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Seleção Brasileira

Qual o saldo do Mundial de esportes aquáticos para o Brasil ?

Encerrado neste domingo (9), com as disputas finais da natação, o Mundial de esportes aquáticos de Kazan, na Rússia, foi longe de ser um desastre para a seleção brasileira. Obviamente que não pode ser considerado péssimo o desempenho de uma equipe que volta para casa com sete medalhas (cont.)

Encerrado neste domingo (9), com as disputas finais da natação, o Mundial de esportes aquáticos de Kazan, na Rússia, foi longe de ser um desastre para a seleção brasileira. Obviamente que não pode ser considerado péssimo o desempenho de uma equipe que volta para casa com sete medalhas (uma de ouro, quatro de prata e duas de bronze). Foram ainda 14 presenças em finais e 15 semifinais ao longo da competição. Estes números, contundo, quando analisados de uma forma mais profunda, não conseguem esconder um quadro preocupante para os esportes aquáticos do Brasil a menos de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio 2016. Por isso, fica a pergunta: qual o saldo do Mundial de esportes aquáticos de Kazan para o Brasil?

Nicholas, Fratus, Thiago e Etiene exibem suas medalhas na Rússia. Mas qual o saldo para o Brasil após o Mundial? Crédito: Satiro Sodré/CBDA

Nicholas, Fratus, Thiago e Etiene exibem suas medalhas na Rússia. Mas qual o saldo do Mundial de esportes aquáticos para o Brasil? Crédito: Satiro Sodré/CBDA

Vamos começar pela natação, carro-chefe da modalidade e que conta com alguns dos principais candidatos a brilhar nas próximas Olimpíadas. Há dois anos, no Mundial de Barcelona, foram duas de ouro, ambas com Cesar Cielo, que chegou a Kazan este ano muito longe de sua melhor forma técnica e principalmente física. Logo na prova dos 50 m borboleta, ele amargou um sexto lugar na final – que foi vencida pelo francês Florent Manaudou e que teve o brasileiro Nicholas Santos terminando com a prata.

Cielo, ao final da prova, já se mostrava resignado de que não conseguiria nada empolgante no Mundial, reclamou do ombro e 24 horas depois, após reunião com a comissão técnica e o médico da delegação, pegou o avião de volta ao Brasil, abandonando a competição.

Sem sua maior estrela, a natação brasileira mostrou o quanto podem ser enganosos os resultados dos Jogos Pan-Americanos, disputados 15 dias antes em Toronto. Tanto que pela primeira vez desde o Mundial de Roma 2009 o Brasil saiu da competição sem medalhas. E das quatro conquistas na Rússia, somente duas – 50 m livre com Bruno Fratus e 200 m medley de Thiago Pereira – correspondem a provas que constam no programa olímpico dos Jogos do Rio 2016. As pratas de Nicholas Santos (50 m borboleta) e Etiene Medeiros (50 m costas) são importantes, especialmente o de Etiene, primeiro pódio da natação feminina em Mundiais. Mas são feitos relevantes apenas à Mundiais de esportes aquáticos.

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Preocupante também foi ver o desempenho fraco de atletas que brilharam nos Jogos Pan-Americanos, quando inclusive cravando tempos excelentes, como foi o caso de Leonardo de Deus (200 m borboleta) e de Felipe França (100 m peito), que não conseguiram chegar a finais em provas olímpicas (França ainda alcançou a final dos 50 m peito). As dez finais da natação ficam abaixo das 11 obtidas em Barcelona 2013, sendo que na Rússia ainda teve a presença do revezamento 4 x 100 m misto, que não foi disputado dois anos atrás. Em relação a semifinais, foram 14 em Kazan contra 16 de Barcelona.

No caso das maratonas aquáticas, a despeito de ter obtido a única medalha de ouro do Brasil no torneio, com Ana Marcela Cunha – que por sinal veio numa prova que não faz parte do programa olímpico, a de 25 km, também houve uma redução no número de medalhas conquistadas em relação ao Mundial de 2013. Em Kazan, foram três (uma de ouro, uma de prata e outra de bronze), contra cinco obtidas em Barcelona (uma de ouro, duas de prata e duas de bronze). Como consolo, ao menos viu classificar três atletas para os Jogos de 2016: além de Ana Marcela, Poliana Okimoto e Allan do Carmo.

>>> Leia ainda: Fratus leva o bronze em Kazan com o terceiro melhor tempo de sua vida

O desempenho das demais modalidades aquáticas – polo aquático, nado sincronizado e saltos ornamentais – foi igualmente decepcionante, especialmente quando se analisa a expectativa de algumas específicas. caso do polo masculino, reforçado de atletas naturalizados e que tinha sido vice-campeão da Liga Mundial, amargou somente o 10º lugar em Kazan.

O supervisor executivo da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Ricardo Moura, entende que o Brasil teve um excelente laboratório para os Jogos do Rio 2016. “Não dá pra avaliar o processo todo apenas pelo Mundial. É preciso ver todo o contexto e sendo assim não era possível ter um cenário mais propício para medir todas as dificuldades que teremos que enfrentar ano que vem. Foram muitos dias de vila, diversos fusos horários, deslocamentos, viagens, etc. O nível de exigência da natação aumentou muito”, afirmou, em comunicado enviado pela assessoria da CBDA.

Por mais desculpas que se possam encontrar, a verdade é uma só: se quiser contribuir na ousada meta de terminar entre os dez primeiros do quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos do ano que vem, os esportes aquáticos precisarão evoluir muito. E sinceramente, até pela quantidade de recursos aplicados na CBDA, seja por meio da Lei Agnelo/Piva, seja pelo contrato de patrocínio com os Correios (R$ 49,7 milhões neste ano), era de se esperar que os atletas brasileiros chegassem em melhor condição para a última competição de alto nível antes dos Jogos Olímpicos.

Obs: dados das medalhas e finais brasileiras em mundiais anteriores de esportes aquáticos obtidos no blog Alberto Murray Olímpico

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