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Vôlei de Praia

Bruno revela medo com futuro do vôlei de praia e quer ajudar

Em live do OTD, Bruno Schmidt externou preocupação com a modalidade, sugeriu mudanças no Brasileiro e quer ajudar

Bruno Schmidt vôlei de praia masculino Evandro Bruno e Evandro Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
Bruno Schmidt foi medalha de ouro nos Jogos do Rio (Saulo Cruz/Exemplus/COB)

“A gente está em uma situação de quase respirar por aparelhos”. Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Bruno Schmidt não poupou palavras para expressar sua preocupação em relação ao futuro do vôlei de praia e até se colocou à disposição para “arregaçar as mangas” e ajudar a modalidade no que for possível, além de sugerir mudanças no Circuito Brasileiro.

Em entrevista realizada durante uma live no Instagram do Olimpíada Todo Dia, Bruno Schmidt desabafou sobre a situação do vôlei de praia e preferiu não citar nomes, mas criticou a gestão da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), responsável por organizar as principais competições da modalidade, e pediu mudanças.

“Adoraria ajudar o meu esporte a crescer, mas é difícil. Não vejo pessoas trazendo novas ideias. Não vejo quem está à frente da modalidade ter a vontade de arriscar, de mudar de fato. Parece que vai empurrando um ano após o outro de uma maneira que não é proveitosa ou lucrativa. Isso leva o nosso esporte para o momento que está. É um legado que eu faço questão de arregaçar as mangas e me doar”, disse o atleta de 33 anos.

“É minha missão, é meu dever fazer isso (ajudar a modalidade). Chega um momento do atleta que você vê mais que apenas seus jogos ou sua carreira. É o momento que estou. Há muito tempo venho incomodado em ver as notícias ruins do meu esporte. Não se sabe se vai renovar com os patrocinadores. A gente quer viver do esporte, não só praticar. Eu vejo uma situação complicada”, acrescentou.

Falta de investimento

Presente nas principais competições nacionais há cerca de 15 anos, Bruno Schmidt pôde sentir a queda de apoio, tanto é que o Circuito Brasileiro de vôlei de praia começou a década com 12 etapas, mas teve apenas sete no calendário da última temporada – contando a do Rio de Janeiro, cancelado por conta da pandemia do novo coronavírus.

“O vôlei de praia vem passando por um momento muito complicado, potencializado por diversos fatores, como a crise financeira. No pós-olímpico, eu vi um cenário muito ruim, de ver as etapas brasileiras serem fatiadas pela metade. O que está acontecendo? O Brasil é o atual campeão olímpico. As emissoras de televisão não querem se aproximar para tornar a modalidade mais atrativa, querem só o rápido retorno, que é futebol e novela”, apontou.

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Bruno Schmidt ainda revelou que duplas brasileiras não participam do Circuito Mundial de vôlei de praia por não conseguirem arcar com os custos das viagens. Em meio a este cenário, o campeão olímpico é um privilegiado, mas não esconde sua agoniado ao enxergar a situação complicada de um companheiro de trabalho.

“Eu conto com patrocinadores que apoiam minha carreira, mas eu queria que isso se estendesse mais. Queria ver meu companheiro de esporte, de trabalho, vivendo de fato disso, investindo em suas carreiras. E eu não consigo ver isso. Eu consigo montar minha equipe por conta dos patrocinadores, mas vejo ao meu lado um atleta com dificuldades de custear suas comissões ou até mesmo um técnico. Eu fico frustrado com isso, gostaria de ver esse esporte se profissionalizando e a gente saindo do amador”, afirmou.

Mudanças

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Pensando no futuro da modalidade e em formas de conseguir maior investimento, Bruno Schmidt sugeriu a possibilidade da criação de clubes. Atualmente, os atletas que participam do Circuito Brasileiro de vôlei de praia competem apenas pelo nome e em busca de premiações, como acontece no tênis e no surfe.

“Podemos aproveitar o momento nada legal que estamos e tentar algo novo para o futuro do Circuito Brasileiro, tentar se profissionalizar, se juntar a esse país do clubismo que a gente vive. Eu sei das dificuldades que os clubes estão passando e vão ter ainda mais após a pandemia, mas a gente precisa traçar ideias e ver se isso pode ser viável para o futuro. Não sei se poderíamos começar assim, mas ao menos seria uma tentativa. Precisamos sair da mesmice”, disse.

