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Pan 2019

Comunidade pobre festeja pequenos “avanços” em Lima

População que mora em Villa María del Triunfo vive grande transformação estrutural e emocional por causa dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019.

João Fraga / OTD

A foto é de um distrito de Lima, mas lembra uma das muitas favelas espalhadas pelos morros do Rio de Janeiro. Villa María del Triunfo, sede do Pan 2019, reúne a população mais pobre de Lima, um lugar onde o Estado peruano falha diariamente. Quanto mais se sobe nos morros de Villa Paraíso, há menos saneamento básico, as casas de cimento vão dando lugar a pequenos barracos e as ruas viram pequenas trilhas.

Contudo, por causa dos Jogos Pan-Americanos, a região está vivendo algumas pequenas mudanças. A grande maioria das ruas não é asfaltada, mas as duas principais vias que levam ao Complejo Deportivo de Villa María del Triunfo (VMT) foram, e ainda estão, sendo asfaltadas, algo que dificilmente aconteceria sem o evento esportivo.

É o que afirma Augustin Hurtado, 68 anos, que mora bem em frente à entrada principal do complexo esportivo onde são disputados o beisebol, softbol, rugby sevens, tiro com arco, pelota basca e o pólo aquático. “Estou aqui há cerca de 20 e poucos anos, nunca tinha visto uma mudança tão grande. Apesar da grande bagunça que está agora, terei uma calçada e uma rua asfaltada na frente de casa”.

Porém, o senhor que usa a garagem de casa para vender frango assado não acha que o Pan-Americano irá melhorar as coisas. “Quando a festa acabar, tudo se acaba e voltará ao normal. O asfalto ficará e não por muito tempo”, concluiu Augustin Hurtado.

Mas tem gente muito animada com complexo esportivo na frente de casa. Celia Sinforoso, 32 anos, mora na Villa Paraíso e foi uma das primeiras a se inscrever para atuar nos Jogos como voluntária. “Esse evento vai mudar a cara da região e as perspectivas para os mais jovens. A realidade aqui é muito dura e o esporte pode ser uma saída”.

Ao redor do complexo esportivo e durante todo o percurso dentro de Villa María del Triunfo é possível ver que muitas obras ainda estão inacabadas e que só serão concluídas depois dos Jogos Pan-Americanos. O tão famoso legado é uma promessa estrutural, mas para Celia o legado será emocional.

“Nós daqui da Villa Paraíso nunca imaginamos que estaríamos no centro das Américas, recebendo gente de todo mundo e vendo o quão importante o esporte é na vida de tantas pessoas diferentes. E os brasileiros são muito simpáticos, quero ir para o Brasil um dia!”, completou a sorridente voluntária Célia.

E não pense que tudo se acaba dentro do Complejo Deportivo de Villa María del Triunfo (VMT) depois que um dia de competições se encerra. Assim que os atletas e imprensa deixam o local, muitos moradores da região se aglomeram na entrada e formam uma fila gigantesca.

Eles estão atrás de uma vaga para trabalharem nos Jogos Pan-Americanos. Em sua grande maioria, as vagas são para os cargos de limpeza e de segurança. Raquel Guzman, 40 anos, é uma dessas pessoas. Ela esperou na fila por 20 minutos e foi uma das primeiras a entrar no complexo esportivo.

“Estou sem emprego, tenho dois filhos e preciso de dinheiro. O Pan-Americano está sendo uma grande oportunidade para mim. Já fiz trabalhos mais duros e o daqui é muito mais tranquilo”, finalizou Raquel.

Este será o segundo dia de trabalho de Raquel Guzman na Villa María del Triunfo e ela espera que siga trabalhando até o fim do evento. “Se depender de mim, eu irei pegar esta fila todos os dias. É uma benção enorme Villa Paraíso receber um evento deste porte”. Raquel rapidamente pede licença e sai correndo para mais um dia trabalhando nos Jogos Pan-Americanos.

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