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Esportes de Gelo

“É possível criar especialistas por esportes de inverno num país tropical”

Leia artigo escrito sobre os Jogos de Inverno para o Olimpíada Todo Dia por Matheus Figueiredo, presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Gelo

Isadora Williams patinação artística olimpíadas de inverno pyeongchang
Gustavo Harada/COB

Toda Confederação Esportiva no Brasil sonha em ter um Centro de Treinamento (CT) próprio, sustentável, onde possa receber os principais nomes da modalidade e dar as melhores condições de treino e desenvolvimento das habilidades dos atletas. Poucas têm. E os Desportos no Gelo podem se orgulhar de ter essa estrutura para oferecer aos seus atletas que buscam vagas olímpicas e resultados mais expressivos no curling, na patinação artística e no hóquei no gelo. Porém, o papel da Arena Ice Brasil vai bem além desse foco e, para explicar, precisamos voltar um pouco no tempo.

O processo para que a CBDG tenha um CT hoje começou há 8 anos, quando definimos que ter um ambiente de prática esportivo no Brasil seria parte importante do nosso planejamento estratégico. Mas antes disso, passamos por diversos processos: reagrupar os brasileiros praticantes de desportos no gelo espalhados pelo mundo, resgatar a credibilidade da Confederação Brasileira diante das Federações Internacionais das modalidades, melhorar a conexão dos projetos da CBDG com os objetivos dos Comitês Olímpico e Paralímpico, estavam entre as primeiras ações. Depois de entregarmos o primeiro ciclo olímpico completo sob nossa gestão, que foi o de PyeongChang, na Coreia do Sul, estabelecemos que a nossa próxima etapa seria ter um Centro de Treinamento.

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Mas não simplesmente um CT. Quando a gente idealizou a Arena Ice Brasil, pensamos em três pilares: a prática do desporto, logicamente, mas também a educação e o Olimpismo. A educação porque entendemos que isso era fundamental para que esse espaço pudesse se conectar às pessoas da comunidade, trazendo escolas e projetos sociais para fazer a iniciação esportiva dos alunos na Arena, trazendo estudantes universitários para desenvolverem seus projetos de conclusão de curso focando nas modalidades de gelo ou apenas oferecendo estrutura de espaço e logística para ações educacionais dentro de um ambiente esportivo. E o Olimpismo porque víamos a Ice Brasil como uma grande possibilidade de aproximar as famílias dos Valores Olímpicos, da rica histórica do esporte. Queremos ter um ambiente onde as pessoas não só pratiquem, mas também onde respirem esporte e se apaixonem pelo desporto no gelo.

A gente sabe, claro, o que queremos em termos esportivos. Temos uma meta audaciosa de ganhar medalhas em Campeonatos Mundiais, em Jogos Olímpicos. Lá atrás, há 8 anos, quando éramos últimos do ranking mundial, colocamos como objetivo ser, em quatro anos, top-20 do mundo em duas modalidades. E entregamos isso. Depois, queríamos chegar ao top-10 em alguma modalidade no ciclo Pequim 2022. E estamos entregando uma atleta de skeleton, a Nicole Silveira, entre as 10 melhores do mundo. No monobob, fechamos em terceiro no ranking mundial no ano passado com a Marina Tuono. E, agora, a nossa meta audaciosa é estar, sim, no pódio das maiores competições internacionais num futuro não muito distante.

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Ter o Centro de Treinamento faz parte do processo de aumentar o volume de pessoas com contato direto com as modalidades, de ter mais atletas e, consequentemente, ter mais incentivo para prática dos esportes no Brasil. Desde a reabertura do CT, inaugurado em 2020 pouco antes da explosão da pandemia de Covid-19 no país e que retomou as atividades apenas em maio deste ano, já tivemos mais de 12 mil visitantes, sendo 5 mil em julho e uma média superior a 2.500 pessoas por mês desde então. A maioria delas, a gente sabe, não vão virar atletas de alto rendimento. Mas, às vezes, a pessoa que está começando a praticar a modalidade aos 25 anos pode não se tornar um atleta olímpico, mas vai virar um fisioterapeuta, um preparador físico ou até mesmo um técnico do esporte. Basta se apaixonar.

Uma das ações para despertar essa paixão é promover mais campeonatos. Importante dar esse momento de competição para as pessoas, para os novos praticantes. É isso que move o esporte: a vontade de competir, de aprender com a derrota, de evoluir na prática do esporte e de ganhar. Em dezembro, vamos realizar o Brasileiro de patinação artística, com transmissão do Canal Olímpico do Brasil. Temos Campeonatos Brasileiros de curling planejados para junho do ano que vem. Provavelmente, vamos ter, ainda este ano, uma miniliga de hóquei no gelo, de 3×3, modalidade olímpica que pretendemos estar já nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude de 2024.

Desenvolvemos um programa de treinamento que serve para as pessoas entenderem seu nível técnico, estabelecer onde querem chegar independentemente da sua idade, para poder ver o caminho que podem percorrer na evolução técnica dentro do esporte no gelo. Pensando em alto rendimento, a gente sabe a faixa etária que temos que trabalhar, mas quanto mais gente participando de competições, dos programas, mais pessoas envolvidas nas modalidades, mais marcas sendo atraídas, mais conhecedores de esportes no gelo. É um ciclo virtuoso, fundamental para que daqui a alguns anos as pessoas não conheçam os esportes de inverno somente por ver na televisão, por ouvir falar durante os Jogos Olímpicos. Mas, principalmente, por conhecerem as regras, as estratégias das modalidades, os ídolos dos esportes no Brasil e no mundo, se tornando especialistas apaixonados, uma grande comunidade de inverno num país tropical.

Uma provocação que eu sempre faço com todos que vem aqui na Arena é: qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Estamos passando por um momento que incentiva esse tipo de atitude, de se reinventar, buscar algo novo, diferente. Um período pandêmico, que trouxe muitos desafios pessoais e na área profissional também. Que tal jogar curling, patinar no gelo ou praticar hóquei? Isso pode te abrir um novo caminho, agregar novos conhecimentos, trazer um novo norte de trabalhou ou apenas o prazer e o relaxamento de praticar um esporte. Então, fica o convite: conheçam as modalidades, aprendam, pratiquem, compitam e virem apoiadores e propagadores desse projeto e dos esportes de inverno. Tudo que hoje é grande, começou com um primeiro passo. Faltam apenas 50 dias para os Jogos Olímpicos de Inverno Pequim 2022. Você vai ficar só olhando?

Matheus Figueiredo
Presidente da Confederação Brasileira de Desportes no Gelo (CBDG) e chefe de equipe em Pequim 2022

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