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Inovador e polêmico, Brito Cunha marcou uma era no basquete

Ex-presidente da CBB e medalhista olímpico, Renato Brito Cunha participou de momentos históricos na modalidade

Renato Brito Cunha
Renato Brito Cunha CBB em homenagem para medalhistas de Tóquio 1964 — Foto: (Reprodução/cbb.com.br)

Em um intervalo de menos de uma semana, o basquete do Brasil perdeu uma outra figura histórica. Coincidentemente, seis dias após o ex- pivô Gerson Victalino morrer, vitima da ELA ( esclerose lateral amiotrófica). Nesta terça-feira (5), com a morte de Renato Brito Cunha, encerrou-se uma era na modalidade.

Ex-presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e treinador medalhista olímpico com o time masculino na Olimpíada de Tóquio-1964, Brito Cunha tinha 94 anos e foi, da mesma forma que o grande Gerson, marcante para o basquete brasileiro, só que fora da quadra.

Para quem não o conheceu, Renato Brito Cunha foi medalhista olímpico, pan-americano e presidente da CBB. Poucos podem ostentar tal currículo. No Brasil, apenas ele. Tinha um conhecimento teórico do basquete invejável, fruto do período em estagiou em uma universidade americana, em Springfield, onde a modalidade nasceu. Aliás, conversar sobre basquete com ele era uma delícia. Ele podia passar horas na resenha, analisando equipes, jogadores e estilos de jogo.

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Dono de uma personalidade forte, que às vezes causava zonas de atrito com os jornalistas durante coberturas, Brito Cunha era muito admirado por atletas e ex-companheiros de seleção. As reações à notícia de sua morte nas redes sociais nesta terça comprovam isso.

Amigos do basquetebol Lamento informar a morte do Prof Renato Brito Cunha ex técnico da seleção brasileira e ex…

Posted by Jose Medalha on Tuesday, May 5, 2020

Medalhas no currículo

Com Brito Cunha no banco de reservas, a seleção masculina foi medalha de bronze na Olimpíada de Tóquio-1964, a última vez que a equipe subiu ao pódio na história dos Jogos. Depois, conquistou outro feito inédito, com a seleção feminina campeã dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1967. Foi o primeiro ouro do Brasil na história da competição.

Ainda voltou a comandar a seleção masculina mais uma vez. Cumpriu brilhante campanha no Pré-Olímpico das Américas para os Jogos de Los Angeles-1984, quando o Brasil foi campeão invicto do torneio.

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A competição, disputada no Ibirapuera, foi uma festa para a torcida, que lotou o ginásio em todos os jogos. Foi possível ver um Brasil com estilo extremamente ofensivo, baseado em um poderoso jogo de transição. Era um time que misturava veteranos como Carioquinha, Marquinhos e Adilson, com outros astros consagrados, como Oscar e Marcel. E ainda dava espaço para jovens talentosos, como Cadum, Agra e Israel.

Na Olimpíada, porém, nada disso funcionou. O time cumpriu uma campanha decepcionante e ficou somente em 9º lugar.

Vida de cartola

Renato Brito Cunha reapareceu no cenário do basquete brasileiro em 1989, desta vez na função de presidente da CBB. Foi quando o baiano mostrou o seu lado teimoso, tomando algumas decisões polêmicas ao longo do mandato, alheio às críticas.

Talvez a que causou mais ruído veio em 1993, no início do ciclo para a Olimpíada de Atlanta. Disposto a criar uma “filosofia única” de trabalho no basquete brasileiro, Brito resolveu apostar em dois treinadores com bons resultados na base, mas inexperientes na categoria adulta: Ênio Vecchi, no masculino, e Miguel Ângelo da Luz, no feminino.

Se no feminino o dirigente não mexeu com as estrelas Hortência, Paula e Janeth, no masculino ele exigiu uma renovação total. E fez com que Vecchi chamasse vários nomes da equipe sub-23 que havia sido bronze no Mundial, deixando de lado nomes consagrados. Entre eles ninguém menos do que Oscar Schmidt, que ainda atuava em alto nível no basquete italiano.

Estratégia furada no masculino

Com as mulheres, a aposta de Brito Cunha deu resultado, tanto que o time foi campeão mundial em 1994 e medalha de prata em Atlanta-1996.

Já os homens sofreram no Mundial de 94, realizado no Canadá, com uma campanha pífia. Os garotos sentiram a pressão, e mesmo tendo nomes experientes como Pipoka, Maury e Paulinho Villas-Boas, o time ficou apenas em 11º entre 16 participantes. Era até então a pior campanha da seleção masculina nos Mundiais.

Brito Cunha podia ser teimoso, mas sabia a hora de recuar. Em 95, trouxe de volta Ary Vidal, comandante do ouro no Pan de Indianápolis-1987, e aprovou os retornos de Oscar e Israel, outro veterano que havia sido deixado de lado pela tal “renovação”.

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Naquele ano, o Brasil se classificou no Pré-Olímpico e cumpriu uma campanha razoável em Atlanta, ficando em 6º lugar. O que ninguém sabia é que a seleção masculina ficaria 16 anos sem disputar uma Olimpíada, retornando em Londres-2012.

Brito Cunha deixou a CBB em 1997, após uma eleição tumultuada, com direito a recurso na Justiça, na qual foi superado pelo candidato da oposição Gerasime Boziks, o Grego. Ele ainda buscou retomar o poder em 2000, questionando novamente por via judicial a extensão do mandato de Grego até 2005.

Polêmicas à parte, Renato Brito Cunha foi um grande personagem do basquete brasileiro e que inegavelmente deixou seu nome na história da modalidade.

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