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Os Olímpicos

Prévia Pequim-2022 – Patinação Artística

Confira a prévia de mais uma modalidade que promete esquentar os Jogos Olímpicos de Inverno

(Olivier Brajon/Patinage Magazin)

A patinação artística está presente nos Jogos Olímpicos desde antes da criação das Olimpíadas de Inverno, assim como o hóquei no gelo. O esporte apareceu pela primeira vez nos Jogos de Verão de Londres-1908, não esteve em Estocolmo-1912, mas voltou para a Antuérpia-1920. Em 1924, Chamonix recebeu a primeira edição exclusiva de inverno, e a modalidade foi transferida para lá.

Desde então, este presente em todas as edições de inverno com as disputas individuais masculina e feminina e de pares. A dança apareceu pela primeira vez em Innsbruck-1976 e a disputa por equipes foi adicionada em Sochi-2014. Os Estados Unidos ainda são os maiores campeões, com 15 ouros e 51 medalhas em 90 provas disputadas na história. Mas se juntarmos a Rússia (14 ouros e 26 medalhas), a União Soviética (10 vitórias e 24 pódios), o Império Russo (1 ouro), a Equipe Unificada (3 ouros e 5 medalhas) e os Atletas Olímpicos da Rússia (1 ouro e 3 pódios), este hipotético país teria 29 ouros e 59 medalhas, passando os americanos.

Apenas 5 atletas tem 3 ouros na carreira: os canadenses Tessa Virtue e Scott Moir, da dança, com 3 ouros e 2 pratas (sendo 1 de cada nas provas em equipes), o sueco Gillis Grafström, cmo 3 ouros e 1 prata, entre 1920 e 1932, a norueguesa Sonja Henie, tricampeã feminina entre 1928 e 1936, e a soviética Irina Rodnina, tricampeã nos pares entre 1972 e 1980 com dois parceiros diferentes.

A história olímpica da patinação artística é cheia de grandes momentos e superações, como a recuperação de Nancy Kerrigan em Lillehammer-1994 após o ataque que quase a tirou dos Jogos, mas também fatos que deveriam ser esquecidos, como a compra de votos em Salt Lake City-2002.

Como funciona

O sistema de pontuação sofreu algumas alterações durante a história, mas assumiu o formato atual após a enorme controvérsia dos Jogos de Salt Lake City-2002. Até então, os árbitros davam notas até 6,0 para as apresentações e a pontuação final era de acordo com a colocação no programa curto e no longo. Após isso, a pontuação ganhou muitos detalhes e maneiras de reduzir a subjetividade. As competições começam com um programa curto, que deve durar no máximo 2min40s e conta com 7 elementos obrigatórios. Os 20 melhores nas disputas individuais e de dança e aos 16 melhores pares avançam para o programa livre, que tem duração máxima de 4min e diferentes elementos de acordo com a prova.

Cada elemento tem uma pontuação de acordo com o código e o juiz dá uma pontuação ao grau de execução de cada elemento, que varia de -5 a +5, de acordo com a execução. Esse grau de execução pode elevar ou reduzir a pontuação de cada elemento. Além disso, o juiz dá notas de 0 a 10 para os componentes da apresentação: habilidade na patinação, transições, performance, composição e interpretação. Há ainda as faltas, que fazem o atleta/dupla perder ponto, como quedas, problemas na roupa, no tempo da música, entre outros.

As pontuações do programa curto e livre são somadas e vence quem tiver a maior soma. Com estes novos critérios, agora a patinação artística pode ter recordes.

Já na prova por equipes, cada um dos 10 países participantes conta com pelo menos um homem, uma mulher, um par e uma dupla de dança. Cada um faz sua apresentação no programa curta. O melhor país ganha 10 pontos, o segundo 9 e assim por diante. Após as quatro apresentações, as cinco melhores voltam para os programas longos, que seguem o mesmo sistema. Vence o país com mais pontos no final.

