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Tóquio 2020

Em um ano, Fratus vai em busca do sonho que escapou por 0s02

Um dos maiores velocistas da história da natação, Bruno Fratus cairá na água em Tóquio para buscar a tão sonhada medalha olímpica; revezamento 4x100m medley pode ser a cereja do bolo

Em um ano, Bruno Fratus cairá na água para buscar a inédita medalha olímpica (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

Daqui exatamente um ano, se tudo correr bem, uma longa espera finalmente pode finalmente acabar nas piscinas dos Jogos Olímpicos de Tóquio com um desfecho feliz. Aos 30 anos de idade, o carioca Bruno Fratus, um dos maiores velocistas da história da natação brasileira, cairá na água para nadar os 50 m livre e finalmente conquistar uma medalha olímpica para seu vitorioso currículo.

O dia também terá a participação do revezamento 4 x 100 m medley masculino, que tem tudo para chegar a final olímpica e, quem sabe, surpreender.

O Olimpíada Todo Dia conversou com o “Coach” Alex Pussieldi, comentarista e fundador/editor-chefe da “Best Swimming”, e preparou um mini guia sobre as duas provas, a fim de entender como Fratus e o revezamento chegarão nos Jogos Olímpicos de Tóquio daqui a um ano e quem serão seus principais adversários. Confira!

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Um “quase muito quase”

Em sua estreia olímpica, aos 22 anos, Bruno Fratus ficou muito perto de ter uma medalha olímpica. Nos Jogos de Londres-2012, o carioca nadou os 50 m livre e não subiu ao pódio por apenas dois centésimos de segundo. Fratus ficou em quarto com 21s61, atrás de Cesar Cielo, campeão olímpico da prova à época e que ficou com o bronze nas piscinas da capital inglesa.

O sentimento após a prova não foi de frustração. O resultado abriu os olhos de Bruno Fratus e lhe trouxe a certeza de que tinha um tinha imenso potencial para ser medalhista olímpico. Empenhado em realizar o objetivo que escapou por pouco, o nadador se mudou para os Estados Unidos, para treinar com o australiano Brett Hawke, mentor de Cesar Cielo.

A um ano da estreia, o OTD conta como chegaria Bruno Fratus, uma das maiores esperanças de medalha do Brasil nos 50m livre, e o revezamento 4x100m medley
Brett Hawke e Bruno Fratus: técnico ajudou a lapidar o talento do nadador nos 50m livre (arquivo)

Nadando nas piscinas da Universidade de Auburn, no Alabama, sob o comando de um dos melhores do mundo e com muito esforço e dedicação, logo começou a colher bons resultados. De 2013 a 2015, Fratus nadou 19 vezes abaixo dos 22 segundos, feito incrível para um velocista. Além disso, foi campeão do Pan-Pacífico, marcou o 3º melhor tempo do ano em 2014 (21s41). No ano seguinte, levou a medalha de bronze no Mundial de Kazan2015 e fez a segunda melhor marca um ano antes da Olimpíada Rio-2016 (21s37).

Tudo indicava que nada o pararia no Rio de Janeiro. No entanto, uma lesão na região lombar apareceu em fevereiro do ano olímpico e o prejudicou muito. Com dores nas costas durante toda a reta final do ciclo, Bruno Fratus nadou no sacrifício e não conseguiu repetir as performances que obteve no final de 2015, ficando “apenas” com 6ª colocação.

Ciclo olímpico: da depressão à volta por cima

O resultado na Rio-2016 fez Bruno Fratus começar o atual ciclo olímpico completamente desmotivado, a ponto de fazê-lo flertar com a depressão. Para piorar, o nadador foi dispensado do Pinheiros após muito anos com o clube e chegou até a passar por dificuldades financeiras.

A mudança do Alabama para a Flórida, o contato com a psicóloga do COB Carla di Pierro, e o fato de começar a ter os treinos enviados por Brett Hawke a distância aplicados diretamente pela sua esposa, a ex-nadadora e medalhista pan-americana Michelle Lenhardt, ajudaram a revigorar as energias de Bruno Fratus.

Sob a orientação da mulher que ama, os resultados melhoraram mais ainda. As 19 performances abaixo dos 22 segundos se transformaram em 42, tornando Fratus o velocista que mais vezes realizou o feito na história.

Sua coleção de medalhas em campeonatos mundiais cresceu de uma para quatro – sendo duas de prata nos 50m livre, em Budapeste-2017 e Gwangju-2019, e uma com o revezamento 4x100m livre na Hungria. Os 21s27 nadados há três anos na Hungria representam a 6ª melhor marca do último ciclo olímpico. É possível afirmar que Bruno Fratus chegará em 2021 – como a principal chance de medalha da natação brasileira.

A um ano da estreia, o OTD conta como chegaria Bruno Fratus, uma das maiores esperanças de medalha do Brasil nos 50m livre, e o revezamento 4x100m medley
Bruno Fratus e a esposa/técnica Michelle Lenhardt: fundamental para o crescimento de Fratus após a Rio-2016 (Instagram/michellelenhardt)

Rivais

O maior rival de Bruno Fratus atualmente é, sem dúvidas, Caeleb Dressel. Nesse ciclo olímpico, o americano assumiu o posto de principal figura da natação dos Estados Unidos. Nos dois mundiais do ciclo, Dressel faturou simplesmente 15 medalhas, sendo 13 de ouro e duas de prata.

