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Atletismo

Em quarentena, atleta corre meia maratona no apartamento

Praticando isolamento social em casa, paulistano não aguentou ficar somente nos treinos funcionais, deu 1241 voltas em um circuito improvisado de 17 metros e percorreu 21.1 km

crédito: arquivo pessoal

O isolamento social utilizado como estratégia dos governos no combate à pandemia do coronavírus trouxe a necessidade de se exercitar em casa à rotina dos atletas brasileiros, sejam eles profissionais ou amadores. Em algumas modalidades, a tarefa é mais adaptável, ainda que não seja fácil. Em outras, a situação fica mais complicada pela necessidade dos espaços abertos.

É o caso da corrida. Milhões de atletas utilizam parques, praças públicas ou mesmo avenidas e ruas para praticar o esporte. Sem poder contar com as esteiras das academias fechadas, muitos tem de fazer certas loucuras para não ficar sem treinar.

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Foi o que fez o maratonista amador de 36 anos Thiago Bomfim. Morador da cidade de São Paulo e em preparação para a Maratona de Boston – uma das tradicionais do mundo e que exigem muito esforço e dedicação -, o supervisor de manutenção de 36 anos resolveu começar a correr dentro de seu apartamento de 79 metros quadrados para não perder o ritmo.

” Depois de decretado o isolamento social, eu comecei fazendo somente treinos funcionais em casa. Mas me faltava fazer aquilo que mais gosto na vida: correr. Vi uma matéria de uma pessoa que havia corrido dentro do apartamento no Japão e resolvi fazer igual. Comecei com um percurso de 5km entre a sala, a cozinha e a varanda. E me senti muito bem [risos],” contou Thiago em entrevista ao Olimpíada Todo Dia.

Cuidado com as lesões

O atleta diz que se adaptou bem ao percurso e viu que era possível aumentar a distância, desde que estivesse sempre atento para evitar o risco de lesão. Quatro dias depois dos 5 km, encarou o difícil desafio de correr uma meia maratona (21,1 km) dentro de um pequeno espaço.

“Depois dos 5 km, dobrei para 10 km. Aí experimentei fazer um pouco do treino de tiro também. Confortável, subi o volume para 14 km e então falei para a minha esposa: ‘vou fazer uma Meia Maratona’. Ela achou bacana a minha determinação, só me disse que depois que a quarentena acabar vou ter que trocar o piso de casa [risos],” comentou.

Incentivado pela mulher, Thiago Bomfim correndo em seu apartamento de 79 metros quadrados

Os números da “Meia-Maratona do Apê”

O circuito “sala-cozinha-varanda” percorrido por Thiago tem um total de 17 metros. Isso significa dizer que o maratonista amador deu 1241 voltas dentro da própria casa. E o mais impressionante foi o tempo que levou para realizar o feito: 1h47min51 (média pouco acima de 5 minutos gastos para se percorrer cada quilômetro).

“Acabei me surpreendendo com o tempo por ser um espaço muito pequeno. Mas a parte do percurso que passava pelo corredor era maior e dava para fazer uns sprints, então ajudou [risos]. Minha esposa me incentivou o tempo todo também. Ficou bem acima do meu recorde pessoal para a distância de meia-maratona (1h20min08), mas valeu,” disse Thiago.

21.1 km de uma meia-maratona percorridos dentro de casa em 3014 voltas, em um tempo de 1h47min. (Crédito: arquivo pessoal)

O treinador de Thiago Bomfim, o triatleta profissional Adriano Bastos, não acreditou no feito de seu aluno. Oito vezes campeão da Maratona da Disney e dono da Adriano Bastos Treinamento Esportivo, Adriano disse que nunca fez algo parecido na corrida e que se divertiu após ver o feito do aluno.

“Quando ele fez os 5km, eu achei engraçado. Foi uma forma de mostrar para os outros alunos que com pouco espaço, dá para se movimentar. Tem que ter muita paciência para realizar essa brincadeira,” contou o treinador. Adriano Bastos enfatizou ainda que não recomenda aos alunos a prática de grandes distâncias dentro de casa por questões de segurança.

” Quando o Thiago resolveu aumentar as distâncias, eu me preocupei como instrutor, pois fazer algo desse tipo não é algo recomendável por questões articulares. Após ver a mensagem dizendo que ele havia feito uma meia-maratona, eu tomei um susto. Mas como o conheço há tempos e sei do seu histórico na corrida, sei que ele fez com a cautela para evitar qualquer acidente. Mas aconselhei que não torne esse desafio pessoal de quarentena como um hábito,” explicou Adriano.

Inspiração

Outros atletas da assessoria se inspiraram na meia-maratona de Thiago Bomfim e também começaram a correr dentro de suas casas. O corredor amador Bruno Watanabe acordou cedo no último final de semana para realizar seu tradicional trote dominical, antes da pandemia realizado nas ruas do bairro, dentro do apartamento. O bancário disse que curtiu a experiência, mas que espera poder voltar logo para as ruas assim que o coronavírus permitir.

Bruno correndo em seu apartamento no último final de semana sobre o olhar atento de seu filho Lucas Antônio, de seis meses

“Eu corri bem tranquilo. Dava pra parar pra beber água no meio do percurso e se faltava alguma coisa, como um gel para repor carboidratos, dava pra buscar rápido no quarto. Mas é bem mais difícil correr em casa. É muito mais mental do que físico. E na rua você vai correr por um percurso largo duas ou três vezes no máximo. No apartamento, são mais de 300 repetições, e sem espaço. É bem difícil,” comentou.

Bruno Watanabe após a conclusão de seu treino em casa. Crédito: arquivo pessoal

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