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Crônicas Olímpicas

Procura-se uma boa história

Os portais se tornaram o Linkedin de atletas, só tem currículo de resultados. Depois, não adianta reclamar que o povo brasileiro não gosta de esporte, pois ninguém lê coisa chata e sem vida.

Divulgação/COB

Sinto angústia quando abro os portais de notícias na parte de esportes olímpicos. Angústia não, a palavra correta é tédio. O jornalismo esportivo está mais chato do que o econômico. Leio mais sobre números, pontos e recordes, do que boas histórias. Os portais se tornaram o Linkedin de atletas, só tem currículo de resultados. Depois, não adianta reclamar que o povo brasileiro não gosta de esporte, pois ninguém lê coisa chata e sem vida. Por isso que o grande Nelson perseguia o “idiota da objetividade”.

Não quero ser chato escrevendo uma crônica chata sobre um assunto chato parecendo textão de Facebook. Quero abrir os olhos dos leitores, porque entramos no caminho sem ida. Até porque é uma autocrítica. Também não é uma defesa ao jornalismo stand-up, que tudo vira piada ou trocadilho para conquistar empatia do público. Como leitor, gosto de ler histórias engraçadas, tristes, espetaculares ou triunfantes. História boa é aquela que pode ser contada nas conversas despretensiosas na mesa de bar.

Eu sei e está mais do que provado que existe vida além do óbvio de resultados. Notícias sobre os diferentes esportes olímpicos são mais do que ganhar ou perder, enviadas pelas confederações em forma de release. Pensa comigo: Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes. Desses, cerca de 30 mil são atletas olímpicos (esse dado não é real, criei para escrever essa crônica), dos quais mais ou menos 500 estão na elite mundial nos diferentes esportes. Será que não existem pelo menos 365 boas histórias para serem contadas durante o ano? Ou faltam novos Nelsons Rodrigues para encontrar e espalhar essas boas novas?

A experiência me ensinou que o tempo é inimigo do bom jornalismo. Quanto mais tempo você tem para escutar as pessoas, descobrir novidades e escrever, melhor ficará o texto. Mas o “tempo” é um produto cada vez mais raro no jornalismo de “tempo real”. Tempo curto, histórias fracas. Tenho a impressão de que os motoristas de taxis e de Uber têm mais histórias boas para contar do que os portais de notícias.

Se o tempo está curto para o jornalista, imagina para o leitor, que cada dia tem menos saco para ler notícias e trocaram os portais pelo feed do Instagram, muito mais interessante por sinal. Desculpe pelo desabafo. Estou meio chato hoje. É que acordei meio filosófico-sociológico e muito sedento por uma boa história.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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