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Ana Moser alerta sobre o futuro do legado olímpico dos Jogos do Rio 2016

Na data que marca a contagem de um ano para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser escreveu artigo onde destaca a questão do legado que as Olimpíadas deixarão para a população do Rio

Na data que marca a contagem regressiva de um ano para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, presidente do Instituto Esporte & Educação e da ONG “Atletas pelo Brasil”, escreveu um artigo onde destaca especialmente a questão do legado olímpico verdadeiro que os Jogos deixarão para a população do Rio de Janeiro e para o próprio Brasil.

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RIO 2016: O PRAZO É CURTO, MAS UMA LUZ FOI ACESA

Por Ana Moser

A Olimpíada do Rio está chegando. Passou muito rápido. O Brasil entrou nesta empreitada com um sonho, mas sem um propósito claro. A perspectiva era o desenvolvimento do Brasil e do esporte, por meio das vertentes econômicas envolvidas, especialmente a imagem do País. Conceitos abstratos, discursos. Com certeza concretos para os comandantes e líderes deste processo, mas distantes do cotidiano das pessoas. Não era claro para os milhões de brasileiros que pararam para acompanhar o resultado da votação da sede olímpica em outubro de 2009, além do orgulho de receber o evento em casa, o que se ganharia com isso.

O tempo foi passando, teve Londres 2012 com os mesmos três ouros e somente duas medalhas a mais do que as 15 de Atlanta 96. Depois construímos a Copa, fizemos a Copa e perdemos a Copa. Perdemos também a ilusão do espírito esportivo com as prisões na FIFA. Conhecemos, por outro lado, histórias de superação, talentos que despontaram, vitórias e lutas. A cada capítulo dessa novela ESPORTE que o Brasil vive nesta última década, cada acontecimento gerou debate e fez crescer na imprensa, entre as empresas, nas universidades, na comunidade esportiva e entre as pessoas comuns questões como: o que eu ganho com isso, o que o esporte e o Brasil ganham com tudo isso.

Organizar uma Olimpíada é uma operação grandiosa que envolve milhares de gestores de vários setores, públicos e privados, num emaranhado logístico e de infraestrutura admirável. Especialmente para o Brasil que, na largada, saiu com muita defasagem, tanto de infraestrutura urbana e arenas esportivas para receber os competidores e torcedores, quanto pela estrutura física e humana para formar nossa própria equipe olímpica e garantir o desenvolvimento do esporte de rendimento. A maior parte das modalidades esportivas não tinham estrutura para treinamento, equipamentos e condições de participar de competições internacionais.

Ex-capitã da seleção brasileira de vôlei, Ana Moser é a presidente da ONG "Atletas pelo Brasil"

Ex-capitã da seleção brasileira de vôlei, Ana Moser é a presidente da ONG “Atletas pelo Brasil” e escreveu artigo sobre o legado dos Jogos Olímpicos de 2016

Estes foram os maiores focos de investimento público, representando, segundo alguns levantamentos, cerca de 70% do recurso federal para o esporte. Foram construídos centros de iniciação esportiva e de treinamento de base em várias cidades, dezenas de pistas de atletismo de alto padrão espalhadas pelo Brasil, centros de treinamento equipados – ginástica, natação, judô, canoagem, levantamento de peso… – , técnicos e até atletas estrangeiros para fortalecer todas as modalidades, Parques Olímpicos, Vila Olímpica e tudo o mais.

O legado para a cidade do Rio de Janeiro está posto, especialmente no que se refere ao desenvolvimento urbano e turístico. Posto também está o legado material dos grandes eventos, uma chance única para se construir esta infraestrutura esportiva. O desafio atualmente é garantir a manutenção destes equipamentos especializados e específicos para o esporte de rendimento, construídos com recurso federal, mas para serem mantidos pelos estados, municípios, empresas, confederações, COB e CPB, num modelo longe de se ver desenhado. Outro desafio é pensar nas estratégias para manter, após 2016, o investimento das Confederações e COB nas novas equipes técnicas e estruturas de treinamento adquiridas devido ao patrocínio prioritário de empresas estatais e privadas. Como fazer se este fluxo de recursos diminuir?

Em contrapartida, ainda temos uma população que não tem acesso nem é educada culturalmente para praticar esporte. O recente Diagnóstico do Esporte (DIESPORTE) mostrou que metade da população brasileira é sedentária e 90% dos ativos não participam do “sistema formal”, não participam de competições e fazem esporte sem orientação profissional, por conta própria. Somente 30% das escolas públicas tem quadra coberta e são poucos alunos que acumulam 80 horas de educação física por ano. Este legado, nesses anos todos, nunca foi foco de planos ou investimento. No último ano deste período olímpico uma luz se acendeu com a possibilidade de construção do Sistema Nacional de Esporte e do Plano Nacional de Esporte, esforço empreendido pelo Ministério do Esporte e por boa parte da comunidade esportiva nacional, com ampla representação das diferentes dimensões do esporte. O prazo é curto, importante aproveitar a chance para deixar um legado que sustente o que se conquistou e amplie o alcance, o esporte acontecendo para mais pessoas por todo o Brasil.

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