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Sem liga nacional, basquete paraguaio leva medalha com mão brasileira



Basquete 3×3 do Paraguai teve campanha sensacional para levar o bronze, mas as atletas ainda lutam para viver do esporte, cuja liga nacional foi cancelada



Agostina Ochipinti, Ana Brítez, Antonella Luraghi e Manuela Ramirez. Basquete 3x3 paraguai bronze nos Jogos Pan-Americanos Júnior Assunção-2025
(Foto: SND)

De Assunção – O basquete 3×3 se transformou em um dos favoritos da torcida durante os Jogos Pan-Americanos Júnior, com filas enormes para entrar na arena do Centro Olímpico Paraguaio (COP). O time feminino do Paraguai contou com o apoio maciço de sua torcida para conseguir a medalha de bronze em Assunção-2025. O basquete do país, que sofre com a ausência de uma liga nacional feminina, espera continuar o embalo para que a conquista seja a semente de um desenvolvimento do esporte na nação.

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“Começamos a trabalhar em fevereiro de 2024 com as duas modalidades do basquete, até que o 5×5 caiu dos jogos. Em junho, fizemos um camping com 18 países aqui, incluindo o Brasil, e acho que esse foi um momento decisivo para o nosso 3×3. Trouxemos um técnico brasileiro especialista em 3×3, o Lucas Carvalho, que nos ajudou bastante em uma semana”, revelou ao Olimpíada Todo Dia Ariel Rearte, técnico argentino que está no Paraguai desde o começo de 2024 para comandar o desenvolvimento das seleções com foco justamente os Jogos Pan-Americanos Júnior.

“Acredito que esse campeonato vai difundir muito o 3×3”, aposta Rearte. “Essas garotas não são jogadoras profissionais, elas estudam, trabalham e jogam basquete. Deixaram muitas coisas de sua vida para treinar. A medalha nos escapou do masculino, mas pudemos avançar no feminino e ganhar um jogo para coroar todo esse trabalho”.

Desenvolvimento do basquete 5×5 também em pauta

Ariel Rearte também espera que o basquete feminino possa crescer. “Temos um programa de desenvolvimento para o 3×3. Vamos jogar a Americup no fim do ano, o processo vai continuar, vamos ter a participação de mais jogadoras. Lamentavelmente, o basquete ainda não é um esporte profissional, algumas estão jogando no exterior. As que estão aqui, todas precisam trabalhar, algumas são mães, ou cuidam da família”.

“Temos poucas equipes na primeira divisão feminina (do basquete 5×5), então é custoso organizar os torneios”, explicou Rearte. “Acho que essa medalha vai ajudar muito para que possamos canalizar recursos. O 3×3 pode ser um formato muito mais fácil para desenvolvimento de países menores, e podemos ser uma potência”.

Campanha do Paraguai contou com duas vitórias no tempo extra

O Paraguai começou bem contra Porto Rico, mas aparentando nervosismo, perdeu muitas chances e terminou com derrota por 16 a 13. A redenção veio contra o Canadá, com uma vitória de virada, no tempo extra, por 15 a 13. Nas quartas de final, as donas da casa passaram novamente por um sufoco, desta vez contra a Argentina. Chegaram a estar perdendo por 13 a 9, mas venceram por 17 a 15. 

Na semifinal, uma derrota por 14 a 8 colocou o quarteto paraguaio na disputa pelo bronze, quando ganhou do Brasil por 16 a 15. Durante o jogo, a torcida transformou a arena em um verdadeiro caldeirão, gritando a cada ponto e tentando atrapalhar as jogadoras brasileiras. Para Arianny Francisco, o barulho da torcida não atrapalha. “Individualmente, eu gosto muito, achei maneiro, mas não foi o resultado que a gente queria”, declarou ao fim do jogo. 

Garra e vontade foram o incentivo paraguaio

Ao final do jogo, a imprensa paraguaia invadiu completamente a zona mista dedicada aos jornalistas. Cada uma em um canto, respondendo aos diversos meios de comunicação do país, uma coisa em comum nas respostas: a valorização do espírito de equipe. Ao Olimpíada Todo Dia, Ana Brítez resumiu a estratégia para ganhar do Brasil: “Pura garra. Muitíssima vontade”.

“Estamos muito felizes. Nos preparamos muitíssimo, e foi uma linda experiência com minhas companheiras. Fomos uma equipe que se levantou, apoiou umas às outras, e assim pudemos conquistar o resultado que foi muito difícil. Sabíamos que jogar contra o Brasil seria muito duro e nos custaria bastante, então não nos rendemos e seguimos em frente”, contou a atleta, destaque da disputa pela medalha de bronze.

Ela também lamentou a ausência de uma liga nacional no Paraguai. “Nós jogamos principalmente o basquete 5×5, mas este ano não tivemos torneio. Pudemos, então, desde o início do ano nos preparar para estes Jogos. Espero que ainda aconteça, que (essa medalha) seja um impulso”, completou Brítez, que joga – quando pode – pelo Club Félix Pérez Cardozo.

Agostina Ochipinti, uma das companheiras de Brítez com Antonella Luraghi e Manuela Ramirez, revelou que o time paraguaio já conhecia o Brasil por conta do camping realizado e que foi muito difícil. “Minha primeira medalha pan-americana… nunca tinha ganhado nada! Espero que o basquete paraguaio seja muito maior agora, que seja um salto, que mostre que o Paraguai ‘sim, pode’, que o time feminino, ‘sim, podemos’”, completou.

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

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