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Campeãs olímpicas ameaçam ir à Justiça contra ranking de jogadoras da Superliga

Seleção Brasileira feminina de vôlei ouro Olimpíada de Londres 2012

Depois enviar uma carta à CBV na sexta e dar um prazo de cinco dias, que se encerra nesta terça, para uma resposta, um grupo de nove jogadoras, entre elas oito campeãs olímpicas pela Seleção Brasileira, divulgou nesta segunda-feira nota de repúdio ao ranking da CBV, estipulado para tentar dar equilíbrio à Superliga feminina.

A divulgação da nota ocorreu em razão da CBV não ter dado nenhum retorno até agora às jogadoras. As nove atletas que reclamam são justamente aquelas colocadas como atletas de pontuação máxima no ranking. São elas as campeãs olímpicas Dani Lins, Fabiana, Fernanda Garay, Jaqueline, Natália, Sheilla, Tandara e Thaisa. Também assinou o documento a ponteira Gabi, que defende a Seleção Brasileira.

Elas se sentem prejudicadas alegando que o ranking restringe o direito de trabalhar delas. Para a temporada 2017/2018, a entidade não estipula um limite de pontos para as equipes (hoje é de 43), mas permite que sejam inscritas apenas duas jogadoras que tenham a pontuação sete, a máxima, e duas estrangeiras.

“O ranking sempre criou problemas aos atletas, principalmente àqueles com maior pontuação. As limitações impostas pelo regulamento, que por si só, vão de encontro ao interesse das atletas, que são verdadeiras protagonistas dos eventos esportivos, ainda são inconstitucionais, tendo em vista que impõem restrições à liberdade de trabalho das atletas, ao direito de escolha de cada uma, ao livre mercado e força a redução dos salários, o que é inconcebível. É importante lembrar, também, e lamentar, que a opinião das atletas nunca foi ouvida, sequer levada em consideração nas decisões que envolvem o ranking”, diz trecho do comunicado.

“A situação ficará ainda pior na temporada 2017/2018, pois tomamos conhecimento que o novo formato do ranking pontuará apenas nove atletas, as mesmas nove que são pontuadas com sete pontos (pontuação máxima) na temporada atual. Apenas nós estaremos sujeitas às restrições. Nós não poderemos ser contratadas livremente pelas equipes, pois cada time poderá ter apenas duas das nove, ao contrário das demais atletas que serão livremente escolhidas, o que configura clara discriminação e desrespeito”.

O curioso é que das nove jogadoras que assinaram o documento, três atuam fora do país, Natália, Thaisa e Fernanda Garay, enquanto Sheilla decidiu se afastar das quadras depois das Olimpíadas para um ano sabático, mas já planeja a volta.

“O ranking, que já foi alvo de críticas em diversas oportunidades, é uma anomalia que só existe no Brasil, sob o pretexto de se criar equilíbrio na competição. Porém, nunca houve equilíbrio, basta verificar as poucas mudanças nos vencedores da Superliga dos últimos anos. O problema do voleibol brasileiro é estrutural e não adianta tentar corrigi-lo com um ranking que cria um equilíbrio artificial e teórico”, reclamam as atletas, que ameaçam ir à Justiça caso o sistema não seja alterado.

“Se assim as coisas permanecerem, nós seremos prejudicadas sob o frágil e teórico argumento de “equilíbrio do campeonato”. Nós, que defendemos a Seleção Brasileira, que nos destacamos, agora seremos punidas por isso. Não é razoável. Aliás, não há lógica nisso. Queremos ser tratadas de forma igual, sob pena de nos socorrermos ao Poder Judiciária, tendo em vista a clara e manifesta afronta a princípios constitucionais”, diz a nota.

Leia na íntegra a nota de repúdio divulgada pelas atletas nesta segunda-feira:

NOTA DE REPÚDIO ENVIADA À CBV – Confederação Brasileira de Voleibol

Nós, Danielle Rodrigues Lins, Fabiana Marcelino Claudino, Fernanda Garay Rodrigues, Gabriela Braga Guimarães, Jaqueline Maria Pereira de Carvalho Endres, Natália Zílio Pereira, Sheilla Castro de Paula Blassioli, Tandara Alves Caixeta e Thaisa Daher Pallesi, atletas brasileiras de voleibol, prejudicadas pelo ranking adotado pela CBV – Confederação Brasileira de Voleibol – repudiamos o regulamento do ranking votado em 14/03/2017 e imposto para a temporada 2017/2018.

