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Corrida Olímpica

Judô do Brasil leva um shido no Masters em meio à corrida olímpica

Guilherme Schimidt está em franca ascenção, mas ausências e quedas precoces preocupam pensando em Paris-2024

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(Foto: Robin Willingham)

O judô brasileiro levou um shido no Masters da Hungria que aconteceu entre os dias 4 e 6 de agosto. Em um dos torneios com chave mais competitiva pois distribui importantes pontos no ranking mundial, tomamos uma dura queda e saímos com apenas um top-8. Começando a segunda metade da corrida olímpica, o resultado preocupa em relação às expectativas para o esporte nos Jogos Olímpicos de Paris. Guilherme Schmidt foi a exceção, sendo medalhista de prata. As outras campanhas foram de se esquecer. 

Amanda Lima (48kg), Natasha Ferreira (48kg), Rafaela Silva (57kg), Jéssica Lima (57kg), Gabriella Mantena (63kg), Ketleyn Quadros (63kg), Willian Lima (66kg), Marcelo Gomes (90kg), Leonardo Gonçalves (100kg), Rafael Buzacarini (100kg) caíram na estreia. Já Larissa Pimenta (52kg), Luana Carvalho (70kg), Daniel Cargnin (73kg), Rafael Macedo (90kg) e Rafael Silva (+100kg), venceram apenas uma luta cada. Vale lembrar que Beatriz Souza e Mayra Aguiar, além de Ellen Fromer seguem afastadas do circuito por lesão.

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O resultado, é claro, acende um alerta na Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e também no Comitê Olímpico do Brasil (COB) que espera levar uma delegação completa para Paris. Para Tóquio tal feito teria sido alcançado se não fosse o doping de Rafaela Silva que pegou a CBJ desprevenida e sem conseguir levar ninguém na 57kg. É importante ressaltar que só os melhores judocas estavam presentes e as chaves eram menores, portanto mais difíceis desde o início. Dessa forma é uma boa prévia para o que pode acontecer nos Jogos olímpicos.

Ranking olímpico do judô

Por enquanto, o Brasil tem judocas na zona de classificação em apenas 10 das 14 categorias, conquistando uma 11ª vaga pela cota continental. Porém, mesmo nas categorias em que estamos seguros, a briga continua em duas frentes. Por um lado, para os principais atletas serem cabeça nos Jogos Olímpicos de Paris e conseguir um caminho mais fácil rumo ao pódio; por outro para que em caso de qualquer problema com os favoritos, tenhamos outros atletas em zona de classificação.

O Masters era muito importante porque o ranking olímpico é feito a partir de 12 resultados: 6 que valem 50% entre 24 de junho de 2022 e 23 de junho de 2023; e 6 que valem 100% pontos entre 24 de junho de 2023 e 23 de junho de 2024. Além do título distribuir 1800 valiosos pontos para o campeão, o sexto resultado de cada ano é exclusivamente dado ao Masters ou ao Pan. Dessa forma, ausência ou um mau resultado nos dois pode significar zero pontos e queda no ranking.

Cargnin, Schimidt e Rafaela entre os cabeças

Por enquanto, apenas três atletas seriam cabeças de chave dos Jogos Olímpicos no ranking atual. Daniel Cargnin, em 3º nos 73kg; Guilherme Schimidt, em 4º nos 81kg; e finalmente Rafaela Silva, 5ª na 57kg, mas cabeça 4 já que duas canadenses brigam pela liderança do ranking.

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Rafaela Silva perde para ucraniana Daria Bilodid, que subiu da 48kg para 57kg (Foto:Gabriela Sabau / IJF)

Outros sete atletas estão dentro da zona de classificação. Mayra Aguiar, 12ª no ranking da 78kg ainda está a apenas 462 pontos da chinesa Ma Zhenzhao, que seria atualmente a quarta cabeça. Sem disputar torneios desde o Masters de Jerusalem, em dezembro de 2022, ela tem boas chances de subir rapidamente no ranking assim que voltar.

Nem lá em cima, nem lá embaixo

Além dela, o mais próximo dos cabeças é Rafael Macedo, 13º nos 90kg. Enquanto isso, Willian Lima 24º nos 66kg, Rafael Silva, o Baby, 14º nos +100kg parecem tranquilos quanto a vaga, mas ainda distante dos cabeças. Mesma situação de Ketleyn Quadros, 18ª na 63kg e Beatriz Souza, que apesar de dois pódios em mundiais, competiu pouco e está em 20º no ranking do +78kg.

Larissa Pimenta, competindo na Hungria pela primeira vez desde fevereiro, está na berlinda nos 52kg. Em 17º, ela está a apenas 89 pontos a frente da vaga direta, mas a quase 1400 pontos longe do top8, onde ela teria amplas condições de estar se disputasse mais torneios.

O lado ruim disso tudo é que nas 10 categorias acima, curiosamente apenas na 57kg – a mesma categoria em que faltamos em Tóquio – temos um segundo nome dentre os classficados, Jéssica Lima, em 21º. Por outro lado, nas quatro categorias em que não temos atletas classificados não existe um titular absoluto e vários atletas tem chances de conquistar a vaga. 

Categorias do judô em busca de vagas olímpicas

Por enquanto, a 11ª vaga via cota continental está indo para a 100kg, com Leonardo Gonçalves está em 23º com 1220 pontos, pouco a frente de Rafael Buzacarini, 25º com 1150 pontos. Por enquanto, a última vaga está com o sérvio Aleksandar Kukolj, 21º com 1308 pontos. Prova de uma categoria bem distribuida, o cabeça 8 seria Toma Nikiforov, da Bélgica, com 1637 pontos.

