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Tóquio 2020

“Estou de frente, disposto e não vou ficar mais quieto”, desabafa Nory

Ginasta campeão mundial, Arthur Nory revela depressão e burnout durante ciclo e fala sobre ataques que vem sofrendo na internet

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Gaspar Nobrega/ COB

Tóquio – Arthur Nory foi campeão mundial na barra fixa em 2019 pela ginástica artística. Sua apresentação era muito esperada nos Jogos Olímpicos. Com uma performance segura, o ginasta somou 14.133, nota que acabou não sendo o suficiente para pegar final. Tentou o solo e também não avançou. Claramente entristecido, Nory foi consolado pela comissão técnica e os atletas.

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Depois, na zona mista, com o imprensa, Nory foi questionado sobre ataques que vem sofrendo na internet, voltou a comentar sobre o caso de racismo em 2015, e os desafios da vida de atleta. Leia na íntegra abaixo!

O que aconteceu?

Arthur Nory: Atleta, né? Atleta, ser humano. A gente erra, a gente acerta. Treinei bastante. Foi um ano bem complicado, bem difícil pra gente, mas eu me entreguei, fui até o fim ali brigando, ajudando a equipe no que eu podia ajudar. Eles foram muito bem nos aparelhos que eu não precisei fazer e ali foi no detalhe. A gente sabia que a saída era o que definia, entrei mais alto. Não tem, não tem muito o que buscar. É assumir mesmo essa responsabilidade e trabalhar agora pro que vem pela frente.

Quanto teve de responsabilidade nisso os haters que você sofreu?

Arthur Nory: Acho que não foi por isso. Chega um momento que… Eu sempre tive muito medo. Muito medo desde o episódio de racismo, desde tudo que vem passando, que vem acontecendo. Medo de falar, medo de me assumir, medo de tudo. Fico sempre muito acuado. Fico no ‘vou por um sorriso no rosto, vou ser esse Nory, entregando sempre assim comigo’. Nesses últimos períodos, nos últimos anos, vem isso muito forte. No momento que você desabafa, no momento que você fala, no momento que você assume, ainda vem paulada. E veio muita agora. Teve um momento que eu falei assim: ‘chega, eu vou falar’. Estou de frente, estou disposto a isso e não vou ficar mais quieto. Não vou mais me esconder. E assumir realmente essa responsabilidade. Assim como eu erro aqui, eu erro na vida. E assumir pra mim. Procurar reparar todos os dias, procurar melhorar todos os dias em todos os aspectos. Entender que eu sempre estive do lado dele (Ângelo Assumpção), estou também aqui procurando, sempre questionando, ‘cadê clubes’? Isso fica muito. Isso sempre volta pra mim. Isso sempre vai. A gente está sempre conectado e eu tenho certeza que agora tem muita gente está vendo, muita gente está falando. Não se resume a isso que eu apresentei aqui. A gente tava muito focado com a equipe, esperando, mas é importante esse momento que eu tenho de visibilidade para desabafar e para falar. Porque é isso. Toda vez que eu apareço, volta isso tudo de novo e abafa. Então vamos falar agora sobre isso.

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Te dá medo de falar em avançar pra uma final e vir isso de novo?

Arthur Nory: Sempre vem. Desde o Pan, desde o ano passado, Copa do Mundo de Doha, agora na classificatória. Em 2016 eu não passei por isso, não estava tendo tudo isso. Agora, com a internet, com toda essa visibilidade, o ódio vem muito grande. Vem ameaça, vem xingamento, vem tudo. E bloqueia. E suspende. Fica fora das redes sociais pra se blindar, mas é isso. É pegar minha família, meus amigos aqui, minha equipe, a comunidade da ginástica, que estão comigo todo dia, é seguir. Não foi um empecilho pra mim. É treino. Foi um ano bem difícil, desde o começo do ano, que eu tive burnout, tive depressão e aí teve que parar um tempo. Voltar de novo. Focar na barra. Então foi puxado e eu estou aqui. Mais uma Olimpíada e estou aqui para torcer como equipe pra ajudar esses meninos. Caio primeira Olimpíada, Diogo primeira Olimpíada e o Zanetti pronto pra fazer história.

O que passou pela sua cabeça? Foi um pedido seu ir pro solo?

Arthur Nory: Eu sabia que se eu acertasse a série, ia ajudar bastante a equipe. Salto, solo e barra eu poderia ajudar muito bem a equipe. Eu estava bem focado na barra. Tanto que no cavalo e nas paralelas eles acertaram e eu nem precisei fazer, não chegaria próximo da nota. Depois na barra, falei ‘mais um aparelho’, tem que fazer, pensando nele, todos eles me dando força, ‘levanta essa cabeça’. E passou. Passou. Acabou. Agora é pensar nas próximas etapas.

O que vem pela frente?

Arthur Nory: Agora é resiliência. Resiliência. Vida de atleta. É treinar. Um dia de cada vez, mais agora é terminar os Jogos Olímpicos, torcendo muito para eles, eles tem muitas chances ainda, Caio, Zanetti e Diogo também, vamos ver aí a classificação do geral, mas ficar até o final com eles. A gente veio como equipe e vai sair como equipe.

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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