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Paris 2024

Categoria nova é pra tentar Tóquio e também Paris, diz Jéssica

Jéssica Pereira diz que mudança de categoria é definitiva, explica os motivos e detalha como está sendo a adaptação

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Jéssica depende de decisão sobre a Rafaela para lutar em Tóquio (divulgação/CBJ)

Um belo dia Jéssica Pereira recebeu uma proposta para mudar de categoria no judô. Subir uma, da até 52 kg para a até 57 kg. O motivo inicial foi corrigir um desvio de rota imposto à seleção brasileira pensando nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas o desafio veio pra ficar, tanto que ela não apenas aceitou, mas também já se vê no novo peso nos ciclos olímpicos seguintes.

“Não foi planejado. O Ney (Wilson, Gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira Judô) veio com essa proposta de eu lutar uma categoria acima. É um desafio, uma categoria que eu nunca lutei, não conheço as adversárias, mas aceitei”, explica a judoca, que tinha uma carreira consistente nos 52 kg até ter de se afastar devido a uma suspensão por doping.

Pois foi outro caso de suspensão por doping que influenciou a mudança. “A Rafaela teve de parar e estavam precisando de alguém para estar na categoria e conseguir ir pras Olimpíadas. E pensaram em mim”, detalha Jéssica Pereira.

Rafaela, claro, é Rafaela Silva, a “dona” da categoria até 57 kg no Brasil. Apesar de dispensar apresentações, vale reforçar que ela é atual campeã olímpica, foi a primeira brasileira campeã mundial de judô, em 2013, e está entre as melhores do mundo já há algum tempo. Obviamente é uma das esperanças de medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Porém, Rafa foi pega em um exame anti-doping em meados do ano passado e está suspensa por dois anos. Hoje está fora da Olimpíada e última chance é o julgamento de um recurso na CAS (Corte Arbitral do Esporte). A atleta já apresentou os argumentos de defesa e falta apenas saber a sentença.

Paris e Los Angeles

Se a decisão “ajudar”, a vaga em Tóquio já é da Rafaela Silva, mas Jéssica não parece disposta a voltar atrás se isso acontecer. Quando questionada sobre quantos ciclos olímpicos ainda pretende fazer, não consegue dar muita certeza, vislumbra Paris-2024 e talvez Los Angeles-2028. Só deixa claro que será nos 57 kg.

“Eu não sei, ainda tenho que ver isso (ciclos olímpicos). Pelo menos mais um, mas acho que dá dois. Por isso é bom eu já ter começado na categoria nova porque é a categoria que eu vou tentar nos próximos ciclos”.

É bom salientar que a categoria que ela deixou, dos 52 kg, é hoje dominada no judô do país pela jovem Larissa Pimenta, que tá com a mão na vaga olímpica. Isso influenciou na decisão?

“Não sei, acho que tudo influencia. Ela já tava bem no ranking, o sensei veio com essa proposta. Tinha muita coisa a se pensar. E foi uma decisão tomada em acordo, não foi só minha. Eu entrei em acordo com o sensei, com todos. E eu achei que seria a melhor opção.”

Antes, tem Tóquio

Antes de Paris e Los Angeles, claro, tem Tóquio. E não basta a vaga de Rafa “sobrar”. Não é uma herança. Jéssica Pereira precisa também escalar o ranking mundial, que é a base para a distribuição das vagas olímpicas.

Ela é a 82ª colocada com 282 pontos. A linha de classificação flutua hoje um pouco acima dos 2 mil pontos. Missão impossível? “Eu acho que não. Se voltarem as competições, eu tô preparada. E se eu for bem, começo a subir no ranking então eu acredito que dá”, diz. “É bem alcançável. Em três competições, quatro, dá para alcançar”, avalia.

Primeira luta da brasileira nos 57 quilos, no Grand Slam de Paris

A falta de competições, diga-se, é um problema a mais. O circuito internacional ficou parado por sete meses e ainda não voltou com muita firmeza. Em outubro foi realizado o Grand Slam de Budapeste, marcando a retomada, mas o de Tóquio, que chegou a ser agendado, não vai ocorrer. Cogitou-se uma troca por Zagreb, também descartada.

