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Seleção Brasileira

O incômodo silêncio dos atletas brasileiros

Corte radical no programa Bolsa Atleta, fundamental para boa parte do meio esportivo brasileiro, não despertou as manifestações de indignação que deveriam ter ocorrido

Presidente Michel Temer, ao lado do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, discursa para atletas brasileiros antes da Olimpíada Rio-2016 (Crédito: Divulgação)

Neste domingo, completaram-se 20 dias desde que a Polícia federal levou o presidente do COB, Carlos Nuzman, para depor. O dirigente é apontado, por investigações dos ministérios públicos do Brasil e da França, como parte relevante de um esquema de compra de votos que deu ao Rio de Janeiro a vitória na eleição da sede da Olimpíada de 2016.

Ter o nome do homem que desde 1995 comanda o Comitê Olímpico Brasileiro ligado a uma investigação que tem conexões com investigados pela Operação Lava Jato – entre eles o ex-governador Sergio Cabral, condenado a 45 anos de prisão por corrupção – seria o bastante para despertar uma revolução entre os atletas brasileiros, certo?

Não foi bem assim.

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Fora algumas manifestações espalhadas por redes sociais ou em entrevistas, poucos atletas colocaram o dedo na ferida e se posicionaram. Alguns por receio de algum tipo de retaliação dos dirigentes, outros por alienação mesmo. Infelizmente, não dá para dizer que foi uma reação surpreendente.

Há cinco dias, uma decisão que irá causar um impacto direto na vida de milhares de atletas também despertou doses contidas de indignação. A informação de que o Governo Federal prevê em seu orçamento para 2018 um corte de 87% nos recursos do programa Bolsa Atleta é grave demais.

Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, divulgado pela “Folha de S. Paulo”, o valor que o Ministério do Esporte tem projetado para o próximo ano (R$ 491 milhões) é o mais baixo desde 2005.

O fato é gravíssimo, pois afetará diretamente na vida de milhares de atletas, a maioria longe dos bons contratos (os que ainda existem) de patrocinadores e que dependem deste dinheiro para manter vivo o sonho de brilhar no esporte.

Novamente, o que vimos foram isoladas e pouco ruidosas críticas. Sempre os mesmos. Mas como assim, rapaziada? Nem aquele postzinho bacana no Instagram, pra garantir aqueles likes de solidariedade? Vai todo mundo ficar quieto mesmo?

Sem assistencialismo

Antes de mais nada, é bom que fique claro que não se defende aqui a cultura do “coitadismo” do atleta brasileiro ou de qualquer tipo de assistencialismo. Longe disso. Nos últimos anos, nunca tanto dinheiro foi despejado no esporte de alto rendimento do Brasil. Muitos ganharam (com justiça) uma boa grana.

Acho, inclusive, que o programa Bolsa Atleta estava repleto de problemas, alguns sérios demais. Ao longo dos anos, foram inúmeras as denúncias de verbas mal distribuídas ou de gente que recebeu a grana sem ter esse direito.

O correto seria que no embalo do novo ciclo olímpico, o Bolsa Atleta fosse profundamente reformulado. Reduzido, se fosse o caso, mas com critérios técnicos, baseados em estudos da realidade do esporte brasileiro. Que fosse beneficiado quem realmente necessitasse desta verba para se manter na carreira.

Já disse aqui que os atletas brasileiros desconhecem o poder que têm de fato. Neste momento em que se desnuda sem dó os podres de várias confederações e os diversos casos de mau uso da dinheirama que foi despejada nelas nestes últimos anos, chegou o momento da virada.

Os atletas olímpicos brasileiros não podem desperdiçar a chance de realmente fazerem a diferença com o quase total silêncio diante de tantos escândalos.

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