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Vela

Vem a 6ª medalha? Robert Scheidt vai em busca de Tóquio 2020

Aos 45 anos, o bicampeão olímpico e maior medalhista do Brasil na história dos Jogos, Robert Scheidt anuncia retorno em busca da vaga em Tóquio 2020 na classe Laser

Gripado, Robert Scheidt não compete e termina Mundial em 43º
Divulgação

Ele voltou! E voltou com tudo! Nesta terça-feira (05), no Yacht Club Santo Amaro, em São Paulo, o bicampeão olímpico e maior medalhista do Brasil na história, Robert Scheidt anunciou oficialmente o retorno na classe Laser. Com cinco pódios, o atleta tem vontade de sobra no desafio de ir para Tóquio 2020.

“Hoje estamos aqui e gostaria de contar pra vocês, que depois de algum tempo pensando e avaliando… Eu decidi voltar as competições na classe laser. O objetivo é classificar para Tóquio 2020. Até chegar lá tem umas etapas importantes: por exemplo, velejar em alto nível. Eu continuei mantendo o laser como um barco de cada dia. Em nenhum momento fiquei um tempo longe do laser. Esse pensamento veio em setembro/outubro do ano passado quando eu velejei com estrangeiros e meu corpo respondeu bem. No final do ano passado eu participei da Copa Brasil, em Florianopolis e terminei em segundo”, declarou Robert Scheidt.

O calendário terá como primeiro desafio o Troféu Princesa Sofia, em Palma de Mallorca (Espanha), entre 29 de março e 6 de abril. Depois, a Etapa de Hyères  e o Mundial, em Julho

“Estou retomando o treinamento, fazendo a parte física focada nisso. Eu sei que muita gente está surpresa com essa decisão. Muita gente fala da minha idade. Acho que não é impeditivo, mas tem que usar da experiência. Lógico, que a preparação é diferente das outras três olimpíadas da laser. Ainda me divirto muito, prazer, paixão por velejar”, disse o velejador.

Apesar de ter ficado pouco mais de quinze meses “aposentado”, Robert Scheidt seguiu velejando em alto nível na Star e na Laser. Além do vice-campeonato da Star Sailors League Finals, em Nassau, nas Bahamas, em dezembro, o bicampeão olímpico conquistou a medalha de prata na Copa Brasil de Laser em seu retorno à classe que o consagrou com dois ouros em Jogos Olímpicos. Sem uma preparação específica para a competição (estava no Brasil para o Sul-Americano que Star, no qual foi campeão), bateu atletas até 20 anos mais jovens.

“Acredito que posso ser competitivo. Se não nem estaria tentando. Motivação pra trabalhar. Claro, não vai ser fácil. Vai ter altos e baixos. Mas fazer uma campanha enxuta de um ano e meio, com bastante qualidade, vai me dar chance de brigar pela vaga”, finalizou Robert Scheidt.

No histórico, Robert Scheidt tem duas medalhas de ouro olímpicas (Atlanta/96 e Atenas/2004) e uma prata (Sidney/2000) na classe Laser, mais uma prata e um bronze na Star (Pequim/2008 e Londres/2012). É o recordista brasileiro em medalhas em mundiais, com 19 conquistas: 14 de ouro (11 na Laser e 3 na Star), 3 de prata (2 na Laser e 1 na Star) e 2 de bronze (1 na Laser e 1 na Star). Na Rio/2016, terminou na quarta colocação. 

Robert Scheidt desistiu da aposentadoria e vai tentar vaga em Tóquio na classe laser (Divulgação)

Acompanhe a coletiva de Robert Scheidt na íntegra:

Situação física

Não tenho nenhuma lesão que me impeça de fazer o esporte ou que me tire de competições. Claro que depois de tantos anos competindo, uma dor ou outra você acaba tendo, mas é importante você ir vendo a dor que você está sentindo. Com experiência, você vai identificando. Eu fiz treinamentos bem longos. Não tive nenhum problema sério físico, dar tempo do corpo se recuperar e ele voltar. Eu me mantive em atividade em outras categorias, nos períodos que eu podia. Não estou saindo da estaca zero, preciso melhorar lógico, ritmo de competição ir pegando aos poucos de novo.