Individual masculino

Hanyu Yuzuru patinação artística Jogos de Inverno Pequim 2022 destaques
Yuzuru Hanyu (JPN)

Pódio PyeongChang-2018: Ouro – Yuzuru Hanyu (JPN); Prata – Shoma Uno (JPN); Bronze – Javier Fernández (ESP)

Pódio último mundial (2021): Ouro – Nathan Chen (USA); Prata – Yuma Kagiyama (JPN); Bronze – Yuzuru Hanyu (JPN)

A prova masculina já foi disputada 25 vezes nos Jogos e foi dominada pelos suecos no início. O primeiro campeão foi Ulrich Salchow, que foi o primeiro da história a fazer o salto que hoje recebe o seu nome. Na sequência, Gillis Grafström se sagrou tricampeão, o único da história nesta prova. Depois dele, tivemos dois bicampeonatos na sequência do austríaco Karl Schäfer (1932 e 1936) e do americano Dick Button (1948 e 1952). Depois de Button, o primeiro bicampeão foi apenas o japonês Yuzuru Hanyu, que venceu em Sochi-2014v e PyeongChang-2018. Curiosamente a União Soviética nunca venceu a prova masculina, mas após a sua dissolução, foram 5 vitórias seguidas sendo uma do ucraniano Viktor Petrneko em 1992, competindo pela Equipe Unificada, e depois de quatro russos: Alexei Urmanov, Ilia Kulik, Alexei Yagudin e Evgeni Plushenko.

Yuzuru Hanyu chega preparadíssimo para conquistar o tricampeonato. Ele tem ainda dois títulos mundiais em 2014 e 2017 e outras 5 medalhas. Neste último ciclo venceu 4 etapas do Grand Prix e o Torneio Quatro Continentes, que exclui a Europa. Apesar de não ter tudo um ciclo tão forte como o anterior, Hanyu brilhou na seletiva nacional em dezembro, ao vencer com facilidade e quase conseguir completar o inédito Quádruplo Axel, o salto mais difícil do código e que até hoje ninguém fez em competição. Só que ele tem pela frente o estadunidense Nathan Chen, que venceu praticamente tudo que disputou desde o Mundial de 2018. Chen chegou em PyeongChang como favorito com três vitórias no GP, incluindo na etapa final, mas acabou em 5º. Na sequência ele foi campeão mundial em 2018, 2019 e 2021, venceu as finais do GP em 2018 e 2019 e é o atual hexacampeão nacional. Essa disputa promete ser uma das mais emocionantes dos Jogos, com Chen se apresentando no livre ao som de clássico de Elton John.

O russo Mark Kondratiuk tem apenas 18 anos, mas pode surpreender nesse Jogos. Ele acabou de vencer o Europeu em janeiro e o campeonato nacional em dezembro com belas pontuação acima de 280,0. Esta é praticamente a sua primeira temporada internacional como sênior. O também americao Vincent Zhou foi campeão mundial júnior em 2017 e bronze no Mundial sênior de 2019, além da ótima 6ª posição em PyeongChang. Ele venceu a única prova desta temporada que Nathan Chen perdeu. O Japão vem com outros dois nomes fortíssimos: Shoma Uno, prata na última Olimpíada, e vice em dois mundiais, e Yuma Kagiyama, prata no último Mundial. No campeonato japonês, Uno ficou em segundo atrás de Hanyu com a baita marca de 295,82 pontos. Hanyu venceu com 322,36. Outros que devem ir bem, mas não devem brigar por medalha são o chinês Jin Boyang, o italiano Daniel Grassl, o eltão Deniss Vasiljevs e o georgiano Morisi Kvitelashvili.

Minha aposta: Ouro – Nathan Chen (USA); Prata – Yuzuru Hanyu (JPN); Bronze – Shoma Uno (JPN)

Individual Feminino

Pódio PyeongChang-2018: Ouro – Alina Zagitova (RUS); Prata – Evgenia Medvedeva (RUS); Bronze – Kaetlyn Osmond (CAN)

Pódio último mundial (2021): Ouro – Anna Shcherbakova (RUS); Prata – Elizaveta Tuktamysheva (RUS); Bronze – Alexandra Trusova (RUS)

Assim como na prova masculina, as mulheres estrearam lá atrás em Londres-1908 com vitória da britânica Madge Syers. Antes da 2ª Guerra, a norueguesa Sonja Henie se tornou tricampeã com vitórias em 1928, 1932 e 1936. Apenas em 1984 e 1988 que uma patinadora se tornou novamente bicampeã, após as vitórias da alemã oriental Katarina Witt e ninguém mais repetiu o feito. Hoje o domínio feminino é totalmente russo, mas, assim como no masculino, a União Soviética nunca venceu esta prova e conta com apenas um único bronze, em 1984. O maior vencedor é os Estados Unidos, com 7 ouros.

