atletas convencionais, porém, precisará esperar. A World Athletics, ex-IAAF, pretende, a princípio, retomar os meetings da Liga Diamante apenas a partir de agosto.

“A gente recebeu esse convite no começo do ano, bem quando iriam começar as competições. Seria uma etapa da Liga Diamante antes das Olimpíadas, no final deste mês. Isso me deixou muito feliz. Quando recebi o convite, estava em casa. Sai mandando para o Pedrinho (treinador), dei pulo na varanda de casa. O Pedrinho disse para analisarmos, irmos de acordo com os treinos e minha capacidade para não dar um passo maior que a perna” disse.

“Seria um grande sonho entrar em uma competição de nome na Europa, que é a Liga Diamante. Isso me deixaria muito feliz. Se quando saiu o convite eu quase enlouqueci em casa comemorando, imagina na competição (risos)”, completou.

Porta aberta

A decisão de chamar Petrúcio Ferreira para competir com os atletas convencionais pode abrir uma nova porta para o paraibano. Em abril do último ano, ele completou os 100 m do GP Brasil em 10s37, mas a marca foi invalidada para o recorde mundial paralímpico por conta do vento. De qualquer modo, esse tempo seria suficiente para ele cavar uma vaga na equipe brasileira do revezamento convencional.

“Ainda existe uma regra que não me permite competir com os atletas convencionais em prova de 100m. Isso seria uma exceção que estariam abrindo para mim, porque em alguns momentos eles achavam que eu tinha vantagem no prolongador que eu uso para compensar a falta de parte do meu braço. Mas a gente consegue provar que não tem ajuda nenhuma. Ele só me serve como base, apoio de início, e eu me viro no restante da corrida. O resultado do ano passado (no GP Brasil) me daria a vaga. Os reservas do revezamento entraram com um tempo bem próximo”, afirmou.

Diante de resultados tão expressivos, Petrúcio Ferreira externou seu desejo de competir tanto no atletismo paralímpico quanto no convencional caso haja a possibilidade. “Teria essa vontade de participar dos atletas convencionais também. Funcionaria até como um estímulo para eu me testar mais ainda. O que eu gosto são desafios, então seria mais um”.

Treinos improvisados

Com a quarentena em decorrência da pandemia do coronavírus, Petrúcio Ferreira saiu de João Pessoa, onde treina normalmente, e foi para São José do Brejo do Cruz, no interior da Paraíba, ficar com seus pais. Além de deixar a estrutura do atletismo, o velocista, que começou a cursar Educação Física em fevereiro, passou a ter aulas a distância.

“De início foi bem estranho para mim, porque estou acostumado a uma rotina de correria, acordar cedo, treinos e dormir tarde. Dormir tarde porque treinava de dia e ia para faculdade à noite. Agora tive que cortar essa rotina por conta da quarentena e resolvi vir para a casa dos meus pais. Meu corpo meio que começa a pedir treinos, mesmo eu treinando em casa, porque não é o trabalho que eu fazia na pista”, disse.

https://www.instagram.com/p/B_I2dXaASbm/

Petrúcio Ferreira ainda falou sobre o adiamento dos Jogos Paralímpicos de Tóquio e estabeleceu um período, a partir do fim da quarentena, para readquirir a melhor condição de física.

“No início eu fiquei um pouco assustado porque eu não estava conseguindo treinar nessa quarentena. E não tinha uma posição de que os Jogos seriam adiados, então ficava aquela dúvida. O adiamento me tranquilizou bastante, mas ainda ficou a dúvida se seria esse ano ou em 2021. Quando colocaram as datas para o ano que vem e deram uma base para o planejamento dos treinadores, tranquilizou tudo”, afirmou.

“O Pedrinho (treinador) poderia responder essa pergunta um pouco melhor, mas eu acredito em uns três meses. Esse tempo daria para dar um pico (de performance) bem alto para competir em bom nível”, completou.

Inspirações

Ainda quando era criança, Petrúcio Ferreira alimentou o sonho de ser jogador de futebol. Mesmo trilhando outros caminhos dentro do esporte, o velocista tem algumas referências vindas dos gramados, como Daniel Alves, jogador do São Paulo, time de coração do paraibano. Alan Fonteles e Daniel Mendes, do atletismo, e Susana Schnarndorf, da natação paralímpica, são outras inspirações.

“Admiro o Daniel Alves por ser um cara brincalhão, competitivo e nordestino. Outro jogador que admiro na atualidade é o Neymar por ser brincalhão também. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e ele foi super gente boa. Admiro o Alan Fonteles e o Danielzinho também. Uma pessoa que tem uma história linda é a Susana, da natação paralímpica. Às vezes fico até com vergonha de chegar perto dela tentando expressar minha emoção de estar ao lado dela. Ela tem uma história de vida de muita superação”, disse.

https://www.facebook.com/watch/?v=2351967191764428

Comemoração no estilo Bolt

Longe do esporte, Petrúcio Ferreira tem Paulo do Santos, seu pai, como maior ídolo. No atletismo convencional, Usain Bolt, tricampeão olímpico nos 100 m, é motivo de admiração por sua história, tanto que o paraibano comemora suas vitória igual o jamaicano.

Petrúcio Ferreira comemorando vitória no Mundial de Doha (Foto: Daniel Zappe/CPB)

“Meu pai é meu ídolo fora do esporte, porque admiro muito ele. Desde criança, ele trabalhou muito para botar o pão na mesa. Dentro do atletismo um cara que eu admiro muito é o Usain Bolt pela história dele no esporte e por conta de tudo que ele construiu nos 100m. Foi um cara que durante a carreira muitos treinadores falavam que não conseguiria ser um corredor de 100m por causa da altura. E ele provou o contrário, foi além do limite do corpo dele e fez o que fez no esporte”.

“O Bolt tem o raio completo, eu tenho o meio raio (risos)”, brincou.

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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