Financeira e Seleção Brasileira

O COB eu acho que pra esse primeiro evento que eu vou não terei apoio da Confederação e COB. Felizmente, tenho o Banco do Brasil e Rolex e vou por conta própria. Independente de apoio ou não, o calendário que eu passei, eu vou fazer. Se eu for bem, acredito que o COB me chame e aconteça essa conversa. Vai ser uma competição muito difícil, mas independente desse primeiro resultado, eu vou manter o segundo semestre. Eu tive uma conversa e vão analisar a performance, vão sempre ser parceiros. Hoje, existe uma política de apoiar quem tem maior ranking, estou voltando agora e não tenho como exigir nada deles. Deus queira que eu volte a ter um atleta que vai ter apoio completo deles.

Vela de Oceano

Eu acho que, primeiro, as Olimpíadas e essa caminhada para chegar numa medalha muito são coisas que eu me identifiquei muito. Tive que abdicar da vela oceânica para ir para Beijing… Neguei convites. Essas decisões mostram que a olimpíada é o máximo que o atleta pode conseguir… Enquanto eu me sentir competitivo, esse é o meu caminho que me dá mais prazer, é o meu projeto, depende só de mim. No momento que achar que eu não sou mais competitivo, eu vou fazer a migração para esse lado. Os Jogos Olímpicos para mim é o máximo que o atleta pode querer.

America’s Cup

Estou parando com a classe olímpica, por enquanto, eu disse naquela época. Não é fácil entrar na America’s Cup hoje em dia. 50% da nacionalidade do barco. É mais difícil entrar, caso seu país não seja “dono do barco”. Valeu muito ter participado dos últimos projetos. A gente tá falando de um horizonte de um ano e meio, que eu vou ter que me dedicar muito. Depois, eu posso ter dez ou quinze anos na vela oceânica. Talvez não na America’s Cup, que é outro estilo de velejar, outra tática de regata. É diferente do meu perfil como timoneiro, talvez outra função do barco.

Planejamento

Eu acho que vou ter que ter muitos cuidados, principalmente com a recuperação. Muita fisioterapia. Hoje, não tenho nenhuma lesão, que me tire de competição. Tenho o que todos os atletas de alto nível tem. Mais cuidado com a alimentação, sono, hidratação… Vai ser um ponto mais. Ao invés de treinar três horas e meia, vou treinar menos. O mental puxa muito o físico. Vai lidar com dores, inevitavelmente. Você vai ter que lidar com algumas situações, que não é desejável, mas a cabeça conta muito nisso.

Relação de Robert Scheidt com a laser

Eu acho que o laser é o barco do meu biotipo, da minha forma de velejar. Eu sinto que o barco é uma extensão, eu e o barco. Velejo desde os 14 /15 anos de idade, tenho uma relação muito próximo. Envolve muito dos movimentos, saber lidar o barco. A dinâmica sempre foi uma coisa que me atraiu muito. É um barco que a tática de regata conta muito, por ser lento, a tática é diferente. Laser é mais metro a metro, a largada é muito importante. Eu sinto muito prazer em velejar desse barco. Star fosse barco olímpico, eu também tentaria, que eu gosto muito. Estamos aí pra Tóquio, espero surpreender vocês e espero em março, que eu mostre que eu tenho condições sim.

Tóquio 2020

Esse ano é o Mundial e tentar classificar pra Tóquio. Se der certo. Claro, teremos que nos preparar para a raia de lá. Raia que precisa estar pronto pra tudo. Olimpíada você precisa saber lidar com a pressão, imprensa. Irregularidade, o campeão olímpico do Rio, a média era o sexto lugar. A vela precisa de regularidade, numa Olimpíada você precisa manter uma constância.

