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Judô

Família leva Jéssica Pereira pro mundo e a espera após a jornada

Irmãos mais velhos apresentaram a arte marcial para a brasileira, quando ela tinha ainda sete anos, e ela pretende dar sequência ao trabalho iniciado por eles

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Família Pereira é forjada nos tatames (instagram/jessicapereirajudo)

É comum ouvir praticantes de esporte de alta performance, especialmente quando próximos do fim da carreira, enaltecerem mais os amigos que fizeram na caminhada do que realmente as conquistas. Em outras palavras, a ‘família’ que constroem é o grande troféu da jornada. A judoca Jéssica Pereira, provavelmente, não foge à regra, mas ela tem um algo mais, pois a família dela mesma, a de sangue, já existia desde os primeiros passos no tatame e a aguarda quando a trajetória no judô de competição terminar.

Ao todo, são seis irmãos. Três deles, os mais velhos, deram o início na carreira de Jéssica quando ela tinha sete anos. “Meus três irmãos mais velhos começaram a fazer judô e eu ia só pra assistir. Perguntaram se eu queria participar e eu falei que sim e foi assim que eu comecei”, explica.
“Eu tinha que ir. Ia ficar com quem em casa? Eu gostava de ir”, acrescenta.

O começo foi no Vasco da Gama, onde conheceu o primeiro Sensei, o Jomar Carneiro. “Eu comecei o judô com ele, aí ele foi mudando de clube e eu fui acompanhando sempre, pra todos os clubes que ele ia”, detalha.

Do Vasco ao Reação

Depois do Vasco, passou pelo Flamengo e pela Universidade Castelo Branco, antes de chegar ao Reação, clube que defende atualmente. “Meu antigo Sensei (o Jomar) que me levou pra lá. Teve uma época que ele ficou sem clube e ele falou que o melhor lugar do Rio de Janeiro que eu podia ir era o Reação, em 2012″, explica Jéssica Pereira.

Lá, ainda faixa marrom, conheceu uma nova família. “Fui muito bem recebida no Reação. Fiquei feliz porque era uma equipe de ponta no Rio de Janeiro, por ter grandes nomes. O Flávio (Canto), o Geraldo (Bernardes), técnico olímpico, e pude evoluir bastante nesse período. Só tenho a agradecer”, conta.

“Eu já vinha em uma evolução, já tava na seleção de base, mas eu acho que o diferencial do Reação são os treinos. Tem muita opção de treino e precisa de variação para estar preparado para qualquer tipo de adversário.”

A receita deu resultados e Jéssica Pereira alçou voos altos. Na categoria até 52 quilos, foi vice-campeã mundial júnior em 2013 e chegou perto do pódio em outros dois mundiais: em 2014, ainda no júnior, e no adulto em 2018.

Neste último, perdeu a medalha de bronze para a companheira de seleção Erika Miranda. Ao final da luta, um abraço apertado entre ambas daria pistas do que ocorreria um pouco mais tarde. Erika anunciaria a aposentadoria, abrindo caminho para Jéssica. Eis que um tropeção mudou o jogo.

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Erika, de azul, abraça Jéssica logo após a disputa do bronze em Baku (Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br)

Tropeço e categoria nova

Jéssica deu positivo para furosemida, um diurético, em teste realizado em setembro daquele mesmo 2018. E um ano que vinha cheio de bons resultados – havia sido também bronze no Grand Slam de Ecaterimburgo, bicampeão Pan-Americana e campeã do Grand Prix de Túnis – acabou ofuscado pela notícia do doping. Onde achou apoio?

“Como eu disse, a minha família é de judocas e eles me apoiaram e não me deixaram desanimar. Graças a Deus deu tudo certo e eu pude voltar a fazer o que eu amo. E estou muito feliz agora com essa volta”, disse.

A suspensão por doping acabou no final de 2019 e, junto com a liberação para voltar aos tatames, veio a mudança de categoria para a até 57 quilos. Fez um torneio, o Grand Slam de Paris, mas logo a seguir mais uma pausa forçada, desta vez pela pandemia do novo coronavírus. Onde ela achou meios para manter-se ativa? “Minha família. Eu treinava com a minha irmã em casa. Ela é judoca. A gente sempre treina junto, é a minha parceira de treino. Só que não adianta ter só um parceiro. Essa era a maior dificuldade”.

Passados alguns meses, os treinos e competições de judô aos poucos vão voltando à normalidade. Com eles, Jéssica Pereira vai retomando a carreira na nova categoria, de onde não pretende sair. Pensa em ir nela até Tóquio, Paris-2024 e, quem sabe, Los Angeles-2028. “Pelo menos mais um, mas acho que dá dois (ciclos olímpicos). Por isso é bom eu já ter começado na categoria nova porque é a categoria que eu vou tentar nos próximos ciclos”.

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Aí, quando tudo acabar, é possível, talvez provável, que olhe para trás e veja nas relações humanas, na família que criou via judô, o grande troféu da carreira. Terá também ao lado, como na vida toda, a família de sangue. “Eu penso em ter uma equipe. Acho que o judoca não deixa o judô pra trás. Eu já até tenho uma equipe da minha família, que é o Pereira Team”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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