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Pan 2019

Jogos Pan-Americanos são mais do que esporte

Ao colocar a credencial no pescoço, o atleta é transportado para um mundo paralelo, que dura duas semanas.

Os Jogos Pan-Americanos estão chegando. Veremos muitas medalhas, recordes, derrotas e, principalmente, fofoca. Em todo lugar que reúne um monte de pessoas o que não falta é gente falando bem e mal de gente, distorcendo histórias. É para isso que serve a Vila Pan-Americana, ué: para dormir, descansar e falar dos outros.

Yuval Noah Harari, doutor em história pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, conta no livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade”, que há mais de 70 mil anos os nossos antepassados já gostavam de uma conversa fiada. Segundo o cientista, o Homo Sapiens (homem moderno) é antes de mais nada um animal social, que gosta de fofocar. Foi assim que a nossa linguagem evoluiu e chegamos até aqui, dominando os outros animais e falando mal deles.

Os homens neandertais, por exemplo, não andavam por aí falando pelas costas uns dos outros. Esse deve ter sido o principal motivo para eles não existirem mais. As habilidades linguísticas que os sapiens modernos adquiriram nos permitem fofocar por horas a fio.

Falo das fofocas inocentes e não, daquelas que temos que confessar aos padres, por serem pecados graves, que fazem intrigas com a vida alheia e com pitada de maldade. Difamação é crime; fofoca é lazer, passatempo, estreita os laços de amizade. A teoria da fofoca pode parecer uma piada, mas, vários estudos já confirmaram. Ainda hoje, a maior parte da comunicação humana – seja por e-mail, mensagens por WhatsApp ou Facebook – é fofoca. E vc acha que seria diferente com os atletas?

Entre um treino e outro, horas à toa na Vila Pan-Americana, de pernas para o ar, os atletas não perdem a oportunidade de saber quem pegou quem, quem quer pegar quem, quem se separou de quem, quem ronca mais ou falar sobre aquele mala de que ninguém gosta de ficar por perto.

Em Lima, além da Vila Pan-Americana, os atletas brasileiros ficarão espalhados por mais seis bases, em instalações oferecidas pela organização dos Jogos Pan-Americanos. O diferencial desse tipo de competição é a oportunidade de conviver com atletas de outras modalidades. Por exemplo, os lutadores de boxe, taekwondo e wrestling irão ficar em Callao. Já os remadores e a turma da canoagem velocidade ficarão em Huacho. Convivência que apenas esse tipo de evento pode proporcionar.

Ao colocar a credencial no pescoço, o atleta é transportado para um mundo paralelo, que dura duas semanas. Muitos embarcam para os Jogos Pan-Americanos com a máxima em mente de que o se faz no Pan, fica no Pan, até cair na boca do povo.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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