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Keno Marley Machado, esperança do boxe brasileiro

Como uma conversa de WhatsApp mudou a vida de uma das promessas do boxe nacional e que foi campeão nos Jogos Olímpicos da Juventude

Danilo Borges/rededoesporte.gov.br

Quando Keno Marley Machado, da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos da Juventude, ouviu o gongo ao término da sua luta contra o argelino Farid Douibi, logo teve a certeza que o seu nome estava na história. Assim, aos 18 anos, ele se tornara o segundo boxeador da história do país com um ouro na competição. Antes dele, David Lourenço tinha conseguido um ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2010.

O resultado, obviamente, aumentou o interesse sobre quem havia conquistado a única medalha dourada na edição de 2018 em um esporte individual (o outro ouro foi conquistado no futsal).

O início e a conversa no WhatsApp

Porém, o caminho até o pódio em Buenos Aires havia começado muito antes. Quis o destino, entretanto, que a partir de uma conversa no WhatsApp. Em um grupo de treinadores, o nome de Keno foi citado como promissor. Ele, até então com 12 anos, tinha iniciado no boxe pela influência do irmão.

Primeiramente, a mensagem sobre o garoto da pequena cidade de Conceição do Almeida, no recôncavo baiano, não passou despercebida. Ele recebeu um convite para vir a São Paulo e fazer parte da equipe Tony Boxe, que concedeu toda a estrutura para o desenvolvimento.

“Eu comecei treinando em um projeto social com Marcos Silva, no interior, e de lá eu vim para São Paulo. Antes de ir para a seleção, fiquei quatro anos na equipe”, comenta Keno Marley Machado em entrevista exclusiva ao Olímpiada Todo Dia.

Hoje, ele reside agora no Centro de Treinamento da Seleção e estuda para se tornar um educador físico.

Um pulo para a seleção

Os treinamento, o desenvolvimento e os títulos pela equipe paulista tão logo chamaram a atenção dos técnicos da seleção. “Iniciamos um projeto de categoria de base em 2016, visando os Jogos Olímpicos da Juventude. Nós montamos um banco de dados no Campeonato Brasileiro de Cuiabá, quando vimos os atletas jovens de qualidade. O Keno foi campeão brasileiro na categoria Cadete. Ele já chamou nossa atenção neste campeonato”, conta Mateus Alves Domingues, o Head Coach da seleção e que também esteve com o jovem em Buenos Aires.

Keno Marley Machado e o técnico Mateus Alves – Jonne Roriz/Exemplus/COB

No ano de 2017, Keno passou a ser convidado pela Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) para training camps e e torneios, inclusive internacionais. O destaque do boxeador foi notório e, portanto, no começo deste ano, veio a boa notícia. “Ele é o único atleta juvenil a ser convocado para a seleção brasileira adulta”, explicou Mateus Alves.

Integrante da seleção olímpica, o ano de 2018 foi de muitos títulos para Keno. No mês de maio, foi campeão continental em Colorado Springs, nos Estados Unidos, o que rendeu classificação ao Mundial Juvenil e aos Jogos Olímpicos da Juventude. Antes disso, venceu também a Copa Cinturão de Ouro no Equador, disputada no mês de julho.

“É um garoto que impressiona pelo tamanho, pela capacidade de contra golpear. Ele tem uma velocidade nos braços e consegue sequências impressionantes para a idade dele. Assim tem um potencial para realmente atingir níveis altos no boxe internacional. É novo e tem que ter muito cuidado, mas ele é treinado por um pessoal muito competente”, analisa Wilson Baldini Jr, jornalista especializado em boxe.

No Mundial da Hungria, disputado em agosto, a expectativa era de uma medalha. Keno, no entanto, acabou sofrendo uma das poucas derrotas na carreira. Contudo, a consagração viria meses depois.

O ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude

Keno teria três lutas na competição para chegar à medalha e fez duas (a primeira luta foi um WO devido a expulsão do adversário na luta anterior). De maneira unânime venceu e convenceu com um estilo rápido para o seu 1,90m  de altura. “Eu fiz o que era difícil parecer fácil, de certa forma”, explica.

Reveja a luta final entre Keno Machado e Farid Douibi (ARG):

O resultado de Keno permitiu que fosse designado para ser o porta-bandeira da delegação brasileira na festa de encerramento. “Eu fiquei bastante feliz. Foi um momento muito inesquecível. A sensação foi demais. Eu nunca imaginava ser o porta-bandeira de encerramento. A minha família toda ficou feliz”, relembra.

O futuro para Keno Machado

A vitória nos Jogos Olímpicos da Juventude faz com que seja inevitável, até mesmo para Keno, pensar que daqui a dois anos, possa estar representando o país nos Jogos Olímpicos de Tóquio. “Eu penso em Tóquio e vou fazer um trabalho tentando me classificar para essa vaga”, admite.

“O Keno para 2024 é uma realidade e para 2020 existe uma chance. Ele vai virar adulto ano que vem e a tendência é para que suba de categoria para 81kg, pois não vai conseguir manter 75kg por muito tempo. Hoje tem dois atletas na seleção adulta e ele precisa ganhar as seletivas internas e daí participar dos eventos classificatórios”, finaliza Mateus Alves.

Cobri os Jogos Olímpicos Rio 2016. Trabalhei no apoio jornalístico das Copas do Mundo Fifa de 2014 e 2018. Documentarista de "O caminho suave". Outras produções fílmicas: "EstatiCidade", "Marcelo Rezende - contador de histórias", "Sala de estar", "Azul" e "A entrevista". Experiência na área de esporte e política, com passagens pela TV Band, Portal da Band e pelo Jornal Gazeta de Santo Amaro.

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