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Coronavírus: a importância do adiamento de eventos esportivos

Medidas de isolamento e de quarentena são essenciais. E o esporte não foge a essa regra

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Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde declarou que estamos em uma situação de pandemia em todo o mundo devido à situação da covid-19, causada pelo novo coronavírus. Como não poderia deixar de ser, os eventos esportivos estão sendo muito afetados. Praticamente todas as modalidades estão sofrendo com adiamento ou cancelamento de suas competições.

Na China e em outros países vizinhos, torneios e campeonatos foram suspensos há algumas semanas.

A primeira grande organização do Ocidente a suspender seu campeonato foi a NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos, após o pivô Rudy Gobert do Utah Jazz testar positivo para a doença. No mesmo dia 11 de março, foi anunciado que a liga estaria suspensa por pelo menos 30 dias.

Partidas de futebol e outros esportes já vinham sendo realizadas sem torcida na Europa. À medida que os dias foram passando, os torneios foram sendo suspensos, e hoje a maioria dos campeonatos encontra-se em pausa forçada.

Mas será que essa é realmente a decisão correta? Não é um exagero?

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O presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil ontem, declarou ser contra: “Quando você proíbe jogos de futebol, entre outras coisas, você está partindo para o histerismo, no meu entender. Eu não quero. A CBF poderia, no caso, vender um percentual de ingresso, levando-se em conta a quantidade de pessoas compostas na arquibancada e não partir para simplesmente proibir isso ou aquilo porque cancelar não vai conter o vírus. A economia não pode parar. Vai gerar desemprego.”

Há realmente muita gente cética. Acham um exagero evitar aglomerações e contatos com outras pessoas.

Mas a realidade é que o poder de contágio do coronavírus é realmente fora do comum.

Epidemiologistas não se cansam de afirmar que sua capacidade de alastramento é abissal.

Acredita-se que cada pessoa infectada, em média, contamine de 2,2 a 4 pessoas. Para se ter uma ideia, qualquer doença infecciosa que apresente esse número maior que 1 deve ser acompanhada de perto, com medidas de contingência para diminuir o poder de dispersão.

O gráfico a seguir mostra como ele se espalhou na Itália, até o dia 12 de março.

Fonte: dailymail.co.uk

Em 21 de fevereiro, eram cerca de 100 casos. Que dobraram em cerca de quatro-cinco dias. Que dobraram após mais quatro-cinco dias. Que dobraram, e dobraram, e…

Hoje, já são mais de 20 mil casos no país. Ou seja, o crescimento é exponencial.

O número de mortes passa dos 1.800. Uma taxa altíssima de 7%. Se a progressão continuar nesse ritmo, a projeção é de que em um mês haja cerca de meio milhão de infectados, com 35 mil mortes.

Os hospitais na Itália já não estão dando conta. E não só dos infectados pelo coronavírus, mas também dos enfermos por outras causas. O sistema de saúde está entrando em colapso. O país parou, as pessoas não saem de casa.

E é isso que não queremos que aconteça no Brasil. Por isso as políticas de isolamento são tão importantes neste momento: para que a doença não se alastre em um curto espaço de tempo, havendo tempo para que os infectados se recuperem e o sistema de saúde possa comportar os novos casos.

E, obviamente, eventos esportivos devem ser considerados. E não falo somente da torcida, mas também dos atletas.

Veja o gráfico no vídeo abaixo publicado em reportagem do Washington Post, simulando como o coronavírus pode se alastrar em uma comunidade de 200 pessoas.

Cada ponto representa uma pessoa. Elas se movem aleatoriamente. No início, há somente uma pessoa infectada. Ela infecta aqueles com quem ela tiver contato. O coronavírus se espalha tão rapidamente que logo todas estão infectadas. Depois de um tempo, elas começam a se curar. Mas não sem antes haver um volume muito grande de doentes.

Agora veja o gráfico a seguir. Um quarto da população se move, e os outros três quartos ficam parados. O coronavírus se espalha bem mais lentamente, até que as pessoas começam a se curar antes que tenha havido um percentual muito grande de infectados.

Por isso uma aglomeração em uma arquibancada de um estádio ou de um ginásio em eventos esportivos é tão perigosa. Basta um infectado para que muita gente esteja a perigo.

Mas isso não se restringe à torcida. Imaginem 22 jogadores disputando um jogo de futebol. Se um deles está infectado com coronavírus, mas não sabe e nem tem sintomas, ele irá jogar normalmente, com o risco de infectar todos os outros 21. Esses, por sua vez, podem infectar suas famílias, amigos e colegas próximos.

Por isso, não, não é exagero o cancelamento de eventos esportivos, nem a recomendação para que se evitem aglomerações. E, na situação em que vivemos, mesmo jogos sem torcida podem ser arriscados.

(até porque, na semana passada, o jogo entre Paris Sait Germain e Borussia Dortmund, pela Liga dos Campeões da Europa, foi realizado em Paris sem a presença de torcida no estádio. Mas, do lado de fora do estádio, milhares de pessoas se reuniram e se aglomeraram para comemorar a vitória do time francês. De que adianta?)

O gráfico a seguir mostra o número de infectados em duas cidades na Itália até 13 de março. Após observar seu primeiro caso, Lodi implementou uma política de isolamento e quarentena no dia 23 de fevereiro. Bergamo, por sua vez, esperou até 8 de março. Vejam a diferença das curvas, e como Lodi conseguiu evitar um crescimento exponencial dos casos, ao contrário de Bergamo.

Sim, as políticas de isolamento podem fazer uma tremenda diferença. Salvarão vidas e poderão evitar um cenário ainda mais caótico.

Declarações irresponsáveis como a do presidente Jair Bolsonaro não ajudam em nada, assim como suas atitudes descabidas, como apoiar manifestações na época em que vivemos. Sim, a paralisação de diversas atividades fará a economia ser prejudicada, como ele apontou. Mas será que, pelo menos nesse contexto, a saúde da população não deve ter prioridade? E, conforme já explicado, o colapso do sistema de saúde pode ter um efeito muito pior na economia do país.

Cada um de nós deve fazer sua parte, inclusive ignorando tais disparates e conscientizando e ajudando o maior número de pessoas possível.

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