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Castigo aos russos pela Guerra da Ucrânia precisa ser repensado

Decisão dos organizadores do Torneio de Wimbledon em barrar tenistas da Rússia e Belarus recebe críticas e abre discussão sobre eficiência da medida

Wimbledon
Torneio de Wimbledon não permitirá a participação de tenistas da Rússia e Belarus como punição pela Guerra da Ucrânia (Divulgação)

Enquanto soldados da Rússia e Ucrânia se enfrentam em território ucraniano, em uma guerra que parece sem fim, as medidas de retaliação no esporte aos russos seguem a todo vapor. Em alguns casos, extrapolando os limites do bom senso. A decisão da organização do torneio de tênis de Wimbledon, o terceiro Grand Slam da temporada, em banir jogadores da Rússia e Belarus (aliado dos russos no conflito) da edição deste ano, se enquadra neste exemplo.

“Nas circunstâncias de tal agressão militar e sem precedentes, seria inaceitável que o regime russo obtenha quaisquer benefícios no envolvimento de jogadores russos ou bielorrussos com o campeonato. Portanto, é nossa intenção, com profundo pesar, recusar a entrada de atletas russos e bielorrussos para a edição de 2022 do torneio”, diz um trecho do comunicado oficial dos organizadores de Wimbledon.

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Esta medida, se realmente for colocada em prática durante o torneio, marcado para acontecer entre 27 de junho e 10 de julho, tem potencial para afetar ao menos cinco tenistas na chave masculina de simples (quatro russos e um bielorrusso) e 12 jogadoras no feminino (nove da Rússia e três de Belarus). Essa conta hipotética é baseada nos 100 melhores ranqueados em cada gênero.

A recomendação feita pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) assim que a guerra começou, para impedir a participação de equipes da Rússia e Belarus tem lá seus argumentos válidos. Embora seja repleta de contradições, especialmente pela entidade ter fechado os olhos para outras intervenções militares de grandes potências (leia-se Estados Unidos).

Exagero?

Feita essa observação, em relação à sanção imposta aos tenistas pelo Torneio de Wimbledon, a coisa me parece que beira o absurdo. Primeiro, porque tenistas competem de forma individual e não como uma equipe representando sua nação. Poderiam perfeitamente ser admitidos como atletas neutros, sem bandeira. A medida já acontece no atletismo com os russos, ainda pela punição imposta ao esquema de doping institucional que foi descoberto em 2015.

Em segundo lugar, alguns dos tenistas que estarão impedidos de participar do Torneio de Wimbledon já se manifestaram publicamente contra a guerra. Entre eles, os russos Danill Medvedev e Andrey Rublev, números 2 e 8 do mundo respectivamente. No feminino, estaria de fora, por exemplo, Aryna Sabalenka, número 4 do mundo. Ou seja, eles estão sendo punidos simplesmente pelo fato de terem nascido na Rússia e em Belarus.

A medida adotada pelos organizadores tem claramente um viés político e alinhada com o direcionamento adotado pelo governo britânico. Não se pensou no atleta, pura e simplesmente.

Entidades como a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) e a WTA (Associação Femina de Tênis) também divulgaram notas condenando a decisão dos organizadores ingleses. Segundo Steve Simon, presidente da WTA, em artigo ao jornal francês “L’Équipe”, nunca um jogador foi impedido de jogar um torneio com base nas ações de seu governo. O mundo do esporte precisa e deve se posicionar em relação a fatos relevantes que afetam a humanidade. Porém, é preciso tomar cuidado para que as ações não tenham um efeito contrário ao que se pretende combater.

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