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Judô

Bronzes em Doha, Bia e Baby analisam torneio e falam de pressão

Em coletiva de imprensa, judocas brasileiros contam a experiência da competição no Catar

Bia Souza e Rafael Silva Baby medalhistas de bronze no Campeonato Mundial de Judô em 2023
Bia Souza e Rafael Silva 'Baby" posam com medalhas (Carol Coelho/ECP)

O Brasil não chegou ao Mundial de Judô de 2023 com o time 100%. Dentre os 18 convocados, nomes como Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, os últimos medalhistas olímpicos de bronze, não estavam na lista para tratar de lesões.

Com as ausências, as expectativas de pódios para o Brasil mudaram. Para a campanha de 2023, duas medalhas estariam dentro das projeções. Uma das principais candidatas para o pódio era Beatriz Souza, prata acima de 78kg. Mas outros candidatos ao pódio poderiam surpreender e trazer uma medalha não tão esperada assim.

Rafael Silva, o Baby, foi uma dessas surpresas. Dono de dois bronze olímpicos, ele passou por pedreiras como o campeão mundial de 2022, o cubano Andy Granda, na repescagem, e o número 1 do mundo, Temur Rakhimov, do Tajiquistão, para garantir o pódio. O brasileiro ainda atingiu a marca de 10 participações em mundiais e com o bronze em 2023, Baby chegou à quarta medalha na competição. No total foram uma prata e três bronzes individuais.

Já Bia Souza fez a lição de casa no Campeonato Mundial. Aos 24 anos, a brasileira conquistou sua terceira medalha mundial, nos últimos três campeonatos seguidos. Ela levou o bronze em 2021 e a prata em 2022.

Pressão por medalhas

Os atletas do Pinheiros falaram sobre a pressão de chegar no sábado, dia de disputas dos pesados, com o Brasil ainda sem medalhas. “Lutar no último dia é sempre um desafio. A gente nunca sabe como vão ser os primeiros dias, se já vamos trazer medalhas ou se não vão. A pressão sempre fica ali em cima pra trazer o resultado. Mas eu trabalho muito isso, de não trazer nenhuma pressão extra pra mim.”, contou a medalhista. “A gente tenta se blindar ao máximo, tentamos dar um reset depois de cada dia que acontece a competição. ‘Hoje é um novo dia, a gente é capaz de fazer um trabalho separado do resultado que já aconteceu.’ É importante separar um pouco isso pra não ter interferência. Me senti muito confortável no dia da disputa, não senti essa pressão toda, foi muito bom.”, explicou Baby.

Tanto para Beatriz Souza como para Rafael Silva, a pressão é mais interna que externa nas competições. “Eu já me pressiono um pouco em questão de resultado, mas faço um trabalho muito bom psicologicamente. Eu só chego no dia pra dar meu melhor, me divertir, aproveitar a competição, que é o que eu amo fazer. O resultado é só consequência de todo esse trabalho e de ser um bom dia.”, explicou a judoca. “Nessa altura do campeonato, a pressão é sempre interna, pensando em tudo que tenho me esforçado, mesmo com essa idade, treinando todo dia, ralando todo dia, tendo toda essa resiliência, a gente chega numa competição como o Mundial com muita vontade de trazer um bom resultado.”, explicou Rafael Silva, que completou 36 anos durante o Mundial.

Desfalques na equipe brasileira

Os atletas contaram como foi ir ao Mundial com desfalques importantes para o Brasil . “É difícil não ir com a equipe completa. Mas a gente pode mostrar o melhor resultado. Por mais que o judô seja um esporte individual, a gente vive em equipe. Então fico feliz de ter trazido essa medalha, não só pro Brasil, mas pelo pessoal que não pode ir.”, falou Bia. “A gente sente bastante falta, com essas ausências, principalmente na disputa por equipe.

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O Brasil tem uma equipe homogênea, que pode chegar nos resultados em cada peso. A gente sente falta de quem não foi, principalmente nessa parte de viajar juntos. Ao mesmo tempo, o esporte tem essas intempéries. Às vezes você não tá bem, já teve mundial que não consegui ir porque tava machucado. Você se sentir representado pela galera, que é quem sofre com a gente, está todo dia com a gente. Então essa representação acontece.”, completou Rafael Silva.

