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Impressões sobre os Jogos Pan-Americanos Lima 2019 – pt 2

Neste segundo texto, um panorama do Hóquei, desconhecido no Brasil mas com história e tradição pelas Américas

Como continuação do texto anterior, tão logo o meu trabalho na Apresentação do Esporte no Rugby Sevens terminou, no dia seguinte já começava com o Hóquei. Não o hóquei-no-gelo nem o hóquei em patins, mas o hóquei na grama, de campo, em inglês “field hockey”, modalidade centenária e bastante popular onde os ingleses estiveram mais presentes. Este detalhe explica porque é modalidade Panamericana: a história da América do Norte e do Caribe se confunde com a do Império Britânico. Na América do Sul, a influência comercial e cultural inglesa entre as elites locais favoreceu a prática do hóquei, sobretudo nos colégios bilíngues. Não à toa a Argentina é grande potência mundial na modalidade.

créditos: Miriam Jeske

Em primeiro lugar, a modalidade é espetacular. Os gols só valem dentro da área. Os tacos variam: podem ter curvas ou com apenas uma extensão paralela ao chão. A bola tem a textura da de uma de golfe, com o peso de uma maçã. Em resumo, uma “bomba” que pode fazer uma trajetória em várias dezenas de quilômetros por hora. As proteções que os goleiros usam são altamente justificáveis. Os jogos se dividem em quatro períodos de quinze minutos, bastante emocionantes. Mais uma vez, assim como no Rugby Sevens, o estádio era bastante funcional e agradável, com capacidade para aproximadamente duas mil pessoas, que ficou lotado todos os dias, de 29 de Julho a 10 de Agosto, durante o dia todo.

Surpreendeu-me porque não esperava que a modalidade tivesse tanto apelo em nível Pan-Americano. Nas Olimpíadas, estive na semi-final feminina, o estádio de Deodoro estava “abarrotado”, fazia ideia da grandeza. Idem em Villa María del Triunfo (arredores de Lima), mas desta vez como locutor em inglês para o estádio, na equipe de Apresentação do Esporte. O trabalho da Apresentação do Esporte consistiu em informar, entreter e engajar o público presente no estádio, em coordenação com a equipe de transmissão de vídeo dos Jogos, a de estatística, com os organizadores do evento esportivo (a federação internacional) e a de atrações culturais.

Pude perceber ao longo dos primeiros dias de agosto que os Limenhos e a população peruana em geral envolveram-se mais com os Jogos. Na mídia só se falava dos Jogos e tive a oportunidade de conhecer mais sobre a riqueza cultural e artística de um país que muito se visita – acredito ter uma das melhores infra-estruturas de turismo que já vi – mas pouco se conhece, refletida na Cerimônia de Abertura. Da salsa peruana ao heavy-metal local, com excelentes artistas, para além da sua gastronomia, o Peru é um país que através do esporte tem resgatado o seu orgulho e identidade (voltou a disputar um Mundial FIFA em 2018 depois de 36 anos e neste ano sedia os Jogos Panamericanos e Para-Panamericanos).

O Peru é aquele vizinho que sabemos onde mora, está sempre ali no lugar dele, saúda todas as vezes com a cortesia de que um dia você, sim, pode comparecer à casa dele, com a certeza de que será bem recebido.

créditos: Jose Barragan

De volta ao hóquei, o pódio foi igual tanto entre as mulheres quanto entre os homens. Deu a lógica: a Argentina, grande expoente mundial na modalidade, ficou com o ouro, Canadá com a prata e Estados Unidos com o bronze. Desse modo o meu trabalho nos XVIII Jogos Panamericanos Lima 2019 deu-se por encerrado, feliz e satisfeito por ter feito parte desta grande celebração de um continente que a cada dia nos deixa mais claro que temos muito mais semelhanças do que diferenças. Jogamos todos, fazemos parte do “Novo Mundo” e devemos fazer jus a esta alcunha.

 

Virgílio Franceschi Neto é Radialista, Mestre em Gestão do Esporte pela Universidade de Lisboa e Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-MG. Nas redes sociais, @virgiliofneto e no site virgilioneto.com.br

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