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Danielle Rauen treinou na casa dos pais com o irmão na pandemia

Durante os quatro meses de isolamento, paratleta teve a companhia do irmão, ex-atleta de tênis de mesa

Danielle Rauen
Paratleta treinou com irmão em mesa emprestada na quarentena (Roberto Castro/rededoesporte.gov.br)

A pequena São Bento do Sul está sempre presente na memória afetiva de Danielle Rauen, mas há tempos não era a coordenada fixa de seu “GPS” num período tão longo.

Medalhista de bronze por equipe nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, campeã individual das classes 8 a 10 dos Jogos Parapan-Americanos de Lima, em 2019, e classificada para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, a integrante da seleção permanente de tênis de mesa do Brasil voltou à cidade catarinense de 85 mil habitantes assim que os treinos foram paralisados no Centro de Treinamento de São Paulo, em 13 de março.

Na cidade de sua família, Danielle Rauen conseguiu com a Federação da modalidade uma mesa emprestada. Treinou com o irmão, Alisson, que já foi atleta da modalidade, e, quando teve início a abertura gradual das instituições no estado, passou a bater bola com Gustavo e Guilherme Marchiori, integrantes das seleções de base na versão olímpica do esporte.

Família e esporte

Segundo a atleta, a proximidade familiar e a manutenção das atividades esportivas foram essenciais para manter a face mental em ordem durante o período de incertezas gerado pela pandemia da Covid-19. “O nível foi muito bom para não perder o contato com a raquete. Obviamente, não na mesma intensidade de habitualmente, mas com dois atletas de nível muito elevado e que foram importantes”, afirmou.

Ao todo, foram quase quatro meses ao lado da família até o anúncio de que as atividades seriam retomadas no CT Paralímpico de São Paulo. Normalmente, diante da rotina de treinos e torneios mundo afora, o maior período que ela compartilha com os parentes mais próximos são os pouco mais de dez dias de recesso no fim do ano.

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“Esse tempo todo ao lado deles é algo que dificilmente posso fazer. Eu os vejo uma vez por mês, quando venho para cá fazer a minha medicação, e nas folgas de fim de ano”, contou a atleta, que trata uma artrite reumatoide, doença autoimune que provoca dor e inflamação em articulações.

Confira a entrevista com Danielle Rauen

Regresso às raízes

“Desde o início, quando os treinamentos se encerraram em São Paulo, vim para Santa Catarina e já pedi uma mesa emprestada para a Federação Catarinense. Eles encaminharam aqui para casa. Consegui treinar com meu irmão, Alisson, que já foi jogador de tênis de mesa. Ficávamos batendo bola para não perder esse contato com a raquete”.

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“Posteriormente, quando começaram a abrir as coisas aqui no estado, comecei a treinar com dois atletas bem fortes do estado, atletas olímpicos do juvenil e do infantil (Gustavo e Guilherme Marchiori). No caso, para mim, o nível foi excelente para não perder o contato com a raquete. Obviamente não na mesma intensidade de habitualmente, mas com dois atletas de nível muito elevado e que foram essenciais”.

Suporte multidisciplinar

“Além desses treinamentos na mesa de tarde, de manhã faço duas vezes por semana treinos extras preventivos de mobilidade articular, com fisioterapeutas, e mais três dias na semana de treinos de parte física e de fisioterapia preventiva. Conseguimos ter esse suporte do Comitê Paralímpico Brasileiro com esses profissionais. Houve trabalhos de psicologia, de nutricionista, de massoterapia. Um grupo de profissionais que nos acompanhou online mesmo na quarentena”, comentou Danielle Rauen.

Foco no que tinha controle

“Quem não surta com quarentena, né? Tive, claro, aqueles momentos difíceis, de não saber quando voltariam os treinos, as competições. E viver isso vendo os nossos adversários voltando aos treinos em seus países é ainda mais angustiante. Foi difícil nessa parte, principalmente sabendo que há uma Olimpíada no horizonte”.

“Nesse aspecto, acho que estar na casa dos meus pais me ajudou bastante. Tentei focar no que podia ter controle, no que podia fazer em casa, na mesa e na parte física. Naquilo que não podia controlar, tentei não pensar muito. Acho que ajudou. Agora que vamos retornar, estou muito feliz com isso. Obviamente com todos os cuidados possíveis redobrados, mas feliz com essa volta aos treinamentos e por poder voltar a fazer o que gosto”.

Ansiedade e cuidados

“Estávamos ansiosos por essa liberação para retornar. O Centro de Treinamento Paralímpico é especial para o tênis de mesa pela estrutura. É um local grande, dá para fazer espaçamento de mesas. Conseguimos ter um distanciamento legal entre a gente. O CPB criou um protocolo de retomada e deixou a gente seguro para voltar com segurança e saúde. Há um túnel de sanitização”.

“Eles medem febre, saturação e só vão participar do treino, num primeiro instante, medalhistas mundiais e paralímpicos. No tênis de mesa, são quatro atletas: eu, a Jhenifer Parinos, a Bruna Alexandre e o Israel Stroh. Os cadeirantes medalhistas vão esperar mais um pouquinho, porque são considerados de grupo de risco. Estou animada e espero em breve poder estar na mesma intensidade que estava e voltar bem para as competições”.

Suporte essencial

“É preciso frisar a importância dos apoios que tivemos nessa quarentena. O CPB, por toda uma rede de proteção e pelos profissionais que nos acompanharam, além desse retorno cheio de protocolos e com segurança. A Secretaria Especial do Esporte, por nos apoiar com a manutenção da Bolsa Atleta e da Bolsa Pódio. O Time São Paulo também seguiu apoiando. A importância disso é extrema e nos dá toda a motivação para seguir em busca dos nossos objetivos e de resultados bons para o Brasil em Tóquio 2021”.

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