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Para Bruno Schmidt, a criação de clubes que participem do Circuito Brasileiro poderia fazer com que as pessoas tivessem maior proximidade com os atletas e até mesmo um motivo para acompanhar as partidas, já que teriam um vínculo para torcer por alguém.

“As pessoas não conseguem ter muita relação com as duplas e quando vão criando, elas se desfazem. Isso dificulta um pouco o nosso esporte, apesar de ele ser coletivo, formado em equipes, ele também é individual na sua essência. Eu tive três parceiros nos últimos três anos. Isso dificulta as pessoas e os patrocinadores para se juntar ao esporte e entender essa situação”, afirmou.

Renovação

Em live do OTD, Bruno Schmidt externou a preocupação com o futuro do vôlei de praia, sugeriu mudanças no Circuito Brasileiro e disse que quer a modalidade.
Ao lado de Evandro, Bruno Schmidt garantido nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Pedro Ramos/Ministério da Cidadania)

Aos 33 anos, Bruno Schmidt ainda é tido como um atleta da “nova geração”, assim como seu parceiro Evandro, que tem quatro anos a menos. Essa falta de renovação, pelo menos entre os homens, é um dos principais motivos da preocupação do campeão olímpico.

“O caminho pode ser irreversível no futuro, esse é o meu maior medo. A gente está notando a falta de renovação. Eu estou quase parando, mas ainda faço parte da nova geração do vôlei de praia. A gente não vê atletas com 18 ou 19 anos despontando do jeito que acontecia quando comecei. Isso mostra o caminho que o esporte está indo. Não está mais sendo atrativo para quem está vindo da base. Precisamos fazer o vôlei de praia ser atrativo”, apontou.

“Quando eu iniciei no vôlei de praia, era muito atrativo. Era uma busca pelo ranking com 24 duplas. Se você conseguisse o ranking, viajava pelo Brasil, eram diversas etapas. Tinha apoio para os atletas, já que custeavam passagens e hospedagens. Era um esporte que te propiciava a se tornar um profissional e focar seu tempo exclusivamente para ele. Hoje em um dia você tem um polo em João Pessoa, costumo falar que essa cidade está salvando o vôlei de praia… não vejo mais isso no Rio de Janeiro”, relembrou.

Cenário internacional e luz no fim do túnel

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País com mais medalhas conquistadas no vôlei de praia na história dos Jogos Olímpicos, o Brasil vê rivais sem tradição ganharem força na busca pelo pódio em Tóquio. Entre os homens, por exemplo, Noruega e Rússia, países que investiram na modalidade recentemente, têm duplas liderando o ranking mundial.

“Eu vejo o vôlei de praia brasileiro indo para uma direção contrária do que eu gostaria que estivesse indo com relação à renovação, crescimento e investimento. Lá fora o mundo está caminhando para o oposto. Quando eu falo que a dupla número 1 do mundo é da Noruega, todo mundo não acredita. Noruega, Rússia e Polônia, países de inverno, estão liderando o vôlei de praia atualmente”, afirmou.

Mesmo diante das preocupações em relação ao futuro do vôlei de praia, Bruno Schmidt busca ser positivo e deposita confiança nas pessoas que organizam a modalidade no Brasil, torcendo para que elas possam sair da zona de conforto e definir mudanças pelo bem do esporte que já conquistou 13 medalhas para o Brasil em Jogos Olímpicos.

“As duas modalidades do voleibol vão se juntar, se fortalecer no futuro pós-pandemia e voltar a trabalhar nas suas particularidades e no que torna esse esporte tão bacana. Estou vivenciando como atleta esse momento complicado, mas quem está à frente do esporte vai abrir os olhos e não deixar o vôlei de praia seguir pelo caminho que está. Se depender de mim, estou disposto a arregaçar as mangas para esse esporte voltar a bombar como há dez anos, quando era um esporte novo. Eu quero voltar a inflamar essa paixão”, finalizou.

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