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OTD Entrevista

Inspirada em Marta, Camilinha sonha ser melhor do mundo

Companheira de Marta no Orlando Pride, Camilinha quer seguir os passos da Rainha e chegar ao topo no futebol feminino.

A primeira vez que Camilinha, atacante do Orlando Pride, chegou à seleção, ela tinha 16 anos. Tudo isso há exatos seis anos. Desde então, muita coisa mudou não só no cenário do futebol feminino como na vida da atleta. Em 2011, Marta já era internacionalmente conhecida e Camilinha assistia tudo pela televisão. Passado esse tempo, as duas dividem mais que o mesmo clube, o americano Orlando Pride, e a seleção brasileira, hoje são amigas fora das quatro linhas.

“É incrível, né? Porque você tá dentro de casa e olhava ela pela televisão e meu pai, que sempre acreditou em mim, sempre disse que eu ia conseguir. Um dia você vai chegar e vai jogar junto com ela. E eu era muito nova então e eu achava: ah, sei lá, eu não sei, é o meu sonho. E hoje poder estar realizando esse sonho diariamente é incrível. É uma sensação muito boa porque ela não é nada diferente do que eu imaginava. Ela é humilde, companheira, ela é raça, ela é força, ela é determinação, ela é superação. Então, poder conviver com ela todos os dias e ouvir a história dela e como ela chegou ao topo, a todos esses prêmios, a todas essas conquistas, é muito bom. E ela me passa um aprendizado diário, que é muito gratificante. Muito gratificante mesmo. E assim… Quando você ouve um conselho de uma atleta que já foi cinco vezes melhor do mundo e, que pra mim, é muito mais que isso. Ouvir as palavras dela me fazem querer ir mais além e ela acredita muito em mim. Então, tendo ela do meu lado, além da minha família é muito bom”, se emociona ao falar de Marta, em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.

Foto: Reprodução Instagram

Hoje, com 22 anos, Camilinha tem conseguido se destacar no clube americano ao lado de Marta. Já teve seu gol eleito o melhor da semana e coleciona convocações para a Seleção Brasileira, como a que aconteceu na última segunda-feira para o Torneio das Nações. A menina que se espelhava na amiga da escola mudou seus parâmetros. Hoje, inspirada em Marta, sonha cada vez mais alto.

Garotinha, jogadora da partida:)! Little girl, player of the match! @orlpride 📸:@bavacado @camilinha94mp #filledwithpride

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“Eu estou muito feliz aqui no Orlando, isso é óbvio, dá pra ver muito mesmo na minha cara. É um momento da minha carreira que eu estou me realizando. Eu acho que não é o auge, eu sonho muito alto para falar a verdade. Eu quero ir mais além sempre. Estou em um momento bom, estou no meu melhor momento, eu acredito, dentro de campo. fora também, porque eu estou muito feliz. Mas eu queri ir além, eu quero poder ajudar muito mais, quero representar muito mais a seleção, quero ganhar títulos importantes… E quem não quer ser a melhor do mundo? Então isso também é um sonho meu, que eu vou batalhar muito para conquistá-lo,” confessa Camilinha.

Quando a atleta chegou ao Orlando Pride foi muito bem recebida. O time conta com a estrutura de um time grande. Treinam e jogam no mesmo estádio que o time masculino Orlando City. A torcida sempre comparece e não é timidamente. “Você não vai ver 100 pessoas, 200 pessoas… Você vai ver sempre 5.000 pessoas e isso é muito bom”, diz. Cenário que a atleta ainda não pode viver por aqui: “mas tenho a oportunidade de ver aqui. Apesar que o Brasil é o país do futebol, aqui nos Estados Unidos eu vejo o quanto eles valorizam, apoiam o futebol feminino”, completa.

O time feminino tem hoje praticamente um trio de ferro: a atacante, Marta e Alex Morgan, que chegou ao elenco depois de ser campeã da Champions League pelo Lyon. A brasileira Mônica também está no grupo, que disputa a NWSL. Além do futebol feminino, existe também presença brasileira na equipe masculina. Eleito o melhor do mundo em 2007, Kaká é titular do Orlando City. Mais uma referência que Camilinha viu sair da televisão e parar ao seu lado.

“O Kaká a gente esbarra, a gente almoça no mesmo lugar, então as vezes a gente esbarra assim com ele. Minha primeira vez encontrando com ele foi assim: caraca, poxa, eu vi o cara na tv e agora estou aqui. Foi melhor do mundo em 2007 e eu estou aqui do lado dele agora. A gente está almoçando junto, resenhando… E é incrível como esse mundo dá voltas, ele te faz chegar perto de pessoas que você nem imagina. E ele é um cara tranquilão, humilde, na paz,” conta a jogadora.

Seleção Brasileira

Com bom rendimento e sendo lembrada por Emily Lima, Camilinha faz parte de uma nova geração do futebol feminino brasileiro ao lado de Andressa Alves, Gabi Nunes e tantas outras. Com referências como Formiga, que não joga mais pela seleção, Cristiane e Marta. A atleta sabe que essa nova safra terá que dar suporte para as atletas nesse ciclo até a Olimpíada.

