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Rúgbi

Gabriela Lima troca atletismo por rúgbi e quer ouro no Pan

Carioca chegou a medalhar no Troféu Brasil, mas migrou para o rúgbi e estará nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023

Gabriela Lima World Rugby
(Foto: World Rugby)

Um nome chama muita atenção na lista de convocadas da seleção brasileira de rúgbi sevens feminino para os Jogos Pan-Americanos. É o de Gabriela Lima, jogadora do El-Shaddai-RJ. Ela se dedicou ao atletismo por boa parte da vida, mas decidiu migrar para o rúgbi no final de 2019 e, em menos de quatro anos, tornou-se uma peça muito importante na equipe comandada pelo treinador Will Broderick. Com Paris-2024 no radar, a carioca sonha em conquistar uma medalha de ouro em Santiago-2023, no final do mês.

Hoje com 29, Gabriela conheceu o esporte aos dez anos de idade, através do projeto “Lançar-se para o Futuro”, idealizado pelo professor Paulo Servo, na Escola Municipal Silveira Sampaio, onde estudava em Curicica, no Rio de Janeiro. Um de seus colegas praticava o atletismo e ela resolveu experimentar a modalidade. Gostou e ficou no esporte, criando desde cedo uma rotina séria de treinamentos. Durante sua adolescência, chegou a competir em algumas provas, mas foi os 100m com barreiras que ganhou sua atenção.

A atleta tornou-se especialista na prova e foi um dos destaques do Brasil nas categorias de base, conquistando medalhas em competições nacionais e sul-americanas. Gabriela também se manteve entre as melhores do país em eventos sêniores e foi top-5 do Troféu Brasil de Atletismo por três anos consecutivos, o que incluiu um bronze em 2015. Sua vida mudou em 2016, quando ela migrou para São Paulo e passou a treinar no Pinheiros, junto com Felipe Siqueira, que é o treinador do campeão mundial e medalhista olímpico Alison dos Santos.

A mudança para o rúgbi

Gabriela Lima trocou o atletismo pelo rúgbi sevens e disputará os Jogos Pan-Americanos Santiago-2023
Gabriela Lima trocou o atletismo pelo rúgbi sevens e disputará os Jogos Pan-Americanos Santiago-2023 (World Rugby)

Por lá, a atleta não rendeu o potencial esperado e passou um período estagnada. Em 2019, ela ainda era a top-5 do Brasil, mas se via distante da Olimpíada de Tóquio, que aconteceria no ano seguinte. Naquela época, seu recorde pessoal era de 13s43 e sua melhor marca na temporada era de 13s50. Foi nesse cenário e com seu ciclo no Pinheiros se aproximando do fim que Gabriela Lima recebeu o convite para conhecer o rúgbi, através de um conhecido de seu ex-treinador.

“O Felipe Siqueira conhecia um amigo que trabalhava no NAR (Núcleo de Alto Rendimento), onde o rúgbi treina, e eles estavam procurando meninas rápidas. Eu já estava para ir embora do Pinheiros quando ele me contou dessa oportunidade e me perguntou se eu não queria ‘dar uma olhada’. Decidi ir e fiquei três meses fazendo testes por lá. Eles viram potencial em mim e eu também gostei da modalidade e decidi apostar nisso”, contou Gabriela ao Olimpíada Todo Dia.

“Acredito que nada acontece por acaso, então se uma porta estava se fechando para mim, abriu uma outra muito boa. Fui na cara e na coragem e, graças a Deus, estou aqui até hoje”, continuou ela, que nunca havia praticado o rúgbi anteriormente, então teve que começar do zero na nova modalidade. “Não sabia nada de rúgbi, apenas que você tem que correr e passar para o lado. Eu não sabia fazer passe ou tacklear, então eles tiveram que me ensinar a base da modalidade”.

Dificuldades no início

As Yaras, seleção brasileira de rúgbi feminino (Foto: World Rugby)
As Yaras, seleção brasileira de rúgbi feminino (Foto: World Rugby)

Naturalmente, Gabriela encontrou algumas dificuldades de adaptação ao rúgbi. Afinal, ela vinha de uma modalidade que tinha objetivos diferentes. “É uma mudança muito grande do atletismo, um esporte individual, para o rúgbi, um esporte coletivo. No atletismo, eu corria oito passadas e passava uma barreira, mais três passadas e pulava outra. Tudo era muito certinho. No rúgbi, é um campo e você pode correr para frente ou para o lado, passar a bola ou não. São muitas tomadas de decisão, então para mim foi muito difícil no início”, explicou.

Apesar disso, não demorou tanto para que Gabriela Lima passasse a integrar a seleção brasileira de rúgbi sevens. Menos de dois anos após conhecer a modalidade, ela já esteve próxima de disputar os Jogos Olímpicos. Em Tóquio-2020, a carioca foi uma das suplentes da seleção brasileira e chegou a viajar para Nagato, no Japão, onde a equipe fez sua reta final de preparação às vésperas da Olimpíada. Antes do início do megaevento, porém, Gabriela voltou para o Brasil e nem chegou a pisar na Vila dos Atletas.

“O pessoal que vem do atletismo tem muito esse sonho de ir para a Olimpíada e comigo não foi diferente. Infelizmente, nunca cheguei nem perto no atletismo, enquanto no rúgbi em pouco tempo eu fui como 14ª atleta. É uma linha tênue porque eu queria muito jogar e não consegui, mas pensando que em 15 anos de esporte eu não havia chegado nem perto, fiquei bem contente. Além disso, pude ajudar as meninas a se prepararem. Foi uma experiência surreal. Eu já tive 80% do gostinho do que é uma Olimpíada, e eu quero chegar ao 100% em Paris. Estou bem animada, sinto que tenho a chance real de ir”, confessou.

Sonho por Paris

Gabriela tem boas chances de disputar os Jogos Olímpicos de Paris e realizar um de seus principais sonhos. Isto porque, no ciclo seguinte a Tóquio, ela passou a ter um papel mais ativo dentro da seleção brasileira e hoje é peça fundamental para Will Broderick, comandante da equipe. Vindo de um 11º lugar em Tóquio-2020, as Yaras já estão classificadas para a Olimpíada do próximo ano. Com a ajuda de Gabriela Lima, a equipe foi dominante no Pré-Olímpico Sul-Americano, que aconteceu em junho.

Gabriela Lima pousa com a bandeira do Brasil antes do Pan
Gabriela Lima após a conquista da vaga olímpica (Foto: Brasil Rugby)

Mas antes de Paris-2024, a seleção brasileira de rúgbi sevens tem duas competições muito importantes para pensar: os Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 e o Circuito Mundial da modalidade. O Pan acontecerá entre 20 de outubro e 5 de novembro, enquanto o circuito começará em dezembro. No evento continental, o Brasil tem boas chances de conquistar uma medalha, depois de ter ficado em quarto lugar em Lima-2019. Gabriela, uma das 12 representantes brasileiras na capital chilena, traça o ouro como meta.

“O grupo está bem diferente agora, com um treinador diferente. Sinto que estamos conseguindo aproveitar melhor as armas que cada uma tem. No Pan, nós jogamos com as seleções da América do Sul, mas também tem Canadá e Estados Unidos, que são equipes que enfrentamos no Circuito Mundial. Sabemos que dá para ganhar desses países, é só estarmos 100% focadas. Estamos nos preparando e tenho total confiança no nosso time. Conseguiremos chegar na final e a medalha de ouro é bem possível”, falou.

Paulistano de 22 anos. Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estou no Olimpíada Todo Dia desde 2022. Cobri os Jogos Mundiais Universitários de Chengdu e os Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023.

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