O ranking, que já foi alvo de críticas em diversas oportunidades, é uma anomalia que só existe no Brasil, sob o pretexto de se criar equilíbrio na competição. Porém, nunca houve equilíbrio, basta verificar as poucas mudanças nos vencedores da Superliga dos últimos anos. O problema do voleibol brasileiro é estrutural e não adianta tentar corrigi-lo com um ranking que cria um equilíbrio artificial e teórico.

O ranking sempre criou problemas aos atletas, principalmente àqueles com maior pontuação. As limitações impostas pelo regulamento, que por si só, vão de encontro ao interesse das atletas, que são verdadeiras protagonistas dos eventos esportivos, ainda são inconstitucionais, tendo em vista que impõem restrições à liberdade de trabalho das atletas, ao direito de escolha de cada uma, ao livre mercado e força a redução dos salários, o que é inconcebível. É importante lembrar, também, e lamentar, que a opinião das atletas nunca foi ouvida, sequer levada em consideração nas decisões que envolvem o ranking.

A própria CBV criou a chamada “Comissão de Atletas”, mas esta comissão ligada à própria instituição tem apenas um voto na decisão do ranking. Não é razoável. Se há cerca de 10 clubes votantes, as atletas nunca terão chance contra os demais. Repetimos: não é razoável. Quando a vontade das atletas prevalecerá? Da forma como as coisas estão, jamais!

A situação ficará ainda pior na temporada 2017/2018, pois tomamos conhecimento que o novo formato do ranking pontuará apenas nove atletas, as mesmas nove que são pontuadas com sete pontos (pontuação máxima) na temporada atual. Apenas nós estaremos sujeitas às restrições. Nós não poderemos ser contratadas livremente pelas equipes, pois cada time poderá ter apenas duas das nove, ao contrário das demais atletas que serão livremente escolhidas, o que configura clara discriminação e desrespeito.

Se assim as coisas permanecerem, nós seremos prejudicadas sob o frágil e teórico argumento de “equilíbrio do campeonato”. Nós, que defendemos a Seleção Brasileira, que nos destacamos, agora seremos punidas por isso. Não é razoável. Aliás, não há lógica nisso. Queremos ser tratadas de forma igual, sob pena de nos socorrermos ao Poder Judiciária, tendo em vista a clara e manifesta afronta a princípios constitucionais.

Alem disto, as estrangeiras não serão pontuadas, o que diminui ainda mais as opções das nove brasileiras discriminadas. Vale destacar que em 14/03/2017 a própria CBV divulgou a “Seleção da Superliga” e nela há três estrangeiras: Destinee Hooker, Alexandra Klineman e Branda Castillo. As três são atletas de alto nível e serão escolhidas livremente pelas equipes para a próxima temporada, ao contrário das nove brasileiras pontuadas. Ademais, nesta “Seleção da Superliga” há apenas uma atleta das nove presentes no ranking. Isto mostra que o sistema do ranking não tem critérios claros e não cumpre sua suposta função.

Diante do exposto, exigimos que a CBV tome providência no sentido de extinguir o ranking e parar de interferir no direito de escolha de cada atleta. As atletas precisam ter uma voz independente da confederação e ter peso igual nas votações do regulamento. Se de um lado os clubes pagam os salários, de outro são as atletas dão o espetáculo e atraem o público.

Aguardamos um posicionamento da CBV em até 5 (cinco) dias corridos. Estamos abertas a discutir o assunto para resolver o impasse.

Danielle Rodrigues Lins
Fabiana Marcelino Claudino Fernanda Garay Rodrigues Gabriela Braga Guimarães Jaqueline Maria Pereira de Carvalho Endres Natália Zílio Pereira
Sheilla Castro de Paula Blassioli Tandara Alves Caixeta
Thaisa Daher Pallesi

São Paulo, 16 de março de 2017.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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