PARIS – Na última quinta-feira (1), Caio Bonfim conquistou a medalha de prata na marcha atlética 20km e fez história em sua quarta participação em Jogos Olímpicos. Na sexta-feira (2), na Casa Brasil, espaço na capital francesa, o atleta concedeu entrevista coletiva e garantiu que vai usar esse feito para lutar por uma mudança na cultura esportiva do país.
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“Ninguém tem um bebê e fala: “Meu filho vai ser um grande marchador”. O Brasil tem uma 5ª série solta o tempo todo. Tinha muito nas ruas, foi pras redes sociais. Sempre existe um olhar de superioridade sobre o “novo”. Para a gente, alto é só o futebol e se tiver ganhando. O vôlei, antes da geração de prata, sofria o mesmo preconceito. Falavam que o vôlei não era para homem”, destacou.
Além dos preconceitos, o agora medalhista olímpico refletiu sobre as outras barreiras culturais que teve que superar e projetou um futuro melhor, pelo qual ele vai lutar.
“Eu vou lutar para que isso melhore. A iniciativa privada é muito difícil no Brasil, a gente vive mais de apoio do governo. É óbvio que a visão para a marcha atlética vai ser diferente. Se tem um menino de algum estado que está se destacando e não estão vendo, como tem no Espirito Santo um novinho, talvez depois dessa prata comecem a observar ele. Que essa medalha abra esse caminho para a gente crescer e possa continuar melhorando essa cultura esportiva. Que isso seja uma oportunidade para o brasileiro ver outra modalidade e abrir esse olhar de que nas Olimpíadas tem tantos talentos brasileiros contribuindo, se esforçando. Já fomos o país do tênis, do boxe, do skate. Eu fico feliz e esperava que a gente pudesse ter vários esportes, por isso fiz essa crítica”, completou Caio Bonfim.
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Mãe, técnica e agora medalhista
Quando a entrevista parecia ter acabado, chegou a hora da mãe de Caio, Gianetti Bonfim, oito vezes campeã brasileira na marcha atlética e hoje treinadora do filho, acompanhá-lo na frente das câmeras. Primeiro, o medalhista relembrou sua infância e fez questão de exaltar muito o trabalho e apoio de seus pais, que foi necessário para essa conquista.
“Para um cara que tem energia pra fazer 20, 50 km, ficar 4 horas sentado numa carteira na escola era muito difícil. Então quando os professores reclamavam para ela, ela falava: “Caio, se eu dei certo, você também vai”. Quando eu jogava futebol, achava que estava bem e era substituído, ficava revoltado, ela falava: “Caio, você vai dar certo para o esporte”. Ela sempre acreditou. Não tem como eu falar “eu”. Nós somos medalhistas olímpicos”.
“Foram eles a base. Você ter uma competição ruim mas ter uma casa que te apoia não é a realidade de todos os atletas. “Levanta a cabeça, você não tá sozinho”, é diferente quando você tem essa base, e a minha era uma base familiar. Meu clube, que eles fundaram, era um sonho deles… Eu que caí de paraquedas no sonho deles’, finalizou.
Gianetti, que reforçou o discurso de luta por uma nova cultura de esporte no Brasil, aproveitou para contar como é a relação entre mãe e filho, treinadora e atleta. “O trabalho que eu tenho é de ajustar tecnicamente. É uma prova muito técnica, depende da avaliação subjetiva do árbitro, ele tem que adivinhar o que o árbitro quer. Mas a gente não tem muitos problemas não. A gente tinha mais quando era mais novo, mais por relação mãe e filho do que treinador e atleta. Como atleta ele é muito bom.”