Desconfiança e Medo

Medo não. Eu sei que quando a gente entra pode dar certo ou não. Quando entrei como favorito, poderia ter terminado em décimo. Medo não tenho. Claro, você não sabe se vai ter sucesso. Mas eu acredito que eu possa ter sucesso. Preciso ficar longe de lesões, eu acho que vou ter chances de brigar com os melhores. Se eu me cuidar, Deus quiser vai dar tudo certo. O mais legal é fazer um projeto desse e saber que você tem as suas chances no final.

Família

A família me apoia muito na decisão. Inclusive, quando pergunto, eles dizem: você tem que fazer. Eles querem me ver velejando e tentando coisas importantes. Acreditam que eu tenho lenha pra queimar, acho que se não fosse assim, eu não faria. Eles vão me acompanhar, torcer por mim.

Tempo fora

Sem dúvida, tem situações que você fica um pouco fora de ritmo. Por exemplo, as técnicas de largada estão cada vez mais difícil, está mais agressivo. Essa situação eu vou ter que melhorar, apurar a minha técnica. Porque eu fiquei longe por um tempo. Eu venho velejando, mas nunca mais com 60  barcos. Eu vou sentir um pouco mais de dificuldade. É uma situação que você só encontra na competição. Esse é um dos pontos, que eu vou ter que ir crescendo ao longo desse primeiro semestre.

Experiência

Acho que a veja tem o fator físico, mas é uma das coisas… Tem que saber regular o barco, ler o vento, estratégias, pressão, lado mental… Eu acho que eu hoje em dia eu sou bem maduro para tomar decisões, porque eu já passei por muita coisa. Eu não vou conseguir sair tirando o top3, mas se chegar top15 já é um bom passo. É tentar ir com calma, não pular etapas e ir crescendo. Mundial eu quero estar velejando em um nível bom.

Robert Scheidt treinador

Primeiro o lado treinador, eu fui pro Mundial meio sem tempo de trabalhar muito com o Jorginho (Jorge Zarif). Só tinha ido em um evento e sabia que não ia dar pra influênciá-lo muito com só um evento. A gente já conversou bastante da minha filosofia, de como eu trabalho, construindo a regularidade. Foi uma semana difícil, com vento muito fraco, ele não largou muito bem. O tempo que passei com ele, acho que foi muito útil, mesmo não sendo o resultado que esperava. Fez um grande ano e acho que ele chega com chances de medalha

Filho

Ele está com 9 anos, jovem ainda. Não quero acelerar o processo dele dentro da vela. Ele tem que viver as coisas, errar muito, perder muito, e aos poucos ir melhorando. Estou feliz de ele ter conhecido o esporte, ter praticando o esporte que a gente tanto gosta. Se um dia a gente chegar nesse problema. Vai estar ótimo, vai ter cumprido nosso objetivo. Eu vou puxar sempre pelo Brasil. Espero que a gente tenha esse problema um dia.

Classificação para Tóquio

A seletiva é só o Mundial 2019 e o Mundial 2020. Não vai ter um evento classificatório. É top15 no Mundial desse ano e ser o primeiro brasileiro. Ou ser top18 no Mundial 2020. Se tirar 10 no Mundial desse ano e outro tirar nono, ele vai. Tem um gatilho também no Top3. Medalhista no evento-teste também classifica. Como eu to voltando agora não tem muito de preferir ou não. Se não conseguir ser top15 esse ano nem top18 no ano que vem. Tem que conseguir chegar nesses resultados. Ir para Olimpíada tem que ir com chances. Estou de acordo com a confederação de levar quem tem mais chance.

Competição mais difícil

Mundial é sempre difícil. A gente pensa top15 é fácil, mas tem quatro australianos, quatro neozelandeses, quatro ingleses. O Mundial é muito mais difícil que a Olimpíada. Acho que você pelo menos tem duas chances. Você pode largar escapado, ter bandeira amarela, quebrar o barco… Não é um Mundial só.

Recordes

Se acontecer ótimo, mas não é minha motivação. Não estou voltando por causa disso. Estou voltando porque é o que me motiva. Não é objetivo final o recorde da sexta medalha. Passa rápido, né?

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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