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Tóquio 2020

O que esperar do esporte de alto rendimento após a pandemia?

Pesquisadores da UERJ e da FGV-CPDOC tentam apontar tendências no esporte de alto rendimento após o impacto do coronavírus

Pesquisadores apontam o que esperar do esporte após a pandemia
Pesquisadores tentam prever o que acontecerá com os Jogos Olímpicos e com o esporte após a pandemia (montagem/OTD)

A pandemia do novo coronavírus afetou, e muito, o mundo esportivo, ao ponto de se poder afirmar que ele nunca mais será o mesmo. Na tentativa de imaginar as mudanças que prática esportiva de alto rendimento sofrerá em um futuro próximo, a Agência Brasil conversou com dois pesquisadores cujo objeto de estudo é o universo do esporte: o sociólogo e professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) Ronaldo Helal e o professor da Escola de Ciências Sociais/FGV-CPDOC Bernardo Buarque de Hollanda.

Jogos sem a presença de torcedores

Um dos elementos que mais chama a atenção no novo normal do esporte de alto rendimento é a ausência de torcedores em praças esportivas. Segundo Ronaldo Helal, diante de um vírus novo e com contágio muito rápido, não dá para ser diferente. No Campeonato Alemão, por exemplo, esta mudança fica bem evidente

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“Com jogos com portões fechados e os jogadores sem se abraçarem na comemoração dos gols. E também fazendo testes regulares. Esta é a mudança que é possível no momento,” afirmou.

Bernardo Buarque de Hollanda também aponta o Alemão como o campeonato a ser observado, pois é a primeira das principais competições nacionais do Velho Continente a reiniciar após a pandemia do coronavírus, mas afirma que a realização das partidas sem a presença de torcidas não vai servir para todos os clubes, mas apenas para aqueles que estão na “vitrine do futebol mundial […], tendo exibição e alcance planetário”.

Ronaldo diz que a primeira mudança causada pela ausência de torcedores nos estádios é percebida na performance dos atletas.

“Você perde muito. Um espetáculo de massa, sem a massa. Mesmo transmitido pela televisão. É o mesmo que um teatro vazio. A tendência dos atores é não ter uma performance tão motivada por adrenalina como tem com a presença do público,” analisa. 

Alternativa viável

Para o esporte brasileiro, que ainda está pensando em formas de retorno aos treinos, imaginar formas alternativas de torcer ainda parece algo distante.

Mas na Dinamarca esta já é uma realidade. O campeonato nacional do país europeu optou por “levar” a torcida ao estádio através de telões instalados nas arquibancadas nos quais os jogadores veem imagens dos torcedores transmitidas por aplicativos de teleconferência.

Modelo dos Jogos em risco?

Um dos paradigmas que pode vir a ser questionado caso a pandemia perdure por um período de tempo muito longo é o da realização de grandes eventos esportivos no atual formato. No blog Laguna Olímpico, Marcelo Laguna apontou que já se discute o próprio modelo da Olimpíada, que há muito tempo vem sendo criticado pelo seu gigantismo e custos astronômicos. O francês Guy Drut, ex-ministro do Esporte da França e membro do COI, escreveu um artigo publicado pela FranceInfo no qual diz que o modelo atual dos Jogos Olímpicos está obsoleto.

Os pesquisadores Ronaldo Helal (UERJ) e Bernardo Buarque de Hollanda (FGV-CPDOC) apontam o que esperar do esporte após a pandemia do coronavírus
Abertura de Pequim-2008: a mais cara da história (Getty)

Drut, medalhista de ouro nos 110 m com barreira nos Jogos de Montreal-1976, disse que diante da crise que virá pela pandemia do coronavírus, o próprio modelo da Olimpíada de Paris-2024 precisa ser revisto, em razão dos custos astronômicos para construção de instalações, mesmo temporárias. Para ele, no futuro o ideal  seria ter sedes fixas para determinadas modalidades. Citou como exemplo o surfe, que em 2024 será realizado no Taiti, na Polinésia Francesa.

“O formato tradicional de um encontro a cada quatro anos, que reúne todos [os atletas] no mesmo local, com vila olímpica, pode ter de ser refeito […]. Entendo que, assim como todas as áreas estão se adaptando, pode ser que muitas coisas no âmbito do esporte que sejam consideradas imprescindíveis, das quais não se abre mão, sejam reinventadas”, diz o pesquisador da FGV.

Celebração da humanidade em 2021

Algo que Ronaldo Helal e Bernardo Buarque de Hollanda afirmam torcer para não mudar, quando se fala em grandes eventos esportivos, é que eles continuem a ser entendidos como momentos de celebração da humanidade.

“Há uma metáfora nos Jogos Olímpicos de uma união entre nações. O esporte proporciona um pouco isso. De as regras serem as mesmas para todos, que o melhor vence pelos seus méritos. Se superarmos esta pandemia, se já tivermos uma vacina para o coronavírus, e espero que sim, espero que seja uma grande celebração da humanidade [os Jogos de Tóquio], da vida após a pandemia, de união entre as nações e povos”, conclui Ronaldo Helal.

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