Siga o OTD

Skate

No ápice, comunidade do skate mantém a essência das ruas

Mesmo em um evento gigantesco como o Mundial de Park, o skate segue fiel às suas raízes urbanas de muito respeito, aceitação e curtição

Marcello Zambrana

Dentro e fora da pista, o Campeonato Mundial de skate park se mostra receptivo, amistoso e alegre. Faz parte da comunidade do skate ter um respeito mútuo, apreciar o desempenho do adversário e curtir muito. Isso vem das ruas, onde tudo começou. Andando pelas cidades, aprendendo a dividir o espaço urbano, protegendo um ao outro, aberto a todos, sem restrição. Isso tudo se reflete em um evento gigantesco, que reúne os principais nomes da modalidade ao redor do mundo.

Só não ache que o evento não seja disputado. Há uma corrida olímpica por trás e o Mundial de São Paulo vale o dobro de pontos. É o ápice da temporada. Os melhores do skate park estão na capital paulistana atrás das vagas para Tóquio 2020. Por isso mesmo, os nervos também estão à flor da pele, mas sabendo aproveitar o momento.

E quem está na arquibancada também sabe apreciar o evento e sua magnitude. O público brasileiro vibra mais quanto tem atleta da casa, mas também apoia, reconhece aplaude e urra com as manobras dos estrangeiros. Andy Anderson, do Canadá, foi um dois mais cativou o público brasileiro. “Eu gosto de agitar e fazer a audiência crescer de acordo com as nossas manobras” disse o canadense enquanto voltava para a pista após se alimentar na área aberta ao público. Sim, todos juntos, atletas e torcida dividindo o mesmo espaço. Sem falar que os atletas curtem muito enquanto estão de fora da pista. Há uma interação muito respeitosa. O atleta tem o espaço dele, mas também posa para tirar fotos e dar entrevistas.

E esse clima se espalha ao redor. Vem dos atletas e do público. Shaun White chegou ao local de competição andando de skate, conversando com os amigos, como se estivessem indo andar perto de casa.

O clima é bem familiar. E se as pistas são democráticas quanto à idade – temos atletas dos 11 anos (Sky Brown – EUA) até 32 anos (Riley Boland – CAN), o público também é. Muitas famílias, cachorro e todo tipo de pessoa circulam no evento. Pedro Castro, 35 anos, levou o filho e um amigo, os dois com 10 anos, para acompanharem o evento. “Aqui é diversão e tranquilidade. Sei que eles vão gostar”. Mas antes que o pai complete a frase, o filho Miguel emenda. “Você viu a altura que o Shaun White vai?”. Na sequência, o amigo Lucas retruca. “Mas é que a base dele vem do snowboard, por isso que ele voa mesmo”. E os três concordam de imediato.

Fora que as sessões de treinamento são abertas ao público e se transformam em mais um espetáculo. É possível ouvir as gargalhadas dos atletas e sentir a energia das rodinhas descendo, subindo e girando no ar. Nas sessões abertas de treino, é possível também ver os skatistas fazendo a linha que usarão nas disputas e é bem duro. Cheio de quedas e repetições. Mas o skate é isso, cair e levantar e fazer de novo, é a resistência das ruas.

E nos outros esportes e modalidades existem esses aspectos também, mas não com a leveza e a graça do skate. Até quando o skate se manterá assim? Difícil saber, mas as transições para o esporte ficar cada vez mais profissional e se ajustar ao mundo olímpico serão suaves e harmoniosas. E com muita autenticidade. Em seu ápice em São Paulo, o skate se mantém fiel à essência das ruas, mas já tem cara de esporte olímpico.

Mais em Skate