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Rafael Buzacarini e Leonardo Gonçalves lutam pela vaga olímpica (Foto: Grand Slam de Budapeste 2020 / Roland Marx/EJU)

Mesma situação da 48kg, em que Natasha Ferreira está em 30º com 862 pontos, pouco a frente de Amanda Lima, 31ª com 860 pontos. A última vaga por enquanto está com a chilena Mary Dee Vargas, 28ª com 976 pontos.

A situação começa a ficar um pouco mais delicada na 70kg. Maria Portela era a titular absoluta e parecia firme na corrida olímpica, mas anunciou a aposentadoria no começo de 2023. A categoria ficou órfã, mas Ellen Froner parecia ter se tornado a titular com a medalha de bronze no Grand Slam de Paris. Lesionada, ela está apenas em 44º no ranking, com 391 pontos, mas ainda a frente de Alexia Castilhos, 50ª com 316 pontos. Dessa forma, o Masters foi muito bom para Luana Carvalho que somou 288 pontos e agora está em 34ª com 598 pontos. A última vaga direta na categoria está com a uzbeque Gulnoza Matniyazova, 23ª com 1075.

Situação tensa na 60kg

A situação se torna crítica nos 60kg. O último classificado, Angelo Pantano, da Itália, está em 32º com 710 pontos. Mesmo assim, os brasileiros estão bem distantes. Matheus Takaki é apenas 50º com 382, fruto de duas oitavas e uma segunda rodada em Grand Slam, e duas em Grand Prix. Michel Augusto está em sua cola, com 356 pontos e está em 52º lugar, frutos do mundial juvenil de 2022 e campanhas em abertos pan-americanos.

Aberto da bahia 60kg pódio 2023 Diego Ismael (prata), Michel Augusto (ouro), Ryan Conceição e Matheus Takaki (bronzes)
Diego Ismael (prata), Michel Augusto (ouro), Ryan Conceição e Matheus Takaki (bronzes) formaram o pódio dos 60kg no Aberto da Bahia. Brasileiros não conseguem emplacar no ranking mundial (Foto: Anderson Neves/CBJ)

Enquanto a chance de alguém dos 60kg subir para a zona de classificação é bem difícil, ao menos a expectativa é que o Brasil consiga se classificar diretamente na 48kg e 70kg feminina, além da 100kg masculina, e aí garantir a 60kg através da cota continental. Mas claro, uma disputa de medalhas em Grand Slam ou Grand Prix pode dar o estopim necessário.

Calendário do judô focado na Europa e Ásia

Infelizmente, lá se foram os tempos de Grand Slam no Brasil e o circuito da FIJ não tem ajudado muito o Brasil. A última vez que o Brasil recebeu uma grande competição foi o Grand Slam de Brasília em 2019. Neste cenário talvez se torna importante ou a criação de mais intercâmbios com federações para que o time brasileiro fique treinando fora entre eventos, enquanto os torneios do circuito não voltam.

Depois do Mundial de Doha, o Brasil levou 16 atletas para o Grand Prix de Linz (Áustria), entre 25 e 27 de maio. A competição provou ser fundamental para os sonhos olímpicos de Leonardo Gonçalves (ouro), Marcelo Gomes (bronze na 90kg) e Natasha Ferreira (5º). Apenas Guilherme Schimidt (vice) e Rafael Macedo (5º) participaram do Grand Slam de Astana, no Cazaquistão entre 16 e 18 de junho.

Ficamos de fora do Grand Prix de Dushanbe, no Tajiquistão, entre 2 e 4 de junho; e do Grand Slam de Ulaanbaatar, na Mongólia, entre 23 e 25 de junho. Foi uma pena, pois estas questões distribuíram muito pontos e estavam esvaziadas, ainda que pelo mesmo motivo que o Brasil não foi: difícil e custeoso acesso aos países.

Grand Slam de Abu Dhabi ou Pan de Santiago?

O problema é que as próximas competições do judô deste ano também são bem longe. O Brasil inscreveu 24 atletas para o Grand Prix de Zagreb entre 18 e 20 de agosto, incluindo todos os que estão na briga por uma vaga olímpica, com exceção de Takaki, dando chance a outros atletas da categoria. Depois, temos o Campeonato Pan-Americano e da Oceania em Calgary, Canadá em 15 e 16 de setembro; em seguida o Grand Slam de Baku, no Azerbaijão entre 22 e 24 de setembro; o Grand Slam de Abu Dhabi entre 24 e 26 de outubro; e finalmente o Grand Slam de Tóquio, Japão, em 2 e 3 de dezembro que sempre reune a elite do judô japonês e mundial. 

Para piorar, o torneio nos Emirados Árabes será poucos dias antes dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, que não vale pontos no ranking mas muito prestígio para o COB e os atletas. O que pode ainda ajudar bastante o Brasil neste ano é o campeonato pan-americano que acontecerá em Calgary, no Canadá. Ainda não está claro se ele valerá 100% dos pontos ou 50%, já que um outro pan-americano deverá acontecer em 2024. De qualquer maneira, a campanha no Masters deixou aceso o alerta.

Fazer contas tem sido o esporte favorito dos fãs de judô no Brasil, mas para isso os atletas precisam vencer e não chegar em 2024 com dois shidos na corrida.

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

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