Muito difícil alguém conseguir tirar a Rússia do pódio. As russas devem não levar apenas o ouro, mas um pódio completo é algo extremamente provável, como o ocorrido no último Mundial em 2021 e no Europeu deste ano. Em 6 etapas do Grand Prix nesta temporada, foram 5 vitórias e 5 pratas russas, sendo que em dois eventos elas fecharam o pódio. Até mesmo no GP Júnior elas dominam, com 5 vitórias em 7 etapas. E sempre com nomes novos e desconhecidos.

Lidera a equipe Anna Shcherbakova, campeã mundial em 2021 e vice europeia em 2020 e 2022. Em sua 3ª temporada sênior, ela foi ouro ou prata em todas as competições que disputou, mas na seletiva russa ficou em 3º lugar. Quem levou o título nacional foi Kamila Valieva, de apenas 15 anos. Ela venceu tudo nesta temporada, incluindo o Europeu e duas etapas do GP e se aproxima dos 300 pontos no total. Ela detém o recorde mundial no total com 272,71, mas no campeonato russo tirou 283,48, embora a marca não valha para recordes. Deve completar o pódio todo russo Alexandra Trusova, de 17 anos e bronze no último Mundial e no europeu este ano.

São poucas com chances de estragar a festa russa. O Japão vem com Kaori Sakamoto, 6ª em PyeongChang e no último Mundial, e Wakaba Higuchi, prata no Mundial de 2018. Já são três Olimpíadas em americanas no pódio e a principal aposta deles é a “veterana” de 25 anos Mariah Bell, mas que ainda não conquistou nenhum medalha internacional importante.

Minha aposta: Ouro – Kamila Valieva (RUS); Prata – Anna Shcherbakova (RUS); Bronze – Alexandra Trusova (RUS)

Pares

Pódio PyeongChang-2018: Ouro – Aljona Savchenko/Bruno Massot (GER); Prata – Sui Wenjing/Han Cong (CHN); Bronze – Meagan Duhamel/Eric Radford (CAN)

Pódio último mundial (2021): Ouro – Anastasia Mishina/Aleksandr Galliamov (RUS); Prata – Sui Wenjng/Han Cong (CHN); Bronze – Aleksandra Boikova/Dmitrii Kozlovskii (RUS)

A disputa de pares também faz parte do programa olímpico desde Londres-1908. Diferente das disputas individuais, a União Soviética dominou a prova desde Innsbruck-1964 e uma equipe não soviética ou russa só venceu em Vancouver-2010, com os chineses Shen Xue/Zhao Hongbo. Em Salt Lake City-2002 uma confusão marcou essa edição por conta das notas dada pela juíza francesa Marie-Reine Le Gougne, acusada de receber um suborno para ajudar a dupla russa a levar o ouro. Mesmo com isso, os russos Elena Berezhnaya/Anton Sikharulidze foram mantidos como campeões olímpicos, enquanto os canadenses Jamie Salé/David Pelletier também ficaram com o ouro. Em Mundiais, o domínio soviético/russo também se manteve, com 34 ouros contra 18 da Alemanha e 12 do Canadá.

Aqui está a principal chance de ouro chinesa na patinação artística com Sui Wenjing/Han Cong. Eles foram prata em PyeongChang-2018, campeões mundiais em 2017 e 2019, seis vezes campeões do Torneio Quatro Continentes e tricampeões mundiais júnior entre 2010 e 2012. Nesta temporada, eles venceram as etapas italiana e canadense do Grand Prix. Mas não terão vida fácil com as duplas russas. Evgenia Tarasova/Vladimir Morozov tem duas pratas e um bronze em Mundiais, dois ouros e sete medalhas em Europeus e vem numa ótima temporada. Anastasia Michina/Aleksandr Galliamov venceram o Mundial de 2021 e o Europeu este ano, além de vencerem o campeonato nacional. Levaram outros 3 ouros nesta temporada. A outra dupla russa Aleksandra Boikova/Dmitrii Kozlovskii foi bronze no último Mundial e no europeu este ano. Dificilmente alguém entra no meio dessas quatro duplas.

