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Tóquio 2020

‘Foi a cabeça’, diz Maria Suelen, a chave para lavar a alma em cima da Ortiz

Na reta final para a terceira e última Olimpíada, brasileira da categoria pesado detalha como fez para vencer no Mundial deste ano a maior algoz de toda a carreira

Maria Suelen Ortiz Olimpíada judô
Suelen nos últimos preparativos antes da Olimpíada (Gaspar Nóbrega/COB)

Tóquio – Quando a judoca Maria Suelen subiu no tatame para enfrentar pela 17ª vez a cubana Idalys Ortiz, a grande maioria das pessoas já esperava mais uma derrota da brasileira. Natural essa sensação, afinal o roteiro havia sido esse nos 16 encontros anteriores. Sussu, como é carinhosamente conhecida na seleção, não. Entrou novamente focada na vitória e, daquela vez, conseguiu. Lavou a alma, como ela mesma disse minutos após deixar a luta, que rendeu, ainda, a medalha de bronze no campeonato Mundial disputado há um mês. Nesta terça-feira (20), às vésperas de mais uma Olimpíada, ela revelou qual foi a chave da tão esperada vitória.

“Além do treinamento, do dia a dia, eu acho que eu comecei a treinar mais a minha cabeça, porque muitas das vezes que eu perdia para ela eu me estressava no meio da luta, queria jogar de qualquer jeito e acabava errando. Então eu treinei muito a minha mente, a paciência. Acho que esse foi o ponto principal dessa vitória”, disse, em entrevista coletiva concedida direto de Hamamatsu, no Japão, cidade onde a seleção brasileira de judô faz os últimos preparativos antes de seguir para Tóquio. “O quadro de vitórias era enorme em cima de mim, mas em momento algum eu desisti, nunca entrei com a minha cabeça ‘ah, vou perder de novo’. Sempre entrei com minha cabeça pra ganhar”, disse a brasileira, dias antes de disputar a última Olimpíada da carreira.

Alma lavada

Assim que aplicou o golpe perfeito sobre a rival, um o-uchi-gari já num avançado golden score do combate, Maria Suelen olhou ainda com certa incredulidade, como que dizendo “Ganhei? Ganhei mesmo?”. Segundos depois, saltava com os braços erguidos no tatame antes de perfilar diante da rival para a tradicional referência que os lutadores trocam após a decretação do resultado. A seguir, foi abraçada pela cubana, que, fazendo valer a credencial de grande campeã, reconheceu o valor da conquista tão perseguida (assista abaixo).

Nunca é demais contar quem é Idalys Ortiz, uma das grandes lendas do judô mundial. A cubana nunca ficou de fora de um pódio olímpico, fez as duas últimas finais e foi campeã na primeira delas, Londres-2012. Mundiais são quatro finais, com duas vitórias, além de mais quatro bronzes. Tem, ainda, um ouro de Masters, torneio específico da modalidade mais importante depois do mundial, duas pratas e um bronze. E esses são os resultados mais marcantes. A cubana tem, ainda, outras dezenas de medalhas importantes no currículo.

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Final na Olimpíada

Ortiz está em Tóquio para mais uma Olimpíada. Elas lutam na outra quinta-feira, dia 29, com as classificatórias marcadas para às 23h (Brasília). O bloco com a repescagem e disputas de medalha começa às 5h do dia seguinte. Suelen e a cubana só se encontram em uma eventual final. “Eu venho fazendo um trabalho bem forte com o coach (técnico), tá me ajudando muito nessa trajetória toda, na disputada da vaga com a Bia, que é uma atleta bem mais nova. Eu sempre focando a minha mente”, acrescenta. “Eu faço o que eu amo. Estou treinada, estava treinada, então era chegar ali (na luta contra Ortiz) e me sentir feliz. Aqui em Tóquio não vai ser diferente. Eu vou lutar feliz, sem cobrança. A partir do momento que a gente está feliz, o resultado vem.”

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Um ‘detalhe’ da Olimpíada desse ano é a falta de público, imposta pelas autoridades japonesas por conta da pandemia da Covid-19. Logo no ano em que o torneio olímpico volta para o berço do judô, onde a torcida é sempre muito participativa. Nada, porém, que vá influenciar muito Maria Suelen. “Eu consigo prestar atenção só no técnico que está senado na cadeira, a torcida não influencia muito na hora que a gente está lutando. Eu não consigo escutar a arquibancada, o pessoal que está gritando do lado de fora. Eu só consigo escutar uma voz e é a voz do técnico. Acho que agora a gente está vivendo um momento diferente, que é um estádio vazio, só os atletas e comissão técnica. Os japoneses torcem muito, mas acho que não vai fazer tanta a diferença”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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