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Basquete

25 anos depois, brasileiras lembram a conquista do Mundial

Primeira equipe campeã mundial pelo país em esportes coletivos se reencontra 25 anos depois da conquista e relembra o título

Karine Instituto Janeth Arcain

Há 25 anos elas atravessaram o mundo. Há 25 anos atrás elas saíram do país desacreditas. Há 25 anos atrás elas venceram os Estados Unidos. Há 25 anos atrás elas conquistaram o mundo. Há 25 anos a Seleção Brasileira feminina de basquete formada por Hortência. Helen, Adriana, Leila Sobral, Paula, Janeth, Roseli, Simone, Ruth, Alessandra, Cintia Tuiú, Dalila e comandada por Miguel Angelo da Luz vencia a China, por 96 a 87, e conquistava a medalha de ouro no Mundial de basquete feminino.

Na inauguração do Sesc Guarulhos, 11 das 12 jogadoras que faziam parte daquela equipe, somente Cintia Tuiú por morar na Itália não compareceu, se reuniram para inaugurar o ginásio poliesportivo da unidade em uma partida exibição com meninas de um projeto da cidade.

Muito além da partida, as ex-jogadoras que defenderam o Brasil durante alguns anos usaram o evento para relembrar histórias, fatos engraçados, momentos das partidas e como até os jogos onde foram derrotadas, foram importantes para que a conquista fosse concretizada.

“Todos falam muito do jogo dos Estados Unidos, mas ganhamos da China na final para ficar com o título, mas só vencemos elas na final porque tínhamos perdido para elas na segunda fase e aprendemos com os erros. Assim como a derrota para a Eslováquia na primeira fase nos fez corrigir muita coisa. Vejo cada um dos jogos, vitória e derrota, como essenciais para o título”, comentou Hortência.

Uma das mais jovens no grupo daquele Campeonato Mundial de Basquete feminino, Adriana vê de maneira diferente. Apesar de concordar que as derrotas foram importantes para que o time tomasse forma durante o torneio, a ex-jogadora elege duas partidas como essenciais.

“Pra mim, dois momentos foram muito importantes, fizeram a chave virar. A vitória contra a Espanha, porque ficamos atrás do placar o tempo inteiro quase, conseguimos crescer nos minutos finais, ganhamos e essa vitória nos colocou entre as quatro melhores, o que fez com que uma olhasse pra outra e conseguisse entender que poderíamos. E a semifinal contra os Estados Unidos. Da forma como foi, todas saíram de lá com a certeza que de o título seria nosso”, comentou.

MVP do Mundial em 1994 e cestinha do Brasil com 221 pontos, Hortência fez o campeonato de sua vida na Austrália. Ao lado de “Magic” Paula e de uma jovem Janeth, comandou o Brasil durante os oito jogos e hoje entende o porque tudo aconteceu daquela forma.

“Era meu último tiro. Eu tinha 35 anos, era o último Campeonato Mundial de basquete feminino da minha vida. Eu sabia que iria parar com a Seleção Brasileira depois daquele. (Hortência voltou a defender o Brasil em 1996 na Olimpíada e conquistou a prata) Era a minha última chance de colocar o país no topo, de conquistar algo com o país e nós ganhamos”, disse a camisa 4 daquela equipe.

A mescla de gerações foi uma das chaves para o sucesso da equipe. Comandado por Hortência e Paula, que já estavam na reta final de suas carreirras, com um Janeth já com uma posição consolidada dentro do quinteto titular e sendo fundamental fechando o trio brasileiro e com jovens como Alessandra, Adriana e Leila Sobral, que somavam sempre que estavam em quadra.

“Era um sonho para a maioria das meninas que estavam lá da minha geração. A gente assistia a Hortência e a Paula jogarem e naquele Mundial estávamos dividindo a quadra com elas, então foi um sonho pra gente, que acabou terminando da melhor forma possível”, comentou Leila Sobral.

A Seleção que joga baralho e pinta junta

Além dos oito jogos, os 25 dias que estiveram juntas na Austrália fez com que histórias inusitadas acontecessem. A mais lembrada por todas as jogadoras é o fato de terem pintado os tênis antes da estreia, por conta de um mal entendido com inglês.

“No dia do congresso técnico (que aconteceu na véspera da estreia) o representante do Brasil voltou com a informação que era preciso que todas as atletas jogassem com o tênis da mesma cor. No nosso caso, metade tinha o tênis branco e metade preto, a saída foi pintar os tênis de preto e torcer pra que ele não molhasse. Passamos a madrugada pintando e chegamos pra jogar no outro dia e vimos que as adversárias cada uma com um tênis de uma cor. Só depois descobrimos o mal entendi por conta do inglês”, comentou Adriana.

Para qualquer atleta perder não é uma opção. Mas Hortência era assim com tudo. Durante o período livre que tinham no Mundial de basquete feminino, as meninas da Seleção Brasileira se reuniam para jogar cartas. Contudo, o jogo só acontecia, se a camisa quatro saísse com a vitória, caso contrário ele era terminado.

“A Hortência não aceitava perder, nunca. Então a gente jogava cartas, mas se ela percebesse que iria perder, ela melava tudo e a partida nunca acabava”, comentou Janeth.

Futuro difícil

Em um evento feito para lembrar o passado, algumas jogadoras falaram o que pensam do futuro. Sem técnico, fora do Campeonato Mundial do ano passado, o que não acontecia desde 1959, a Seleção Brasileira feminina de basquete passa por um momento complicado.

A geração de Hortência, Paula e Janeth colocou o Brasil no mapa mundial do basquete, quebrando a hegemonia existente entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, conquistou para o país uma prata e um bronze em Jogos Olímpicos, em Atlanta e Sydney. Contudo, para a rainha do basquete brasileiro, o país perdeu uma oportunidade de ouro na década de 90 e é preciso organização e tempo para que a modalidade apareça bem novamente.

“Acho que vai demorar. Perdemos uma oportunidade boa com essa geração campeã mundial e medalhista olímpica em mais de uma edição. Os erros de gestão colocaram o Brasil aonde ele está hoje e é claro que não temos uma boa equipe. Penso que se hoje, os erros acabarem e arrumarmos a casa, dentro de 10/15 anos teremos uma boa Seleção Brasileira”, finalizou Hortência.

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