Siga o OTD

Esgrima

Protestos ucranianos marcam fim de semana na esgrima

Equipe de florete da Ucrânia e espadista juvenil se recusam a enfrentar Rússia. Federação de Esgrima, presidida por russo, permanece em silêncio.

Equipe ucraniana de esgrima se recusa a jogar contra Rússia na Copa do Mundo de Florete
(instagram.com/ukr_fencing)

O film de semana foi de protestos nas pistas de esgrima. Após uma Copa do Mundo de Espada feminina em Sochi interrompida no meio a medida que as atletas tentavam sair da Rússia, o time de florete masculino da Ucrânia se recusou a enfrentar o time russo na Copa do Mundo do Cairo neste domingo (27), uma esgrimista ucraniana também não disputou um jogo contra a Rússia no europeu juvenil e um belga foi prejudicado em meio ao combate por apoiar a Ucrânia.

Durante a disputa da Copa do Mundo de florete masculino por equipes neste domingo, a Ucrânia foi sorteada para enfrentar a Rússia pelas oitavas de final. Por ter se recusado a entrar em pista, os diretores do torneio organizado pela Federação Internacional de Esgrima (FIE) proibiram o país de disputar os outros três jogos que teria direito para definir 9º ao 16º lugar.

Em vídeo originalmente compartilhado pelo esgrimista polonês Szymon Czartoryjski no instagram, o esgrimista ucraniano Klod Yunes apresenta os motivos pelos quais o time não entraria em pista.

“A Federação Russa iniciou uma guerra contra a Ucrânia e estão bombardeando. Portanto não vamos jogar hoje, é o nosso protesto. Espero que todos entendam, entendam o que está acontecendo. Não podemos jogar hoje contra eles enquanto nossa família está sendo invadida. Esse é o nosso protesto”.

O vídeo mostrou brevemente que ao menos um dos esgrimistas russos aplaudiu o discurso de Yunes. O gesto russo não foi suficiente para a ucraniana Ulia Sopit, medalhista de bronze juvenil, que comentou no instagram que “imaginávamos que os russos fossem recusar… então não escrevam dizendo que sentem muito e vocês não quiseram! Provem com ações, não em palavras. Todos os russos estão envolvidos”.

Vale ressaltar que na sexta-feira, um dia após a invasão russa, o ucraniano Andrii Pogrebniak participou da mesma chave do russo Timur Arslanov pela competição individual, com placar de 5 a 0 em favor do russo. Sem imagens da partida, não é possível afirmar se houve de fato o jogo.

Mais um protesto ucraniano no europeu juvenil

No campeonato europeu juvenil de esgrima, também realizado neste domingo (27) em Novi Sad, Sérvia, a ucraniana Emily Conrad foi para a pista no torneio de espada feminina avisar que não jogaria diante da russa Anastasia Nazarova na chave de 64, que terminou em quinto lugar. Num vídeo circulado pela Federação Ucraniana de Esgrima, o que parece ser o técnico da atleta afirmando em pista que:

“A Rússia é um estado criminal, massacrando pessoas com aviões, helicópteros e misseis e por conta disso, nossos jovens não podem vir aqui pacificamente e jogar esgrima numa competição internacional. E por conta disso, nós não vamos jogar contra representantes de um estado criminoso”. 

Conrad, de apenas 14 anos postou em sequência no story de seu instagram uma mensagem em inglês que dizia: “se o preço for a tua paz, então é muito caro”. Relatos de esgrimistas na internet afirmam que inicialmente o resultado divulgado havia sido 15 a 4 para a russa, antes do resultado oficial ser alterado para “ausência por condição médica”.

Belga solidário é prejudicado por portar uma braçadeira ucraniana

Outro protesto que circulou pelas redes sociais neste fim de semana foi o do esgrimista Stef De Greef durante a Copa do Mundo individual de florete no Cairo. Em pleno combate eliminatório contra o sul-coreano Ha Taegyu foi interrompido para retirar uma braçadeira com as cores azul e amarela da bandeira ucraniana. 

Segundo relato de seu pai e antigo presidente da Federação Belga de Esgrima Alain de Greef, Stef foi o único a mostrar visivelmente qualquer solidariedade. Quando o placar de sua rodada de 64 estava 11 a 9 para o sul-coreano Ha, os diretores do torneio de nacionalidade francesa e italiana pediram para o atleta retirar sua braçadeira, alegando que apesar de apoiarem o ato era contra as regras. “Stef obedeceu, muito focado em seu jogo, mas ao mesmo tempo ele perdeu imediatamente o foco para vencer”.

Alain seguiu falando que o atleta está “devastado e se arrepende amargamente de ter sido levado pela covardice e simpatia de mau gosto dos diretores. Ele se arrepende de não ter se recusado a tirar a braçadeira, deixando toda responsabilidade pela decisão com os diretores do torneio” acrescentando que Stef “pode olhar para si no espelho esta noite”.

A Federação Internacional de Esgrima (FIE), presidida pelo bilionário russo, Alisher Usmanov passou o fim de semana estranhamente calada. A interrupção da Copa do Mundo de Sochi de espada feminina em pleno combate não foi comunicada ainda de forma oficial e os resultados já não constam mais no site da federação. Além disso, as fotos dos torneios que em geral são postadas rapidamente também estão sem atualização há dois dias em meio a vários protestos nas redes sociais contra a manutenção do torneio em Sochi e a referência aos protestos.

+ SIGA O OTD NO YOUTUBETWITTERINSTAGRAMTIK TOK E FACEBOOK

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

Mais em Esgrima