A rigor, o único campeonato agendado, e ainda assim carente de confirmação irrestrita, é o Masters de Doha, em janeiro. Porém reúne apenas os atletas mais bem ranqueados – os 36, a princípio – e Jéssica Pereira deve ficar de fora.

Pontos no México

Se o calendário mundial da FIJ (Federação Internacional de Judô) está encerrado esse ano, o continental ainda reserva competição. E com uma boa pontuação. É o Campeonto Pan-Americano do México, de 19 a 22 de novembro, valendo 700 pontos aos campeões.

“Eu tenho que chegar na final agora do Pan-Americano, que soma bastante ponto”, projeta Jéssica Pereira. A judoca participou de um campo de treinamento específico para o torneio com a seleção brasileira na cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo.

“Estou muito bem preparada. Já fiz competições esse ano, em Portugal e na Hungria, onde eu acho que tive uma grande evolução. Subi muito aqui nesse período de treinamento, estudando as adversárias. E estou com muita vontade. Estou querendo muito esse resultado e vou fazer de tudo pra conseguir”, fala, com confiança, sobre os planos para Guadalajara.

O trabalho no México ficou menos complicado após a seleção do Canadá confirmar que não levará as melhores atletas na categoria, as duas líderes do ranking mundial: Jessica Kimklait e Christa Deguchi. Mas há ainda a experiente panamenha Miryam Roper, número 22 do mundo, a jovem dominicana Ana Rosa, 59ª, e a também brasileira Ketelyn Nascimento, a 40ª.

E o judô?

Decisão sobre o futuro da Rafaela, agendamento de competições são temas fundamentais, mas nada disso depende de Jéssica Pereira. A parte dela é treinar para se adaptar à nova categoria. Treinar e estudar.

Jéssica pereira categoria nova judô 57 kg seleção brasileira de judô Pindamonhangaba
(instagram/jessicapereirajudo)

“A adaptação é gradativa. Na categoria anterior, eu já conhecia as adversárias, já sabia como que tinha que entrar na luta. O meu maior desafio é esse. Eu tenho de fazer muito estudo de luta e competir, né? Pegar no quimono delas pra eu saber qual estratégia usar com cada uma. Esse é o maior desafio”.

Alguma diferença muito grande em relação aos 52 kg? “Talvez eu conseguisse fazer uma pegada melhor na cateogira anterior, mas eu não senti muita diferença. É mais conhecer a categoria, as adversárias. É fundamental na luta chegar lá e saber o que ela faz. É isso que é o pior”.

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Jéssica já fez três competições nos 57 kg. Uma, a primeira, foi ainda antes da paralisação pela pandemia, o Grand Slam de Paris. Venceu a primeira luta (assista acima) e parou na segunda rodada. “Eu lutei bem, mas eu me machuquei bem no começo da luta. Ganhei, mas não consegui lutar a segunda. Eu não conseguia nem colocar o pé no chão, machuquei o tornozelo”, conta.

A segunda foi meses depois, já no início do retorno das competições. Foi amistosa, em Portugal, mas rendeu o maior desafio até agora. Disputou a final contra a portuguesa medalhista olímpica Telma Monteiro. E venceu.

“Uma atleta muito importante que foi a Telma. Eu já tinha treinado com ela em Portugal. Nessa competição eu sabia que a maior dificuldade que eu teria seria ela. Foi uma luta dura, foi até pro Golden Score, mas eu sai feliz porque eu consegui uma finalização no ne-waza e saí campeã da competição”.

Logo depois veio o Grand Slam de Budapeste, e Jéssica parou de novo na segunda rodada. Nada que desanime ou a faça pensar se a mudança foi realmente uma boa para o judô dela.

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“Com certeza (foi uma boa decisão). Eu evoluí muito já nesse tempo, ainda tem muito a evoluir com certeza, mas estou em uma grande evolução. A gente tem feito bastante estudo (sobre adversárias) então eu acredito que vou conseguir grandes resultados”, aponta, com decisão.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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