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Os problemas da Olimpíada de PyeongChang e a crítica seletiva

Os problemas nos Jogos de Inverno estão tendo um tratamento bem mais compreensivo da imprensa internacional do que houve durante a Rio-2016

A internet falhou na cerimônia de abertura da Olimpíada de Inverno de PyeongChang (Crédito: COI)

O ótimo repórter Guilherme Roseguini, da TV Globo, que cobre com extrema competência o universo dos esportes olímpicos, fez um desabafo oportuno neste sábado, em sua conta do Twitter. O motivo foram os problemas com acesso à internet no Estádio Olímpico de PyeongChang, onde na sexta-feira ocorreu a abertura das Olimpíadas de Inverno.

Sim, amigo. Na moderníssima Coreia do Sul, que se orgulha de sua tecnologia de ponta, o acesso à rede fracassou para quem estava no local. O assunto foi tão sério que motivou duas conferências de imprensa promovidas pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) e com os integrantes do comitê organizador, para justificar os problemas.

Até que neste domingo (11), o comitê organizador anunciou que os Jogos de PyeongChang sofreram um ataque cibernético que causou a interrupção da internet de cabo e wifi poucos horas antes da cerimônia de abertura. Mas se recusaram a informar a fonte do ataque. Especialistas em segurança cibernética sugeriram que os ataques possam ter vindo da Coreia do Norte ou Rússia.

Como bem lembrou Roseguini em seu post, interessante ver a forma com que a imprensa internacional encarou o incidente. Não estou dizendo que não ocorreu, mas o tal  “ataque cibernético” encontrou receptividade na maioria absoluta das agências de notícias internacionais e principais veículos na Europa e Estados Unidos.

Para quem tem boa memória, não é necessário forçar muito para recordar como foi o tratamento desta mesma imprensa aos problemas que envolveram a organização da Olimpíada Rio-2016. Novamente, é preciso fazer um parênteses: é claro que existiram problemas nos Jogos do Rio. Alguns bem sérios, por exemplo, em relação ao serviço de (péssima e cara) alimentação nas arenas, por exemplo. Mas nada que qualquer outro grande evento esportivo no mundo não tenha passado, em maior ou menor grau.

Em 2016, porém, tudo foi superdimensionado e bastante explorando em diversas matérias pela imprensa estrangeira. O grau de tolerância dos jornalistas “gringos”, em muitos casos, era bastante reduzido.

Noravius x Zica

Outro jornalista brasileiro que está presente em PyongChang, Gustavo Longo, do site “Brasil Zero Grau”, lembrou em um texto que os sul-coreanos precisam tentar alguma simpatia para espantar o mau olhado, por causa dos contratempos.

Além da questão da pane na internet, ele lembrou que o mau tempo causou a transferência da prova do esqui alpino dowhill e da classificatória do snowboard slopestyle feminino, comprometendo a programação original. Não se ouviu um comentário negativo sobre isso. Se alguma prova da Rio-2016 tivesse sido transferência por algum imprevisto climático…

Houve ainda a contaminação de 86 funcionários da organização com norovirus, causada por má conservação de alimentos ou qualidade da água. Cerca de 1.200 seguranças foram postos de quarentena, por precaução. Alguém aí lembrou do barulho causado pelos casos do zika vírus no Brasil no começo de 2016?

O problema não é quando a imprensa corretamente aponta os problemas existentes em uma Olimpíada ou Copa do Mundo. A coisa complica quando transtornos ocorridos em países com mais tradição em mega-eventos sejam contemporizados. Já no “Terceiro Mundo”, o dedo apontado para os erros seja sempre mais rigoroso.

Que tal a grande imprensa internacional mudar um pouco a sua crítica seletiva?

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