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Pan 2019

Voluntários brasileiros rodam o mundo por cultura e doação

Grupo veio ao Peru oferecendo força de trabalho que vem do coração e recebe de volta conhecimento e gratidão por onde passam

Voluntários dos Jogos Pan-Americanos
Paulo Chacon/OTD

De repente você está andando pelo Videna, um dos principais centros esportivos de Lima para os Jogos Pan-Americanos, e dá de cara com um tipo parecido, desses que a gente costuma ver pelas ruas das capitais brasileiras. Você estranha, porque ele está uniformizado como voluntário, aperta os olhos para ver melhor e inventa uma pergunta. Bingo! Realmente são brasileiros. Aí vem a segunda dúvida: o que eles estão fazendo aqui?

“Eu pratico turismo, enriqueço meu conhecimento cultural e, no mesmo instante, me doo. Porque ser voluntário é isso. Você trabalhar sem esperar algo em troca. Gosto de exercer a cidadania”, explica Nele Nelson Machado, bibliotecário de 49 anos, residente em Natal, Rio Grande do Norte. Ele faz parte de um grupo que tem como ideal participar, via voluntariado, de eventos de diversas partes do mundo buscando interagir e aprender com as mais diversas culturas.

Ele explica que o voluntário tem o direito a uniforme, alimentação dentro do evento e um cartão de passagem para ele andar na cidade, se deslocar para o seu local de trabalho. As demais coisas, como passagem de avião e hospedagem, são por conta deles próprios. O processo de seleção envolve inscrição, etapas avaliativas eliminatórias e uma entrevista. Se forem selecionados, recebem uma carta-convite.

Voluntários dos Jogos Pan-Americanos

Nele Nelson Machado (Arquivo pessoal)

“A ideia partiu, para mim, da experiência da Fifa 2014. Tive a oportunidade de trabalhar como voluntário e ampliar meus conhecimentos. Daí eu vi que a ideia era boa e pensei: ‘vou conhecer o mundo através desses eventos’, acrescenta Nele Nelson. “Nós procuramos interagir com as pessoas de outros países para praticar idiomas. Em vez de estarmos na sala de aula, nós estamos em um grande evento, tendo a oportunidade de conhecer pessoas de outros países e isso agrega muito valor”.

‘Nos enriquece’

Sua colega Elpídia Almeida acrescenta: “à medida que vai para outro país, você faz uma troca de experiências e uma avaliação de você. Compara o nível desse país e leva para o Brasil o nível de cultura de cada um. Isso nos enriquece como pessoas”, diz a assistente social aposentada de 69 anos.

A experiência no Peru é a quarta dela com este tipo de voluntariado. Começou nos Jogos do Rio, em 2016, e depois foi aos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba e aos Jogos Olímpicos da Juventude, ambos em 2018. Não pensa em parar. “Iremos se Deus quiser para o Japão, nas Olimpíadas de Tóquio, e para a Suíça, nos próximos Jogos da Juventude. “Tóquio é um sonho em termos de educação e desenvolvimento”, diz. “Ser voluntário é uma das melhores experiências do mundo”, completa Elpídia.

Estreante

Jaira Perez, 53 anos, que no Peru tem a sua primeira experiência, também vive intensamente o voluntariado. “É algo muito gratificante em relação ao conhecimento, à história da cidade. Tem intercâmbio entre as pessoas e uma troca cultural. É muito rico”.

O contato com o povo local é uma das partes que mais eles citam como gratificante. “Os peruanos receberam a gente com músicas no aeroporto. Foram super receptivos”, conta Joelza Machado, 51.

“As pessoas daqui agradecem. As torcidas também nos abraçam com alegria. É uma festa. Pedem para tirar foto, querem nosso uniforme, boné, querem levar o tênis”, conta Núria Alves, de 39 anos. “Outro dia estávamos no centro da cidade e quando perceberam que éramos um grupo de brasileiros, viramos atenção turística. Fizeram uma filinha para tirar foto, tiraram a gente para dançar com os locais, porque eles se reúnem na praça e ligam a caixa de som com música típica. Dão muitas dicas de o que visitar, por onde andar, cuidados a tomar. Recomendam que tipo de transporte usar. São cuidadores, estamos nos sentido cuidadas pelos peruanos”, acrescenta. Claro que sempre tem alguns que olham torto, “mas nada do que nos desanime”.

Voluntários dos Jogos Pan-Americanos

(Arquivo pessoal)

E o trampo?

Sobre o trabalho em si, acham a rotina bem tranquila. “Nossas atividades são pré-definidas por uma organização. Cada pessoa ocupa um espaço em determinado local. Quando você domina um idioma de língua estrangeira, é colocado em um lugar. Se não domina, é colocado perto de quem domina”, detalha Natalia de Oliveira, 34 anos.

O grupo, em geral, chegou no dia a abertura dos Jogos Pan-Americanos, em 26 de julho, e fica até meados de agosto. Assim que terminar, “vai começar a organização financeira e de datas para o Japão. Já estamos inscritos e esperando a entrevista e treinamento. Depois a gente espera o convite. Se vier e a gente aceitar, começa a outra etapa, que é a prática, a concretização do plano”, acrescenta Núria.

“Já conhecemos um outro grupo aqui que já está nos puxando para o Japão. Tem um amigo da Suíça, da Inglaterra que a gente conheceu no voluntariado. O grupo só vai aumentando”, fecha Núria Alves.

* Com Paulo Chacon

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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