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Basquete

Contra racismo velado, Iziane prega união e representatividade

Grande nome do basquete e atual dirigente do Sampaio Corrêa, Iziane destacou importância do debate sobre racismo para promover mudanças

Iziane Castro - Racismo
Iziane Castro é uma das principais atletas do basquete brasileiro (Divulgação/COB)

O ano de 2020 trouxe à tona novamente as discussões sobre racismo. Movimentos pela igualdade racial ganharam força e não foi diferente dentro do esporte, na voz de atletas, times e instituições esportivas, como Iziane Castro, um dos maiores nomes do basquete feminino brasileiro.

Nascida no maior quilombo urbano da América Latina, em São Luís do Maranhão, Iziane deixou seu estado natal em 1997, aos 15 anos, em busca do seu sonho. E aos 21, já estava atuando entre as melhores do mundo na WNBA, liga de basquete dos Estados Unidos. O caminho, no entanto, não foi fácil.

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“O racismo sempre foi velado no nosso país.  Então, obviamente que quando saí daqui, eu não tinha ideia desse tipo de coisa. Eu fui criada por mulheres pretas e fortes que me ensinaram a saber quem sou, qual meu papel e que ninguém pode julgar ninguém por questão da cor da sua pele, por religião”, contou Iziane Castro.

“Além de ser preta, eu também sou mulher em um esporte considerado masculino, portanto, existem vários outros tipos de preconceito que envolvem toda minha trajetória. A minha geração não foi preparada para isso e hoje a sociedade esportiva está se adequando a isso que existe há muito tempo”, completou.

Iziane Castro
Iziane foi um dos principais nomes da seleção após a aposentadoria de Janeth (Divulgação/COB)

Desunião no esporte

Se hoje o racismo está sendo colocado em pauta é porque pessoas ao redor do mundo levantaram suas vozes contra a desigualdade racial. Para Iziane Castro, no entanto, isso nem sempre acontece, e atletas e instituições esportivas brasileiras deveriam se unir mais em prol da causa.

“Sabemos que abolir o racismo estrutural não é só com o ato da Iziane falar, mas trazer todo um ciclo de atletas para falar, trazer os dirigentes e os técnicos. Eu sinto que nossa classe é um pouco desunida em relação a isso. A rivalidade da quadra acaba indo para fora dela e não nos entendemos enquanto um grupo, não conseguimos ter um time que aborde, que fale, que lute, que brigue. E isso é necessário”.

“Temos que nos posicionar sempre, mas é também por se sentir inferiorizado, humilhado naquele momento e não querer dar voz. Tudo isso vai dessa educação de como se comportar diante de um ato racista, ou até mesmo um ato de assédio. Precisamos realmente aprender a dialogar sobre isso, porque não se pode deixar que nenhum ato racista passe. É muito importante que a gente tenha essa consciência”, acrescentou.

Representatividade

Uma das palavras que mais esteve em voga em 2020 foi representatividade: a importância de se reconhecer no outro. Há 20 anos, quando jogava na WNBA, Iziane Castro não tinha noção da relevância de seu papel e da influência que exercia – e exerce – sobre outras pessoas.

“Fui perceber o meu impacto enquanto atleta e mulher preta nos contatos com as pessoas. Eu tenho uma lembrança muito nítida de um dia que eu estava em uma loja e uma senhora negra veio e me abraçou. Você via no rosto dela a felicidade por se sentir representada por uma mulher preta que atuava pela seleção brasileira, uma pessoa de sucesso. Ali eu senti o impacto do que eu representava”, relembrou.

Iziane Castro - racismo
Iziane Castro jogou por mais de 10 anos nos Estados Unidos (Instagram/izianebasquete)

“Eu sempre acreditei que temos de liderar por exemplo, e foi isso que sempre fiz. Tenho muito orgulho de ser preta, de ser mulher, de ser nordestina, e sempre me apresentei dessa forma para mostrar principalmente para os mais novos que temos orgulho de quem somos, do que somos e do que nos tornamos”.

Virando o jogo

Com o tema do racismo em pauta, diversos setores da sociedade precisaram se adequar à uma nova realidade, que já não aceita como antes a desigualdade racial. E o esporte não foi exceção.

“Hoje existem programas contra o racismo e contra o assédio dentro do COB (Comitê Olímpico do Brasil), mas esses programas são recentes, de 2020. Os atletas não são preparados e por isso existe a necessidade desses projetos. Porque as pessoas estão possibilitando ter voz. E quando você tem voz, começa a mover a sociedade e os outros começam a tomar providências para enfrentar o racismo”.

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E atualmente, Iziane Castro é uma dessas principais vozes, especialmente ocupando o cargo de dirigente no Sampaio Corrêa.

“Eu sou a única dirigente esportiva preta dentro do basquetebol feminino. Hoje entendo que são lugares de destaque onde não temos muitas iguais a mim. Mas, se for preciso, serei sempre a pioneira. Sei o meu papel de direito e não me sinto menor dentro do ambiente com maioria de homens brancos. Tenho muito orgulho em ser percursora, sendo uma mulher preta abrindo portas para que outras também se inspirem e possam adentrar no seu lugar de direito, porque podemos estar onde nós quisermos”, concluiu.

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