No 50m livre, venceu as duas, ganhando com sobras em 2019 e ficando próximo de bater o recorde mundial de 20s91, pertencente a Cesar Cielo há mais de uma década. Das 10 melhores marcas nos 50m livre desde 2016, quatro são do americano, incluindo a primeira (21s04), a segunda (21s15) e a quinta (21s18).

Ao lado da ginasta Simone Biles, o americano tem tudo para ser um dos protagonistas da Olimpíada de Tóquio no ano que vem.

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Happy 4th 🇺🇸

Uma publicação compartilhada por Caeleb Dressel (@caelebdressel) em

E quem completa o pódio?

A briga pelas outras duas medalhas deve ser pra lá de acirrada. O britânico Benjamin Proud, quarto colocado no Rio, possui três dos 10 melhores tempos nos 50 m livre desde 2016, incluindo o segundo maior (21s11). Nas finais do mundiais, entretanto, Proud não conseguiu repetir os bons desempenhos, ficando atrás de Fratus duas vezes (levou o bronze em 2017 e foi na 5ª colocação em 2019).

O russo Vladmir Morozov (4º colocado nos mundiais de 2017 e 2019 e dono da 6ª melhor marca do ciclo com 21s27), o grego Kristian Gkolomeev (bronze em 2019), o polonês Pawel Juraszek (finalista nos dois mundiais do ciclo), o francês Florent Manadou (campeão olímpico em 2012 e vice em 2016 por apenas um centésimo) e devem brigar pelas medalhas com Dressel e Fratus.

A um ano da estreia, o OTD conta como chegaria Bruno Fratus, uma das maiores esperanças de medalha do Brasil nos 50m livre, e o revezamento 4x100m medley
Bruno Fratus, Caeleb Dressel e Benjamin Proud: um pódio que pode se repetir nos Jogos Olímpicos de Tóquio (divulgação/FINA)

Números mágicos

A pausa no esporte mundial por conta da pandemia torna muito difícil de projetar uma das provas mais imprevisíveis da natação. Mas de acordo com Alex Pussieldi, o nível da prova será fortíssimo.

“Para ganhar a medalha de ouro nos 50 m nado livre na Rio-2016, o Anthony Erving nadou para 21s40. Quem nadar para 21s40 em Tóquio, é capaz de ficar de fora da final. Se você fizer as contas, tem o Caeleb Dressel, mais um americano, Bruno Fratus, Ben Proud, Florent Manadou, o Morozov, o grego, o russo, o sul-africano… São oito nadadores nadando para a casa de 21s30, 21s20… 21s40 deve ficar fora da final. Essa é a previsão que eu faço. Quem quiser o ouro, vai ter de nadar para 20 segundos, pode ter certeza,” avaliou Pussieldi.

A um ano da estreia em Tóquio, o OTD conta como chegaria Bruno Fratus, uma das maiores esperanças de medalha  nos 50m livre, e o revezamento 4x100m medley
Tabela com os resultados dos 50m livre nas duas últimas Olimpíadas e nos dois últimos mundiais: Caeleb Dressel espantou o mundo nos últimos anos

4 x 100 m medley: uma possível surpresa

Uma cereja para o bolo da natação brasileira daqui exatamente um ano viria se o revezamento 4 x 100 m medley surpreendesse os favoritos e conseguisse levar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

+ Revezamento 4x100m livre do Brasil pode repetir Sydney-2000

Desde a Rio-2016, quando foi sexto colocado, o revezamento 4 x 100 m medley vem crescendo e obtendo bons resultados. No atual ciclo olímpico, os quatro nadadores levaram o Brasil à disputada final nos dois mundiais. Em 2017, o país ficou em quinto; dois anos depois, em sétimo.

O que mais anima é a evolução da equipe ano a ano. Para se ter uma ideia, o tempo de 3min30s86 conquistado por Guilherme Guido, João Gomes Júnior, Vinícius Lanza e Marcelo Chierighini na final em Gwangju foi mais de seis segundos abaixo do que a equipe que disputou Londres-2012 alcançou. Algo que na natação representa uma eternidade.

Medalha é sonho distante?

Para Alex Pussieldi, o revezamento 4x100m medley deve ir a final dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas a medalha ainda está um pouco distante.

“O revezamento medley deve ir com Guilherme Guido no costas, Vinícius Lanza no borboleta e Marcelo Chierighini no nado livre. A briga do nado peito ainda está em aberto. É um time forte.Para uma medalha, teríamos de ter no mínimo 52s baixo no costas, 58s no peito e 50s no borboleta. No momentos, não temos nenhum dos três. Nossos adversários já tem.”

De acordo com Pussieldi, Estados Unidos e Grã-Bretanha estão um nível acima dos outros e devem disputar entre eles o ouro e a prata. Rússia, Japão brigariam pelo bronze, com vantagem para os russos diante dos donos da casa. A Austrália devem brigar diretamente com o Brasil.

Jogos Olímpicos de Tóquio
Evolução dos tempos do Brasil no revezamento 4x100m medley: a marca da Coreia teria dado a prata nos Jogos Olímpicos de Londres-2012

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