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Wada precisa ser rigorosa com a cara de pau da Rússia

Agência Mundial Antidoping é pressionada para a voltar a punir os russos, que não permitiram uma vistoria no laboratório de Moscou

Wada

A Wada está sendo pressionada a voltar a punir a Rússia, por não permitir que a entidade tivesse acesso aos dados do laboratório de Moscou (Crédito: Reprodução)

A Wada (Agência Mundial Antidoping) tem pela frente seu primeiro grande teste em 2019. Para não perder sua credibilidade, precisa ser rigorosa e voltar a punir a Rússia por tratar com descaso o combate ao doping.

Em setembro de 2018, numa decisão considerada por muitos como polêmica, a Wada aceitou reintegrar a Rusada (agência russa antidopagem), bem como o laboratório de Moscou, especializado em fazer exames antidoping.

Tratava-se do primeiro grande gesto de reaproximação da Wada com os responsáveis pelo maior esquema de dopagem sistêmica revelado no esporte mundial.

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Em 2015, uma comissão independente da Wada, comandada pelo advogado canadense Richard Pound, divulgou um relatório denunciando que dirigentes russos que comandavam o controle antidoping manipularam amostras, cobraram propinas para esconder resultados positivos e destruíram mais de 1.400 exames.

O esquema, confirmado posteriormente por um relatório oficial da Wada (o relatório McLaren), tinha como principal objetivo facilitar a vida de atletas da Rússia durante a realização da Olimpíada de Inverno de Sochi, em 2014.

À medida que a investigação avançava, ficou comprovado que havia sim uma participação de autoridades do governo russo, entre eles o ex-ministro do esporte do país, Vitaly Mutko.

Para reforçar isso, às autoridades contaram com uma importante ajuda. Os depoimentos do ex-diretor do laboratório de Moscou, Grigory Rodchenkov, que confirmou todo o esquema de manipulação de amostras é adulteração de exames.

Rodchenkov precisou fugir da Rússia, e vive sob o programa de proteção à testemunha nos Estados Unidos.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) começou a fazer reanálises de exames feitos em competições anteriores e diversas medalhas de atletas russos foram retiradas diante dos resultados positivos.

Mas o prejuízo foi ainda maior. A Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo) suspendeu a Rússia de todas as competições.

Seus atletas foram proibidos de participar da Olimpíada Rio-2016. A punição segue em vigor até hoje, com a Iaaf somente liberando a presença de russos com ficha limpa em relação ao doping. Ainda assim, competindo sob bandeira neutra.

No esporte paralímpico, a Rússia foi igualmente banida dos Jogos do Rio de Janeiro.

A situação da Rússia começou a mudar na Olimpíada de Inverno de PyeongChang (KOR), no ano passado. Após ter participado dos Jogos sem equipe oficial, a Rússia foi reintegrada pelo COI no final do evento.

Mas nem tudo foi um mar de rosas. Afinal, houve três casos de exames positivos entre os integrantes da equipe OAR (Atletas Olímpicos da Rússia). Isso, contudo, não foi levado em conta pelos cartolas do COI.

Anistia e retrocesso

A segunda etapa desta anistia havia sido a reintegração da Rusada. Tudo parecia caminhar para colocar os russos em conformidade no combate ao doping.

Para isso, faltava apenas um detalhe, que não foi cumprido pelos russos.

Uma das exigências da Wada era permitir que uma equipe de técnicos tivesse acesso aos dados do laboratório de Moscou até o final de 2018.

Inspetores da Wada não tiveram acesso aos dados do laboratório de Moscou para o combate ao doping (Crédito: AFP)

O primeiro sinal de que a coisa não iria funcionar veio no final de dezembro. Os inspetores da Wada foram impedidos de visitar as instalações. A desculpa é que para isso, teria que ser feita uma liberação via documento oficial do governo russo.

O prazo final dado pela Wada para que a vistoria fosse feita terminou na última segunda-feira (31). Nem preciso dizer que a visita não aconteceu.

Muitos entendem que uma análise dos dados do laboratório de Moscou mais rigorosa poderia apresentar mais indícios de manipulações de resultados de exames.

A cara de pau dos russos pode custar caro. A comissão de atletas da Wada, presidida pela canadense Beckie Scott, ex-atleta do esqui cross country, disse estar decepcionada com a postura russa. E pede que a o país tenha sua reintegração revogada.

Outras agências nacionais de controle de dopagem já emitiram o mesmo parecer, como Estados Unidos, França, Alemanha e Japão, por exemplo.

Há a expectativa que entre os dias 14 e 15 deste mês, o comitê de conformidade da Wada se reúna em Montreal (CAN), sede da entidade. Dificilmente a Rússia sairá sem algum tipo de sanção, comentam os especialistas que acompanham o noticiário olímpico.

Qualquer coisa que não seja uma nova sanção contra os russos colocará a credibilidade da Agência Mundial Antidoping sob suspeita.

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