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Abandonado após lesão, jogador da Seleção sobrevive graças a seguro-desemprego

Felipe Borges é um dos principais nomes do handebol brasileiro. Um dos maiores artilheiros da história da Seleção, o jogador estaria presente na equipe que disputou a Olimpíada, mas acabou sendo cortado por conta de uma lesão no ombro que aconteceu quando ele defendia o país no Campeonato Pan-Americano. Como se não bastasse a decepção de ficar de fora dos Jogos do Rio de Janeiro, o ponta perdeu o contrato que tinha assinado com o Sporting, de Portugal, e, como revelou o Globoesporte.com, foi abandonado pela Confederação Brasileira e está sobrevivendo graças ao seguro-desemprego conseguido por seu antigo clube, o Montpellier, na França.

A grave contusão aconteceu em junho na final do Campeonato Pan-Americano contra o Chile, disputada em Buenos Aires. Por conta dela, Felipe Borges teve que passar por uma cirurgia e perdeu o vínculo assinado com o Sporting, que para se proteger inclui nos contratos uma cláusula que permite a equipe a rescindir com os atletas caso os mesmos se lesionem e fiquem fora das quadras por mais de 60 dias.

De volta à França, Felipe Borges só não ficou completamente desamparado porque contou com a ajuda de seu antigo clube, o Montpellier. Como na época da lesão, ainda tinha algumas semanas de contrato, foi operado pelos franceses, que ainda permitem que o jogador use as instalações da equipe pela qual foi campeão da Copa da Liga e da Copa da França para treinar. O problema é que ele teve que devolver o apartamento em que morava e se sustenta com o seguro-desemprego do país, que não chega a 20% do que ele recebia quando tinha contrato.

“Depois da Olimpíada, entrei em contato com a Confederação Brasileira de Handebol, com o presidente (Manoel Oliveira). Eles disseram que tentariam me ajudar. Que ficaram sentidos. Mas estou esperando até agora para ver o que vai acontecer. Espero que achem alguma solução. Pode acontecer com muitos jogadores atuais no futuro. Lutamos para ter um seguro. Se algo acontece com o atleta na Seleção, o responsável é a Seleção e não o clube. Eles podem arcar com cirurgia e parte de recuperação, mas na financeira não há ajuda hoje. Nenhuma. Se eu já não tivesse um mínimo de tempo de contrato com o Montpellier, não teria ajuda alguma, nem seguro desemprego. Nós atletas já expusemos isso e queremos nas próximas competições que isso aconteça”, reclamou Felipe Borges ao Globoesporte.com, revelando que ele só tem o seguro-desemprego garantido até junho. A partir daí, caso não arrume outro clube, terá que se virar de outra forma.

A situação é constrangedora. A filha Valéria, de dois anos, e a esposa, foram para a Espanha para morar com os sogros, onde podem economizar. “Não dá estabilidade. Fico sempre no aperto. O dinheiro dá para pagar o aluguel, a conta de luz. Para dar de comer a minha filha. Só isso. Fico no aperto todo mês. Não é nada tranquilo”,  explicou Borges.

“Faltou a confederação me abraçar um pouco. Se eu não ligo para perguntar, não ia receber um telefonema. Se não fosse atrás, acredito eu que não teria nada. Não recebi uma mensagem de como estava, do que aconteceu. O Jordi (ex-técnico da seleção) sempre esteve preocupado, se tinha que operar… Ele foi o que mais se preocupou. Mas a diretoria da confederação não teve nenhum tipo de acolhimento e preocupação, orientação, uma ajuda financeira, de custos, algo desse tipo. Isso pode acontecer com qualquer um, com um juvenil, júnior… E acredito que a confederação tem que ser responsável por isso. Se eles não podem ter (o seguro), que avisem de antemão. E aí o jogador escolhe se vai ou não. Mas é difícil um jogador dizer não para a seleção. Se todos disserem não, vamos cair novamente para o último lugar na Olimpíada”, desabafou Borges, que defende a Seleção Brasileira adulta há dez anos.

Ao GloboEsporte.com, a Confederação Brasileira de Handebol explicou que a queda dos valores de patrocínio do Correios prejudica a possibilidade de ajudar Borges, mas que a entidade está estudando uma maneira de contribuir economicamente com o jogador.

“A Confederação Brasileira de Handebol tem ciência do problema que aconteceu com o Borges e nós estamos tentando encontrar uma solução. Não é fácil. Todos os nossos recursos estão comprometidos. Eu já falei com ele sobre isso e estamos tentando encontrar essa solução para ajudá-lo. A ideia é encontrar uma forma de ajudá-lo economicamente. Nós não trabalhamos com a possibilidade de buscar um clube para ele. O que queremos é uma forma de ajudá-lo economicamente, só que não está fácil”, disse o presidente Manoel de Oliveira, que disse que também está entre os planos da entidade fazer um seguro para os jogadores que defendem a Seleção Brasileira.

“Esse assunto já foi discutido entre a confederação e um grupo de atletas em uma conferência pela web. Pedimos ajuda a eles para sabermos onde existe esse seguro e como funciona. É um assunto que nos preocupa e queremos encontrar uma solução. Inclusive, para ratificar, estamos discutindo entre nós presidentes de confederações do Brasil um modelo que possa ser feito aqui. Infelizmente, esse seguro que previne e pode pagar o salário dos atletas não existe no Brasil”, explicou Manoel.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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