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Olimpismo Todo Dia

O que é um esporte e por que ele é olímpico?

Para Jim Parry, um dos prinicpais filósofos do esporte, é uma combinação de seis fatores, e por isso e-sports não são esportes.

o que é esporte olímpico? definições de jim parry pictograma dos jogos olímpicos de paris 2024

Nesse espaço pretendo falar um pouco mais de olimpismo, além de valores e políticas esportivas e olímpicas. Afinal, assim como a Olimpíada acontece Todo Dia, ela não só acontece dentro das quadras, pistas e campos, mas também nos bastidores, nas escolinhas e até nos lares ou no dia-a-dia. O que o Comitê Olímpico Internacional (COI) e várias entidades relacionadas tentam transmitir e nós também acreditamos é que o Olimpismo também acontece Todo Dia.

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Antes de falarmos de olimpismo, é importante buscar uma definição do que é o esporte para então falar sobre o significado os Jogos Olímpicos, tanto da antiguidade quanto da Era Moderna. Os estudos olímpicos trazem discussões importantes, pois nos fazem refletir sobre tópicos que nos são apresentadas como naturais. Porém, questões como a definição do esporte são de fato construções históricas e complexas. O que faz um esporte ser olímpico, sua inclusão nos Jogos Olímpicos ou algum valor intrínseco?

Um esporte é olímpico por participar dos Jogos Olímpicos ou ele participa dos Jogos Olímpicos por ser olímpico? Esse aparenta ser o debate do “ovo e a galinha” para os estudos olímpicos. O tema surgiu novamente quando breaking foi eleito um esporte olímpico, para surpresa de muitas pessoas que nem entendiam o breaking como um esporte. 

O conceito de esporte por Jim Parry

Por mais que esse debate seja movido por percepções subjetivas e pessoais, elas devem sempre ser trazidas por argumentos sólidos. Para um dos principais filósofos do esporte, Jim Parry, um esporte é uma combinação de seis fatores. São eles: 1- envolver humanos; 2- atividade física; 3- habilidades; 4- ser uma competição; 5- ter um conjunto de regras; 6- uma organização que controle. Seu artigo acadêmico “e-sports are not sports” (e-sports não são esportes, em português), publicado em 2018 e suas subsequentes aulas e palestras elaboram mais esses conceitos. 

Primeiramente, para o pensador britânico, o fato de envolver seres humanos elimina qualquer evento motorizado, em que a máquina importa mais do que o ser humano. Para ele, o hipismo e turfe são esportes já que são homens controlando animais. Em seguida, ele acredita que  a falta de atividade física desqualifica o xadrez e outros eventos mais intelectuais do que físicos. Logo depois, no terceiro ponto, Jim Parry diz ser impossível caracterizar como esportes atividades tais quais jogging, competição de comer cachorro-quente, ou qualquer outra coisa que não envolve habilidades.

Joao Victor Oliva
João Victor Oliva em prova de hipismo adestramento, parte do programa olímpico (Divulgação/CBH)

Ademais, no quarto ponto Parry argumenta que atividades físicas como alpinismo não são esportes já que não envolvem competições diretas. Claro que pode-se eventualmente acontecer uma competição de alpinismo por exemplo, desde que seja bem claro que o evento em si é competitivo e portanto potencialmente esportivo. Já pelo quinto ponto, o conjunto de regras é necessário para diferenciar treinos e atividades físicas de um esporte. E finalmente, é necessário uma organização que controle seja em nível mundial, nacional ou regional, ou seja, institucional.

E-esports são esportes?

Claro que objeções são sempre possíveis e para quem conhece Parry, bem-vindas. Ele adora argumentar e seguir com as discussões. Eu, particularmente, acredito que o hipismo adestramento por exemplo não tem o caráter “humano” pregado por Parry, enquanto nos saltos tem. Pode-se argumentar (como ele mesmo faz) que o tiro não tem o caráter físico. Porém, qualquer pessoa que já atirou ou acompanhou uma competição de perto sabe que o corpo é fundamental para o esporte. Seja por um balanço corporal adequado ou a posição e o movimento do braço que é essencial para um bom tiro. 

Esta teoria é a base do pensador britânico para afirmar que e-sports, por exemplo, não são esportes. De acordo com ele, em uma série de artigos e palestras, os esportes eletrônicos não correspondem as características 1 (humanos), 2 (atividade física) e 3 (habilidades), além das questões 5 e 6 ainda estarem sob intensa disputa por várias entidades. 

brasileiro compete em semana olímpica de esports organizada pelo comitê olímpico internacional em Singapura
Semana olímpica de e-sport com participação brasileira em Singapura (COI/Lionel Ng)

Tal posição não é universal, e vários outros pesquisadores esportivos, como Michael Naraine, apresentam argumentos contrários. De qualquer modo, como Parry argumenta, e eu tendo a concordar com ele, é preciso estabelecer bases teóricas para o debate. A partir daí, toda discussão é bem vinda, desde que com argumentos. Mas em paralelo a esses debates, o Comitê Olímpico Internacional (COI) segue se aproximando dos e-sports. Na semana retrasada, o COI organizou a Semana Olímpica dos e-sports em Singapura com grande pompa. E uma nova questão talvez surja: afinal, o que o COI considera como esporte e o que caracteriza um esporte olímpico? Algumas das exigências é a participação em dezenas de países, através de todos os continentes. Mas, infelizmente, ainda se esquiva de questões mais filosóficas e profundas sobre o que de fato significa esporte.

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

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