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Vela

Apesar de não ser totalmente nova, 470 mista é a maior incógnita para a CBVela

Juan Sienra, Gerente Técnico da CBVela, explica que diferentemente da Fórmula Kite e da IQFoil, ainda é necessário entender detalhes fundamentais da classe

470 mista Copa Brasil de Vela
(Caio Souza/On Board Sports)

O programa da Vela para os Jogos de Paris tem três classes novas, sendo duas, a Fórmula Kite e a IQFoil, totalmente inéditas em raias olímpicas. A terceira é a 470 mista, mas ela não é exatamente uma grande novidade, uma vez que já existia separada em 470 masculina e 470 feminina. Ambas foram mescladas, com a tripulação agora composta por um homem e uma mulher. Apesar de não ser uma completa novidade em Olimpíada, é bem essa que traz mais dúvidas no planejamento da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) para a capital francesa.

“Nossa principal incógnita é o 470 misto. Por mais que tenhamos o conhecimento da categoria, ela nunca foi testada de forma mista. A classe se manteve, mas teve essa mudança. É uma categoria nova, com um barco que a gente conhece, mas temos de entender qual a combinação será melhor. Mulher no leme, homem no leme ou homem na proa, mulher na proa”, explica Juan Sienra, Gerente Técnico da CBVela. “Por causa do nosso planejamento de Tóquio, nossos melhores atletas femininos e masculinos estavam absolutamente dedicados à essa campanha e conseguimos fazer poucos testes. Então é a classe que vamos mais ter de desenvolver, e que está começando do zero”, acrescenta o uruguaio. “O IQFoil e a Fórmula Kite, por mais que sejam novas no programa, o Brasil já tinha uma representação, bons atletas. Então estamos com mais solidez no mapeamento.”

Nomes da 470 mista

Um dos pontos de partida para o desenvolvimento da 470 mista é a Copa Brasil de Vela, que está sendo realizada na cidade de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. São seis barcos na disputa nessa classe, três com homens de timoneiros e mulheres de proeiras e os outros três de forma invertida. Ana Barbachan, que esteve ao lado de Fernanda Oliveira na 470 feminina nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020, compete agora com o timoneiro Rodrigo Duarte, parceiro de André Fonseca na 49er em Atenas-2004 e Pequim-2008.

Juliana Duque e Rafael Martins já têm mais experiência em competir nesse formato, porém não nessa classe. Eles estavam na Snipe. “Juliana e Rafael têm um pouco mais de tempo em cima do barco. O fato de terem velejado juntos no Snipe ajuda, mas é um barco diferente. O 470 é mais planador, com um balão, uma terceira vela, e o Snipe não tem isso. Mas a classe em geral vai ter mais dificuldade para chegar na alta performance, vai levar um pouco mais de tempo para o pessoal se acostumar, se conhecer, entender a dinâmica de trabalhar juntos”, diz Juan Sienra.

Análise de estratégia

A Copa Brasil de Vela não é um dos pontos de partida apenas na 470 mista, mas também para todas as classes olímpicas. Sienra gerencia uma rede de treinadores para o alto rendimento que faz uma avaliação técnica visando o planejamento dos próximos anos, tanto no nível financeiro quanto no estratégico técnico esportivo. “Temos Martina e Kahena consolidadas, um Nacra com muito bom nível, acreditamos muito nas duas novas categorias, IQFoil e Fórmula Kite, e o 49er masculino que também pode se consolidar. Então temos muitas categorias para potencializar, algumas mais, algumas menos. Temos de trabalhar de forma muita cirúrgica para chegar em três anos com uma equipe para performance como a vela sempre fez. A modalidade com mais ouros no Brasil.” Além disso, a competição em Ilhabela tem como objetivo a seleção de atletas para o Mundial da Juventude de dezembro, em Omã.

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Sobre a IQFoil, uma das três novidades em Paris, ele enxerga atletas com potencial. Cita Mateus Isaac, de 27 anos, no masculino e no feminino a jovem Giovanna Prada, de 20 anos, filha do medalhista olímpico Bruno Prada. “Ela vem do nosso programa de formação das categorias de base. Fez todo o processo, participou dos Jogos da Juventude, do Mundial da Juventude e agora está se preparando para poder ser convocada para a equipe principal”, acrescenta o Gerente Técnico da CBVela, aumentando a lista com nomes de outras classes: Bruno Lima, na Fórmula Kite, Tiago Quevezo, da 49er, e Pedro Madureira, na Laser.

‘Jogo não acaba em Paris’

Outro destaque, mas ainda com muito para ser trabalhado, é Alex Kuhl. Aos 15 anos, ele foi campeão mundial na Optmist em julho deste ano, a classe de entrada na vela. Foi o primeiro título mundial brasileiro na categoria. “Várias estrelas passaram lá, o Robert (Scheidt), a Martine (Grael), e foi a primeira vez. Ele tem todo o potencial e talento para chegar. Já colocamos no programa de alto rendimento, já convocamos, para ir guiando até as categorias olímpicas.” Na Copa Brasil, o jovem ilhabelense está na 420 Sub-19 ao lado de Marcos Arndt.

“A gente quer que a juventude entre nas categorias olímpicas, uma coisa que estamos trabalhando muito bem, a Giovanna (Prada) é prova disso. Aqui temos várias atletas jovens participando nas categorias olímpicas. O jogo não acaba em Paris, temos Los Angeles”, diz Juan Sienra, que fala também sobre a importância das parcerias no trabalho feito pela CBVela. “Nossos parceiros são o Comitê Olímpico do Brasil, Ministério da Cidadania através de um programa do Governo Federal, o Bradesco, a Energisa, mas a confederação está de portas abertas. É um momento bacana para atrair novos patrocinadores. A gente implantou e inaugurou um programa de sustentabilidade, que o alto rendimento pode gerar sustentabilidade, trazer uma consciência de cidadania. Além do alto rendimento, queremos trazer os valores do mundo olímpico para a formação do cidadão. Passar isso para a cidadania.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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