“A Marta ainda não deu a certeza que vai jogar uma outra Olimpíada, mas é algo que ela quer. É da vontade dela. Então a gente está ali para lidar.  Então vai ser um gostinho, se a gente conseguir alguma medalha importante, vai ser um gosto muito bom para nós para nós atletas e por elas também, que batalharam muito, muito, muito. Elas batalharam muito lá atrás e a gente colhe muito os frutos hoje”, comenta.

Nessa renovação entra a peça chave, a primeira mulher a comandar a Seleção Brasileira. “A Emily vem descobrindo grandes jogadoras, grandes talentos,” diz. Acima disso, o trabalho é realizado para tornar a seleção competitiva, para que sejam respeitadas e outras seleções disputem de igual para igual. A metodologia que as atletas precisam ter ainda mais prazer por representar a seleção.

“Ela veio com a raça, com a força e com toda a tática dela de jogo… Ela implantou isso na seleção. Acho que a gente pode brigar por grandes títulos. Ela fala muito no presente, vamos fazer o agora. Agora é muito importante para a gente poder estar em um Mundial e em uma Olimpíada. Então a gente precisa fazer o agora e ela vem fazendo isso muito bem, fala Camilinha.

A trajetória

Com incentivo da família e na diversão, Camilinha começou no futebol muito cedo. Com 12 anos de idade já tinha propostas para deixar sua cidade natal, São Bento do Sul. “Eu comecei jogando através do incentivo do meu pai. Desde muito nova já, ele já andava do meu lado com a bola e eu comecei a ter uma paixão. Ele começou a me levar nos jogos dele, eu ia brincando com a bola, na creche, na escola… Isso foi ficando cada vez mais forte. Na educação física eu queria jogar com os meninos e a professora deixava eu jogar com eles. Aí eu comecei no time dos meninos a ser a primeira a ser escolhida. Aí a coisa foi ficando séria”, relembra.

Parabéns meu herói! Amoralemdavida❤️

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Seu primeiro time oficialmente foi o Brusque. Depois, o Barateiro Futsal, em Jaraguá do Sul. Ela não foi direto para o campo. Com 12 anos de idade já tinha propostas para deixar a cidade natal, mas segurou viajando por um tempo e acabou saindo um ano depois. “A gente tem que aprender sozinha, aprender com a vida, foi isso que aconteceu comigo”, falou Camilinha.

Sua primeira competição foi o Campeonato Estadual sub-13 da região. Ficou três anos jogando lá. Depois, foi convocada para a seleção catarinense de futsal sub-20, onde conheceu parte da comissão técnica que a levou para o Kindermann. Lá, com 16 anos, por influência de técnicos e família tentou conciliar quadra e campo, mas acabou migrando.

“Tinha mais visibilidade para a Seleção Brasileira, categoria de base, então eu acho que é o que toda atleta quer… chegar numa seleção brasileira. então bateu uma vontade e eu falei: pai, quero jogar campo. aí ele falou: ah, eu acho que você já deveria estar fazendo isso há muito tempo. Aí eu falei se você achar eu vou lá ver se vai dar certo… foi aí que eu migrei para o campo,” relembra.

Depois disso, chegou a passar por Houston Dash, em 2015, Ferroviária e Tiradentes do Piauí. Em 2016, jogou no Corinthians e na Ferroviária. Até acertar com o Orlando Pride em 2017.

Futuro da modalidade

Camilinha não é regra na modalidade. Teve incentivo dentro e fora de casa para seguir seu sonho de jogar futebol. O que começou como brincadeira, virou profissão e carrega um objetivo muito maior.

“Todas nós brigamos diariamente para que o futebol feminino evolua, para que o futebol feminino cresça. A gente vem engatinhando sim, mas cada ano que passa a gente consegue algo a mais. (…) As coisas vem evoluindo, vem crescendo, o futebol feminino agradece, porque as coisas vem acontecendo e isso é muito importante. Se o futebol feminino no Brasil fosse… Se eles levassem a sério o futebol feminino, batessem no peito e falassem: não o futebol feminino é profissional. Eu acredito que muitas atletas estariam jogando no Brasil. Muitas mesmo, e eu me coloco no meio dessas atletas, porque é o país do futebol, é onde tudo acontece,” sonha Camilinha.

Dentre as metas da atleta, o sonho de ser melhor do mundo, a visibilidade da modalidade e a construção de um cenário diferente para as próximas gerações.

“Nas Olimpíadas a gente teve um cenário incrível, incrível, que foi de arrepiar a cada momento. Então falta o futebol feminino ser profissional, mas a gente vem evoluindo a cada ano e isso é muito importante. A gente vai continuar batalhando e não vai desistir. Não vai desistir, porque além da gente gostar daquilo que a gente faz, a gente faz isso com amor, com dedicação então a gente vai sempre, sempre batalhar por isso. Pra quando pra quem vem agora ou mais tarde, ou que venha outras gerações venha colhendo os frutos.”

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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