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Crônicas Olímpicas

Infiltrada na Maratona de Boston

Numa época em que as pessoas acreditavam que as mulheres não eram capazes de correr mais de dois quilômetros e meio, Kathrine Switzer decidiu provar o contrário.

O mês de janeiro é o pior para escrever crônicas. É o período em que as pessoas estão de férias e quase nada acontece no universo olímpico. Na primeira semana do ano não foi diferente. Pensei, pensei, pensei e nenhuma ideia de texto veio à cabeça. Entre livros, jogos de Xbox e séries no Netflix, surgiu uma ideia: eu poderia escrever sobre o futuro. O ano de 2019 será de muitas competições importantes e por que não escrever sobre elas?

O Google é o melhor companheiro nessas horas. Fiz as pesquisas e comecei a escrever. Até que recebi uma notificação no WhatsApp. Em um dos grupos que participo, recebi um vídeo com uma história que nunca tinha ouvido. Fiquei curioso e fui apurar. Era verdadeira e fiquei interessado em compartilhar com você.

O vídeo contava a história da Maratona de Boston, que aconteceu em 1967. Na época, todo mundo achou que seria uma corrida comum, mas não sabiam que havia um impostor no percurso. Numa época em que as pessoas acreditavam que as mulheres não eram capazes de correr mais de dois quilômetros e meio, Kathrine Switzer decidiu provar o contrário.

Por mais de 70 anos, a maratona foi um evento disputado por homens. Na época, Kathrine fez a inscrição da prova colocando somente com as iniciais no formulário de participação, no lugar do nome completo. Com a estratégia, os organizadores acharam que ela era um homem. Assim, Katherine se tornou a primeira mulher a correr oficialmente uma prova de longa distância.

O tempo estava frio e chuvoso no dia da prova. Os corredores vestiam capuz e capas de chuva, o que facilitou para que Kathrine se escondesse no meio dos homens. Com o número 261, ninguém percebeu que ela era uma mulher. Ela correu ao lado do técnico Arnie e do namorado Tom.

Até que passou o caminhão levando a imprensa e o encarregado da corrida Jock Sempre. Quando ele viu uma mulher, Jock pulou do carro e correu atrás dela e gritou: “Saia agora mesmo da minha corrida e me dê esses números!”. Totalmente fora de controle, ele partiu para cima dela, tentando arrancar os números. Kathrine não se intimidou e continuou correndo.

Foi quando o namorado da jovem empurrou e derrubou no chão o encarregado da prova. Toda a cena foi registrada pelos jornalistas que estavam no caminhão da imprensa, onde você pode ver o vídeo no Youtube. Ainda assustada com o incidente, ela falou para o treinador: “Tenho que terminar esta corrida, nem que seja para chegar de joelhos. Porque se eu não terminar, ninguém vai acreditar que as mulheres conseguem fazer isso. Ninguém vai acreditar que as mulheres devem estar aqui”.

Kathrine fechou a corrida em 4h20min e entrou para história como a primeira mulher a correr uma maratona. No entanto, levou 5 anos para que as mulheres pudessem oficialmente participar da maratona de Boston. Hoje, ela se tornou uma ativista para corredoras mulheres e foi uma das responsáveis por incluir a maratona feminina nos Jogos Olímpicos. “Nós sabemos que se nós dermos poder às mulheres, elas são capazes de qualquer coisa”.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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