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COI precisa ir a fundo nas denúncias de corrupção sobre a eleição da Rio-2016

O jornal francês “Le Monde” traz acusações que não devem ser ignoradas pelos dirigentes do COI. A imagem da Rio-2016 poderá ficar ainda mais abalada

Se não bastasse todo o noticiário negativo a respeito do destino incerto de várias instalações e do próprio cenário desolador do esporte olímpico brasileiro, a Olimpíada Rio-2016 sofreu mais um duro golpe em sua imagem nesta sexta-feira. A reportagem publicada pelo jornal francês “Le Monde”, com a denúncia de que um empresário brasileiro pagou US$ 1,5 milhão na conta do filho de um influente membro do COI, às vésperas da eleição que escolheu o Rio como sede dos Jogos, tem um poder devastador e que não pode ser ignorada.

Em primeiro lugar, pela seriedade de quem está divulgando a informação. O “Le Monde” está bem longe de ser um tabloide que pouco caso dá à apuração do que publica. Depois, pela chamada “folha corrida” dos envolvidos no caso.

É importante fazer aqui um parênteses: não existe qualquer prova até agora que mostre algum rastro de culpa entre os integrantes da comitê de candidatura do Rio neste caso. Se de fato houve alguma ação ilícita no processo eleitoral de 2009, que culminou com o anúncio feito pelo então belga Jacques Rogge, presidente do COI, naquele histórico 2 de outubro de 2009, ocorreu por elementos que não estavam participando diretamente do comitê de candidatura. Ao menos pelas informações até agora disponíveis.

Isto posto, considero que as denúncias feitas pelo jornal francês precisam ser levadas muito a sério pelos integrantes do Comitê Olímpico Internacional. Pelo bem da transparência do esporte. Até porque o próprio passado da entidade não a isenta em relação a casos de corrupção. O mais famoso aconteceu na eleição para a sede da Olimpíada de Inverno de 2002, quando integrantes do COI foram presenteados com viagens internacionais e hospedagens em hotéis de luxo para votar em Salt Lake City, que foi a vitoriosa na disputa.

O escândalo foi tamanho que obrigou o COI a modificar seus códigos de conduta, proibindo presentes, visitas ou qualquer outro tipo informal de lobby das cidades candidatas.

No caso envolvendo a eleição para 2016, não foi a primeira vez que se levantou suspeitas sobre o processo que culminou com a vitória do Rio de Janeiro. No ano passado, o ex-presidente americano Barak Obama deu uma entrevista na qual questionava a forma com que o Rio havia vencido a disputa. Sem fazer acusações diretas, Obama disse estranhar o fato de Chicago ter perdido a disputa, embora tivesse, em sua opinião, apresentado uma proposta superior.

Só que as palavras de Obama soaram como choro de mau perdedor e não tiveram maior repercussão.

A questão é que antes mesmo daquela entrevista, a Justiça da França já estava em ação com uma profunda investigação, que tinha como foco inicial Papa Massata Diack, filho do ex-presidente da Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo), Lamine Diake. No começo de 2016, Papa Massata já tinha um mandado de prisão expedido pela Interpol, por sua participação no escândalo de suborno para acobertar casos de doping de atletas russos. O velho Lamine, de 83 anos, depois de ter deixado a Iaaf, também teve seu nome jogado no meio deste escândalo.

Papa Massata também teria recebido, segundo o jornal britânico “The Guardian”, suborno dos integrantes do comitê de candidatura de Tóquio para a eleição dos Jogos de 2020, que ocorreu em 2013, na cidade de Buenos Aires. Tanto para esta eleição quanto para a de 2016, uma figura importante está presente: Lamine Diack era integrante da Assembleia do COI, com direito a voto, além de ter muita influência para direcionar os votos dos demais países africanos.

A outra parte deste novelo de corrupção descrito pelo “Le Monde” também não pode ser ignorada. O tal empresário brasileiro citado na reportagem, Arthur Cesar Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, tem longa ligação com o ex-governador Sérgio Cabral – figura-chave na eleição de 2009 e que hoje passa seus dias em uma cela no presídio de Bangu, por conta de denúncias da Operação Lava Jato.

O COI já declarou que irá investigar com atenção todas as denúncias do “Le Monde”. É bom mesmo, até para sua própria imagem. Quanto ao Rio de Janeiro, dificilmente receberá qualquer punição, mesmo que algo seja comprovado. Mas até para não ampliar ainda mais a sequência de notícias negativas sobre a Olimpíada, é bom para os cartolas brasileiros que as picaretagens estejam restritas somente ao clã Diack.

O cenário pós-olímpico para a Rio-2016 está sendo pior do que se poderia imaginar.

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