Minha aposta: Ouro – Sui Wenjing/Han Cong (CHN); Prata – Anastasia Mishina/Aleksandr Galliamov (RUS); Bronze – Aleksandra Boikova/Dmitrii Kozlovskii (RUS)

Dança no Gelo

Pódio PyeongChang-2018: Ouro – Tessa Virtue/Scott Moir (CAN); Prata – Gabriella Papadakis/Guillaume Cizeron (FRA); Bronze – Maia Shibutani/Alex Shibutani (USA)

Pódio último mundial (2021): Ouro – Victoria Sinitsina/Nikita Katsalapov (RUS); Prata – Madison Hubbell/Zachary Donohue (USA); Bronze – Piper Gilles/Paul Poirier (CAN)

A dança no gelo entrou pros Jogos em Innsbruck-1976 e tem ganhado cada vez mais popularidade. Em 12 edições, foram 7 vitórias soviéticas ou russas. Mas a dupla que mais brilhou na história recente foi a dos canadenses Tessa Virtue/Scott Moir. Campeões em Vancouver-2010 e em PyengChang-2018, eles ficaram com a prata em Sochi-2014. Eles ainda tem um ouro e uma prata na prova por equipes, sendo os únicos com 5 medalhas olímpicas na patinação artística. Eles ainda foram três vezes campeões mundiais e anunciaram a aposentadoria em setembro de 2019.

Sem os canadenses, quem entra com todo o favoritismo são os franceses Gabriella Papadakis/Guillaume Cizeron. Prata em 2018, eles já venceram o Mundial por quatro oportunidades, tem cinco títulos europeus e venceram a final do GP duas vezes. Acabaram desistindo do último Mundial e do Europeu este ano, mas venceram os GPs da França e da Itália. Em casa, fizeram a melhor marca do mundo na temporada com 221,25. Os principais rivais deles serão as duas duplas russas de Victoria Sinitsina/Nikita Katsalapov e Alexandra Stepanova/Ivan Bukin, com destaque para Sinitsina/Katsalapov, campeões mundiais em 2021 e prata em 2019. Eles também foram campeões europeus em 2020 e 2022.

De olho também nas duplas americanas Madison Hubbell/Zachary Donohue e Madison Chock/Evan Bates. A primeira foi prata no último Mundial e 4ª em PyeongChang e a segunda foi 4ª no último Mundial. Correm por fora os canadenses Piper Gilles/Paul Poirier e nos italiano Charlène Guignard/Marco Fabbri, bronze no Europeu este ano.

Minha aposta: Ouro – Gabriella Papadakis/Guillaume Cizeron (FRA); Prata – Victoria Sinitsina/Nikita Katsalapov (RUS); Bronze – Madison Hubbell/Zachary Donohue (USA)

Disputa por Equipes

Pódio PyeongChang-2018: Ouro – Canadá; Prata – Rússia; Bronze – Estados Unidos

Pódio último mundial (2021): Ouro – Rússia; Prata – Estados Unidos; Bronze – Japão

Dez equipes disputarão a prova que começa na quinta-feira antes da cerimônia de abertura com os programas curtos masculino, de dança e de pares.

Para levar aqui, não basta ter grandes patinadores em uma prova específica, pois a pontuação das equipes é pela classificação dentro de cada disputa, não pela pontuação que se tira na apresentação, ou seja, o que importa é a regularidade. Sendo assim, a Rússia é favorita absoluta aqui, pois deve vencer as disputas no feminino, nos pares, e na dança (Papadakis/Cizeron não irão disputar, pois a França não se classificou aqui) e brigar pelo top-4 no masculino. Estados Unidos deve vir na sequência, por conta de Nathan Chen, dos pares e da dança, enquanto o Canadá terá dificuldades de repetir a vitória em 2018 após as aposentadorias de Patrick Chan e Katlyn Osmond, que brilhavam nas disputas individuais. China e Japão devem brigar pelo bronze com o Canadá e a Itália.

Minha aposta: Ouro – Rússia; Prata – Estados Unidos; Bronze – Japão

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