Jogar no celular mantém foco de Bia Souza antes do bloco final de disputas

Com três pódios mundiais, Bia Souza se consolida como uma das melhores atletas na categoria acima de 78kg. Para ela, os treinos físicos e mentais são essenciais para estar no patamar que está. “O trabalho que a gente vem fazendo em cima do tatame, trabalho físico, técnico, tático, o nutricionista, acompanhamento mental com psicólogo me ajudam a me manter ali no topo em busca das medalhas. Sem esse trabalho feito diariamente eu não teria todos os resultados que eu tenho.”, contou a atleta.

Judoca Bia Souza em entrevista coletiva após o Mundial
Bia Souza em entrevista coletiva (Carol Coelho/ECP)

Bia Souza também contou como foi a sua preparação antes da disputa do bronze. A brasileira se concentrou jogando no celular, o que manteve ela focada para a luta pelo pódio. Mas avisa que não gosta de perder no jogo do celular não. “Claro que o que importa é o bloco final da competição. Mas eu fico muito brava quando eu não consigo ganhar a fase do jogo antes de ir lutar.”, confessa a atleta. “Eu tento fazer dos bastidores um momento mais tranquilo pra mim, pra acalmar as emoções. Mas ali na hora de lutar, eu esqueço a fase do joguinho, faço a minha parte ali em cima do tatame, ai eu volto da luta pra continuar o joguinho pra ver se consigo passar a fase.”, explica com muito bom humor a brasileira.

Estreia em Paris

Bia Souza já pensa em Paris-2024, que será sua estreia em Jogos Olímpicos. “É treinar para chegar em Paris, focar nos detalhes que tem que ser ajustados. Cada competição é uma análise diferente, então a gente tem que trabalhar um todo. Pra chegar lá e fazer um excelente resultado. Não tem muito segredo, é treinar, treinar e treinar. Continuar focada, com bons pensamentos, energias positivas, e estra sempre grata, por estar podendo seguir esse caminho, podendo estar trabalhando duro, firme. Acho que o trabalho que a gente faz diariamente é o que vai trazer o resultado.”, falou a atleta.

Baby analisa lutas “pedreiras” para chegar no pódio

O medalhista de bronze contou como se sentiu batendo o então atual campeão mundial e o líder do ranking para conquistar o pódio. “Foi fantástico. O Gandra, cubano, que venci na repescagem, é um atleta muito forte. Já ganhei e já perdi dele. Acho que quando afunila, na disputa de medalhas, você precisa enfrentar essas pedreiras. Então pra mim é muito gratificante saber que ainda consigo trocar porrada com esses caras.”, brincou o judoca. “Com a idade, é mais difícil você se recuperar dos treinos, tudo é mais difícil, mas quando o resultado acontece, tudo vale a pena, se sacrificar, acordar cedo, ficar longe da família.”, explicou.

Rafael Silva Baby em entrevista coletiva
Baby durante coletiva (Carol Coelho/ECP)

Ele também analisa como os adversários enxergam ele quando sobem no tatame. Com duas medalhas olímpicas no currículo, encarar Rafael Silva é sempre um desafio. “A gente nunca entrega fácil. Mesmo com o uzbeque, que foi o atleta pra quem eu perdi nas quartas de final, foi uma luta muito difícil. Perdi, e é isso, ele foi melhor do eu. Mas com certeza ele entra pensando ‘vai ser difícil, porque ele vai dar o sangue lá, vai se matar pra não entregar o resultado’, mas é o que faz o esporte ser legal, essas nuâncias, essas diferenças, a complexidade toda é o que faz tudo valer a pena.”, declarou o medalhista mundial.

Última dança

Com mais essa conquista aos 36 anos, Baby já cravou: Paris é sua última Olimpíada. “É a última dança, ‘olimpicamente’, sim. Acho que devo fazer algumas competições depois. Mas 2028 é inviável pra mim, é muito longe.”, brincou. “Ter a oportunidade de ir pra uma quarta Olimpíada, em Paris, que é a segunda casa do judô, é incrível. To numa fase que é só gratidão, conquistei muitas coisas e ter a oportunidade de ainda conquistar nessa reta final pra mim tá sendo muito fantástico.”, falou.

Formada em Jornalismo pela Unesp-Bauru, participou da Rio-2016 como voluntária, cobriu a Olimpíada de Tóquio-2020 pelo Olimpíada Todo Dia e hoje coordena as Redes Sociais do OTD.

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